Fiz um treinamento de fevereiro a março de 2018, nas fazendas leiteiras Ruann and Maddox Dairy, localizada em Riverdale, Califórnia, Estados Unidos. Essas fazendas são um exemplo de como aproveitar os benefícios da seleção genômica. Elas fazem seleção genética tradicional desde 1960, usam de transferência de embriões desde 1980 e começaram a fazer a seleção genômica em 2015. Elas ordenham aproximadamente 4500 vacas nas duas fazendas, e possuem um laboratório próprio, comandado pela Dra. Daniela Demétrio, onde são produzidos embriões in vivo e in vitro.
As fazendas Ruann and Maddox Dairy possuem o maior rebanho registrado de gado Holandês dos EUA. Já produziram mais de 1500 vacas classificadas como excelente e mais de 10.000 classificadas como muito boas. Nos últimos três anos, 100% das bezerras nascidas são avaliadas genomicamente. Até agora já foram identificadas mais de 400 fêmeas com TPI genômico maior que 2.500, e 100 com TPI genômico maior que 2.700. No cálculo do TPI as características produtivas contribuem com 46%, as características de saúde e fertilidade com 28% e as características de conformação com 26%. O TPI é o índice mais utilizado nas avaliações americanas.
Apesar do uso intenso da seleção genômica, as fazendas Ruann and Maddox Dairy ainda produzem animais para tipo, pois participam anualmente de cinco exposições nos EUA e uma no Canadá.
No laboratório de produção de embriões in vivo e in vitro são produzidos aproximadamente 8.000 embriões por ano, dos quais 70% são para uso próprio e o restante para venda. O laboratório tem o certificado da Associação Americana de Transferência de Embriões (AETA) e Ministerio da Agricultura Americano (USDA) para exportar embriões para todos os países do mundo. São exportados 500 a 2500 embriões por ano.
As doadoras das fazendas são as novilhas (maiores de 8 meses até 120 dias de gestação) e vacas de alto TPI genômico. Para a inseminação e fertilização in vitro é usado sêmen de touros jovens também de alto TPI genômico. Nos últimos anos, 80% dos touros usados nas inseminações do rebanho também são touros jovens genomicamente testados.
As melhores vacas e novilhas são inseminadas com sêmen dos melhores touros disponíveis no mercado das diversas empresas de sêmen (Select Sires, Semex, ABS, ST, etc). Aproximadamente 15 touros Ruann, testados genomicamente são selecionados por ano e o sêmen é coletado e as demais vacas do rebanho são inseminadas com sêmen desses touros.
Além dessas doadoras, as fazendas têm um grupo de aproximadamente 100 doadoras secas, com avaliação acima de 89 pontos, pelo menos 3 a 4 boas lactações, e com pelo menos 3 a 4 gerações de vacas muito boas ou excelentes. Se essas vacas não respondem bem ao protocolo de superovulação 2 a 3 vezes, elas saem do programa de produção in vivo, e se forem geneticamente importantes, elas entram no programa de produção in vitro de embriões. Essas doadoras secas são superovuladas e coletadas a cada 45 a 70 dias, com a vantagem de que elas continuam produzindo embriões durante o verão e o início do outono.
As receptoras dos embriões nas duas fazendas são divididas em dois grupos de fêmeas. As novilhas que não estão entre os 10% top em TPI genômico e tipo são usadas como receptoras. Elas recebem embrião no primeiro ou segundo serviço (recebem 75% dos embriões transferidos, sendo 50% produzido in vivo e 50% in vitro). Nas novilhas receptoras apenas cio natural é utilizado. A observação de cio é feita baseada no uso do sistema de marcação com bastão na base da cauda.
O outro grupo de receptoras são as vacas em lactação (recebem 25% dos embriões transferidos, sendo 90% produzido in vivo e 10% in vitro). Durante todo o ano, vacas de primeira lactação no primeiro serviço, que não estão entre os 10% em TPI genômico e tipo, recebem embrião, após o protocolo Presynch-Ovsynch. Durante o verão as vacas de 2ª. e 3ª. lactação também recebem embrião no primeiro serviço. Isso é feito devido ao fato de que durante o verão, a taxa de concepção média anual que é de 40% cai para 25%, e a concepção após a transferência de embrião no mesmo período se mantém.
A maioria dos embriões transferidos em vacas em lactação são produzidos in vivo. Eles tentam transferir o máximo possível de embriões frescos nas vacas. O desafio agora é saber se os embriões produzidos in vitro, cumprem o papel de manter a taxa de concepção após transferência em vacas em lactação, no verão. Atualmente, a Dra. Daniela Demétrio tem conseguido bons resultados com as transferências de embriões produzidos in vitro, usando as vacas em lactação como receptoras, porém para se obter boa taxa de concepção, a avaliação da qualidade dos embriões deve ser muito rigorosa.
Tabela 1. Resultado das transferências, em vacas de primeira lactação no primeiro serviço, de embriões frescos ou congelados produzidos in vivo em vacas secas ou em lactação, de acordo com a sincronia, nos anos de 2007 a 2017 nas fazendas Ruann and Maddox Dairy.
Tabela 2. Resultado das transferências, em novilhas receptoras, no primeiro e segundo serviço, de embriões frescos ou congelados produzidos in vivo (doadoras novilhas, vacas em lactação ou secas), de acordo com a sincronia, nos anos de 2007 a 2017, nas fazendas Ruann and Maddox Dairy.
Com a produção de embriões in vitro eles também têm conseguido bons resultados. Em média são produzidos 4,7 embriões por aspiração. O resultado de concepção dos embriões produzidos in vitro transferidos fresco está 10% abaixo dos resultados dos embriões produzidos in vivo. O desafio agora é conseguir o congelamento dos embriões produzidos in vitro para transferência direta, pois para a rotina intensa da fazenda é o único método viável. Até agora os resultados têm sido muito variados por doadora.
O fruto desse trabalho intenso de produção de embriões de animais com alta classificação para tipo por mais de 50 anos e a incorporação da avaliação genômica na seleção das doadoras nos últimos 4 anos, é que hoje a fazenda já tem 12 animais com TPI genômico acima de 2.800, e mais de 250 gestações confirmadas com TPI genômico médio dos pais acima de 2800.