ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

Glicose sanguínea em ruminantes: Um metabólito crítico para a reprodução de vacas em lactação - Parte 2 de 3

POR RICARDA MARIA DOS SANTOS

E JOSÉ LUIZ MORAES VASCONCELOS

JOSÉ LUIZ M.VASCONCELOS E RICARDA MARIA DOS SANTOS

EM 29/04/2011

6 MIN DE LEITURA

1
0
Este texto é parte da palestra apresentada por Dr. Matthew C. Lucy (Universidade do Missouri, EUA), no XV Curso Novos Enfoques na Produção e Reprodução de Bovinos, realizado em Uberlândia de 17 a 18 de março de 2011.

Para ler a primeira parte do artigo, clique aqui.

Mecanismos que vinculam GH, insulino e IFG1 com a função do ovário

A maioria dos trabalhos que vinculam a nutrição com o crescimento folicular tem como foco o GH, a insulina e o IGF1. As células da granulosa, células tecais e lúteas metabolizam a glicose, mas há poucos trabalhos publicados sobre o papel da glicose na função normal dessas células. O desenvolvimento folicular é controlado por gonadotrofinas hipofisárias (LH e FSH). O controle do desenvolvimento folicular por LH e FSH depende das concentrações dos seus respectivos receptores e, também, da função dos sistemas do segundo mensageiro que, fundamentalmente determinam as respostas celulares. Nas vacas o desenvolvimento folicular começa logo após o parto, com aumento transitório de FSH, uma nova onda folicular e o desenvolvimento de um folículo dominante. A secreção pulsátil de LH determina se o folículo dominante irá ovular, transformar-se em cisto ou sofrer turn-over (falha na ovulação) (Beam e Butler, 1998).

As concentrações de insulina e IGF1 encontram-se inicialmente baixas, mas aumentam gradualmente no pós-parto (Lucy, 2003). Vacas com baixa condição corporal ou vacas que não melhoram sua condição corporal durante a lactação apresentam IGF1 sanguíneo baixo porque seu eixo somatotrópico permanece desacoplado (Lucy, 2007). Nossa hipótese é que as mudanças induzidas pela nutrição na secreção do IGF1 no fígado afetam diretamente o ovário, através das ações endócrinas do IGF1 (Figura 2). As concentrações mais baixas de insulina e IGF1, teoricamente, reduzem a resposta do ovário ao LH e FSH porque há relação sinérgica entre IGF1, insulina, LH e FSH, para o crescimento do folículo (Lucy, 2000; Webb et al., 2004).



Figura 2. O vínculo entre o eixo somatotrópico e a função do ovário em vacas leiteiras. O hormônio do crescimento (GH) é produzido pela pituitária e atua no fígado para provocar a síntese e secreção do IGF1. O IGF1 atua sobre o ovário e, em sinergia com LH e FSH, promove o desenvolvimento do ovário e a produção de esteróides. Os esteróides (estradiol e progesterona) são essenciais para a reprodução normal.

Vacas com balanço energético negativo secretam menos IGF1 em resposta ao GH porque o eixo está desacoplado no fígado. O IGF1 mais baixo pode reduzir a resposta do ovário às gonadotrofinas.

A glicose e a insulina controlam o crescimento do concepto?

Recentemente foi concluído um estudo, no qual as vacas foram ordenhadas normalmente ou não ordenhadas, imediatamente após a parição (Green et al., 2009). As vacas foram inseminadas com aproximadamente 60 dias pós-parto, e o feto e a placenta foram coletados nos dias 28, 35 ou 42. A principal conclusão desse trabalho foi que, para um dia específico de gestação, o feto e a placenta de uma vaca em lactação eram menores que o feto e a placenta de uma vaca fora da lactação. Concluímos assim que a condição metabólica da lactação compromete (desacelera) o desenvolvimento do feto e da placenta. Uma possibilidade seria que essa taxa mais lenta de desenvolvimento levasse à perda embrionária nas vacas em lactação (perdem-se os embriões porque não alcançam as fases de desenvolvimento no seu devido tempo).

Do ponto de vista metabólico, as vacas em lactação diferem das vacas secas. De acordo com nossa análise, e também com o conhecimento atual sobre desenvolvimento fetal e placentário, a glicose e a insulina são os principais fatores que explicam o crescimento mais lento de embriões em vacas em lactação. A glicose é normalmente considerada uma fonte chave de energia para a produção de ATP através da fosforilação oxidativa mitocondrial. Entretanto, no embrião, a glicose é utilizada para a biomassa (nucleotídeos, aminoácidos, lipídeos, etc.) para a formação de novas células. Esse fenômeno recebe o nome de 'Efeito Warburg' e tipifica as células proliferativas. Assim, a glicose é o principal fator que impulsiona o desenvolvimento fetal e placentário.

A insulina pode ter um papel no processo, no sentido que a placenta e o útero expressam Glut4 (transportador de glicose insulino-dependente), embora a literatura geralmente indique que o Glut3 (não insulino-dependente) é o transportador da glicose mais crítico para o desenvolvimento fetal e placentário. Também se encontra na literatura a noção que a capacidade do útero e da placenta para transportar glicose geralmente não limita o desenvolvimento da gestação. Esse conceito está alinhado com os achados de Missouri, onde aparentemente os metabólitos produzidos fora do útero impulsionam o processo de desenvolvimento e crescimento fetal. Reduzir as concentrações de glicose sistêmica utilizando a lactação desacelera o desenvolvimento do feto e da placenta.

O trato reprodutor (especialmente o feto e a placenta) depende do meio metabólico (principalmente a glicose) da vaca. A glicose aparece como um metabólito importante que promove o desenvolvimento embrionário inicial. Acreditamos que baixas concentrações de glicose das vacas no pós-parto podem predispor o animal à perda do embrião porque a placenta poderá não ter o substrato adequado para a criação de novas células (biomassa). Uma placenta incompetente e com desenvolvimento lento poderá comprometer o embrião. Após a morte do embrião a placenta também morre e o corpo lúteo regride.

A glicose é um metabolito crítico para a vaca em lactação e para a gestação. Resulta interessante que seu propósito, tanto na glândula mamária quanto na gestação não é a produção de combustível metabólico (i.e. a glicose não é utilizada para produzir ATP). Na glândula mamária, a maior parte da glicose é utilizada para produzir lactose (açúcar do leite). Da mesma forma, no útero e na placenta, a maior parte da glicose é utilizada para produzir células novas (biomassa).

Assim, tanto para a glândula mamária quanto para a gestação é necessária a presença de glicose. A glândula mamária possui a capacidade de sequestrar grandes quantidades de glicose através do transportador passivo Glut1, diferentemente dos dois transportadores passivos Glut 1 e Glut3 utilizados pelo útero e a placenta. De qualquer forma, a disponibilidade de glicose aparentemente também impulsiona a capacidade de produção de leite. Em nosso ensaio, as concentrações de glicose no sangue durante o primeiro mês pós-parto eram inferiores em vacas que não ficaram prenhes na primeira inseminação (aproximadamente 60 días após o parto). Foi interessante observar que essas mesmas vacas, com níveis mais baixos de glicose no sangue, também apresentaram produção mais baixa de leite. Com base nesses dados, aparentemente a capacidade da vaca para produzir glicose através da gliconeogênese no fígado determina sua capacidade para produzir leite porque a glicose é necessária para a síntese da lactose. A capacidade de produzir glicose pela gliconeogênese também pode determinar a capacidade da vaca de ficar prenhe porque, tanto a glândula mamária, quanto a gestação competem pelo mesmo substrato crítico (glicose).

A glândula mamária tem prioridade para a glicose, mas nem ela nem o útero/placenta tem a capacidade de concentrar glicose através de um transportador de glicose. Se isso for verdadeiro, por que a glândula mamária teria prioridade? Nossa hipótese é que o maior fluxo sanguíneo para a glándula mamária determina sua maior capacidade para extrair glicose da circulação. O útero perde a batalha pela glicose porque seu fluxo sanguineo e capacidade para extrair glicose do sangue durante período inicial da gestação é menor que o fluxo sanguíneo e a capacidade da glândula mamária para extrair glicose.

Acreditamos que existe uma 'Barreira de Glicose' para o estabelecimento precoce da gestação. De acordo com os argumentos apresentados acima, como poderíamos transpor a 'Barreira de Glicose'? A primeira solução óbvia seria maximizar a saúde hepática dos animais em transição, de forma que o fígado tenha a capacidade de gerar glicose (o tecido hepático sadio deveria produzir mais glicose via gluconeogênese). Essa é a estratégia utilizada e comerzializada por algumas companhias (Colina rúmen protegida, por exemplo). A segunda possibilidade seria manipular a curva de lactação de forma que a disponibilidade de glicose fosse maior durante a fase inicial da lactação.

RICARDA MARIA DOS SANTOS

Professora da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia.
Médica veterinária formada pela FMVZ-UNESP de Botucatu em 1995, com doutorado em Medicina Veterinária pela FCAV-UNESP de Jaboticabal em 2005.

JOSÉ LUIZ MORAES VASCONCELOS

Médico Veterinário e professor da FMVZ/UNESP, campus de Botucatu

1

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

ANDREA RODRIGUES CASELLI

CATANDUVA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 04/05/2011

Parabéns pelo artigo. Muito bom mesmo!!!

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do MilkPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

MilkPoint Logo MilkPoint Ventures