Ainda é muito comum, a campo, produtores de leite fazerem listas de fêmeas que devem ser "tocadas" pelo médico veterinário e, quando depara-se com esta condição, insistentemente, pergunta-se: "Quais critérios foram utilizados para estar ou não presente nesta lista?". Curioso é que, de forma esmagadora, ela está ocupada por fêmeas para diagnóstico de gestação, que potencialmente estão gestantes e, deixam, quando confirmadas gestantes, um histórico de longo período de serviço (intervalo do parto ao estabelecimento de uma nova gestação), exatamente como suas companheiras que não serão examinadas em mais uma visita técnica de caráter curativo e passivo à condutas amadoras de um produtor, digamos, desassistido tecnicamente.
Os médicos veterinários que trabalham prestando serviços em reprodução conhecem as doenças e tratamentos reprodutivos mais comuns em rebanhos leiteiros, tais como: anestro, retenção de placenta, infecções uterinas, cisto ovarianos e etc. O que se deseja contemplar é como fazer com que as fêmeas bovinas em idade reprodutiva sejam acompanhadas, preferencialmente, preventivamente para que tenham um bom desempenho reprodutivo?
Alguns rebanhos leiteiros são assistidos por médicos veterinários através de visitas técnicas regulares e sugere-se, na tabela 1 a formação dos "lotes" para exame ginecológico.
Tabela 1. Fêmeas que obrigatoriamente devem ser submetidas a exame ginecológico em visitas técnicas.
Uma breve justificativa de cada lote a ser formado é necessária:
Lote 01 - Fazer exame ginecológico por palpação retal e vaginoscopia ou ultrasonografia, antecipando, ao primeiro serviço, o diagnóstico de doenças hereditárias, congênitas ou adquiridas e também diagnosticando a atividade reprodutiva;
Lote 02 - Fazer exame ginecológico por palpação retal e vaginoscopia ou ultrasonografia. Partos eutócicos ou distócicos garantem a contaminação menor ou maior do aparelho reprodutor, respectivamente, desta forma, acompanhar as fêmeas após cada parto com o útero involuído ou em involução auxilia o diagnóstico de doenças sub-clínicas ou de discreta manifestação clínica;
Lote 03 - Fazer exame ginecológico por palpação retal e vaginoscopia ou ultrasonografia. Acompanhar os resultados de tratamentos executados na visita anterior;
Lote 04 - Fazer exame ginecológico por palpação retal ou ultrasonografia, com acompanhamento da qualidade da observação do estro / atividade reprodutiva e escore de condição corporal, caracterizando de quem é a "culpa de um possível anestro - do produtor ou da vaca?" para a tomada de decisões;
Lote 05 - Fazer exame ginecológico por palpação retal ou ultrasonografia para instituir algum tratamento reprodutivo objetivando intervalo de partos próximo de 12 - 13 meses;
Lote 06 - fazer uso de diagnóstico de gestação o mais preciso e precoce possível, contemplando recursos diagnósticos como o ultrassom ou mesmo a palpação retal.
Ressalta-se que o uso do vaginoscópio é uma opção que aumenta a acurácia no diagnóstico de problemas reprodutivos, porém, torna o exame ginecológico mais demorado, devendo ser considerado o seu uso ou não. Sabe-se que em casos de infecções uterinas onde a musculatura do órgão está acometida, é mais fácil o diagnóstico deste quadro por palpação retal, em contrapartida, quando somente a mucosa do útero está acometida (endometrite), à palpação retal, tem-se uma menor acurácia no diagnóstico, sendo então recomendado o uso da vaginoscopia.
Em todos os lotes formados para exame ginecológico, é imperativo à avaliação do escore de condição corporal, pois consiste em uma ferramenta de manejo extremamente simples e mostra, adequadamente, a condição nutricional do plantel em diferentes momentos produtivos e/ou reprodutivos, permitindo possíveis ajustes no manejo nutricional.
Finalmente, as datas citadas na tabela 1 podem ser modificadas em função de particularidades de cada rebanho, mas o importante é fazer com que todas as fêmeas sejam trabalhadas para reduzirem o número de serviços por gestação, período de serviços e o intervalo de partos.
Muitas vezes, há falhas nas anotações de exames reprodutivos, onde muitos profissionais se limitam a anotar se a fêmea esta gestante ou não, ou utilizam siglas e medidas que não fazem parte da rotina diária, extremamente subjetivas. A tabela 2 mostra algumas siglas que podem auxiliar a escrituração zootécnica de achados reprodutivos por médicos veterinários, reduzindo a subjetividade e criando histórico em exames sucessivos para a maximização da reprodutividade.
Figura 1. Vaginoscopia.
Figura 2. Dupla cervix diagnosticada a vaginoscopia.
Tabela 2. Codificação de achados ou protocolos reprodutivos em fêmeas bovinas de rebanhos comercias.