Nas fêmeas bovinas, exceto em condições de stress muito intensos, a taxa de fertilização é bastante alta, sendo em média de 90%, ou seja, desde que existam espermatozóides viáveis presentes na tuba uterina, quando da ovulação, cerca de 90% desses óvulos serão capazes de formar um embrião.
Analisando a diferença entre a taxa de fertilização e a taxa efetiva de prenhez aos 30 dias de gestação (possível através da ultra-sonografia), percebemos claramente que o período crítico em que acontece a maioria das perdas embrionárias se dá entre os dias 16 a 18 após a ultima ovulação.
Esse período crítico é denominado de período de reconhecimento materno da gestação, onde, através de um mecanismo fisiológico, o concepto bovino se alonga de modo extraordinariamente rápido no corno uterino, ocupando todos os receptores de ocitocina contidos no endométrio e, ao mesmo tempo, deve ser capaz de liberar uma quantia adequada de Interferon δ, de modo a inibir a produção de PGF 2α uterina, evitando a luteólise e mantendo a gestação.
Para ser capaz disso, o embrião deve encontrar um meio adequado no endométrio uterino para que seu crescimento seja rápido, pois, do contrário, com crescimento abaixo do necessário, a luteólise e a posterior reabsorção embrionária será inevitável.
Pesquisas recentes demonstram que alguns fatores influenciam no ambiente uterino, determinando diminuição das taxas de reabsorção embrionária.
O primeiro fator relevante é o nível sanguíneo de progesterona circulante durante o período entre a ovulação e o reconhecimento materno da gestação. Existe uma correlação direta entre maiores níveis de progesterona e melhora do ambiente uterino e taxa de crescimento embrionário, resultando em melhor reconhecimento materno e melhora da prenhez.
Dessa forma, uma das estratégias para diminuir a reabsorção embrionária precoce é utilizar mecanismos capazes de aumentar a concentração de progesterona entre a ovulação e o período crítico.
Existem hoje algumas estratégias hormonais capazes de promover isso, como:
- A indução de um corpo lúteo acessório, fazendo ovular o folículo dominante da primeira onda após a ovulação. Isso se faz aplicando uma dose de GnRH, de hCG ou de LH, do 5º ao 8º dia após a ovulação. Com essa manobra, no período crítico, teremos 2 corpos lúteos trabalhando, melhorando os níveis de progesterona e o crescimento do concepto.
- A utilização de eCG (Gonadotrofina coriônica eqüina), em protocolos de sincronização da ovulação, também é capaz de induzir a formação de um corpo lúteo muito mais produtivo em relação à progesterona, comprovadamente diminuindo a reabsorção embrionária precoce.
Outros mecanismos também passíveis de diminuir a reabsorção embrionária se baseiam na inibição da luteólise, sendo possível citar:
- A utilização de anti-inflamatórios não esteroidais potentes no período crítico pode diminuir a capacidade uterina de produzir PGF 2α e diminuir a luteólise precoce.
- Dietas ricas em ácidos graxos Omega 3 e Omega 6 (Óleo de peixe, por exemplo), promovem uma mudança na cadeia de degradação do acido araquidônico, provocando a síntese de PGE (que não é luteolítica) ao invés de PGF 2α.
E finalmente, existe um outro mecanismo comprovadamente eficaz para evitar a perda embrionária precoce, que é:
- A utilização de BST (hormônio do crescimento), no período entre a ovulação e o período crítico, que atua sobre o embrião acelerando seu crescimento, de modo que durante o reconhecimento materno da gestação o concepto ocupe adequadamente o corno uterino e secrete altos níveis de Interferon δ, inibindo a luteólise e a perda da gestação.
Todos esses mecanismos são comprovadamente eficazes na diminuição da perda embrionária precoce, são testados por pesquisadores americanos e brasileiros e vários deles estão em utilização rotineira no campo, em programas de Inseminação em Tempo Fixo (IATF), em programas de transferência de embriões (TE) e em propriedades leiteiras que trabalham com vacas de altíssima produção, situações onde, devido ao alto valor dessas prenhezes, a utilização dessas técnicas gera um alto benefício econômico.