José Luiz Moraes Vasconcelos
Os cisto ovarianos são classificados em três tipos: folicular, luteal e cístico. O folicular e o luteal são patológicos e associados com infertilidade. Os cistos foliculares são descritos como estruturas de parede fina, podendo ser um ou vários, com ausência de corpo lúteo (CL). Vacas com cistos foliculares podem mostrar sinais constantes de estro, períodos irregulares de estro ou anestro. Os cistos luteais são descritos como estruturas de parede mais espessa, geralmente únicos e com ausência de CL. As vacas geralmente se encontram em anestro, já que o hormônio predominante produzido por esse tipo de cisto é a progesterona.
O outro tipo de cisto é o CL cístico, muitas vezes confundido com cistos foliculares ou luteal. Eles se formam após a ovulação e são caracterizados por cavidades de tamanho variado dentro do CL normal. Essa condição não é patológica e não afeta a fertilidade.
Cistos são uma importante causa de infertilidade em vacas de leite, podendo causar aumento do intervalo parto-concepção, e consequentemente do intervalo entre partos. Tem sido estimado que o cisto ovariano ocorre em 7 a 13% das vacas de leite, durante o pós parto. Mais de 70% dos cistos ovarianos ocorrem entre 16 a 50 dias após o parto com ocorrência mais alta entre os dias 30 a 40 do pós-parto. No período antes dos 16 dias e após 50 dias do parto a incidência é baixa, e entre os dias 40 a 50 a incidência é moderada, embora também possa ocorrer em vacas com maior número de dias pós-parto.
Muitos fatores são relacionados com o desenvolvimento do cisto ovariano, mas a causa exata não é bem conhecida. Eles são comuns em vacas velhas e vacas de alta produção. Muitos estudos têm reportado que a ocorrência de cistos está ligada a fatores como saúde do animal, nível de produção, cruzamento, tipo de manejo (alimentação e instalações), clima, estação do ano e outros fatores ambientais. Ocorrem mais em vacas que tiveram problemas pós-parto (metrite, retenção de placenta, febre do leite). A alta produção esta relacionada com a formação dos cistos, mas não esta clara se ela é o fator desencadeador da formação. Existe predisposição genética para a ocorrência de cistos, e a pressão de seleção para vacas de alta produção pode estar selecionando vacas com maiores chances de desenvolver cistos.
O diagnóstico é feito baseado no grau de luteinização da estrutura. A diferenciação por palpação retal é difícil e às vezes impossível, segundo alguns autores. A dosagem de progesterona (P4) no plasma ou no leite pode ajudar a diferenciar os dois tipos de cistos, e a sensibilidade da ultra-sonografia pode ser de 91,5% para diagnosticar cisto luteal e de 70% para cisto folicular. Porém, muitas vezes as vacas apresentam estruturas grandes nos ovários, semelhantes a cistos, que são afuncionais.
Portanto o diagnóstico tem que ser baseado no histórico reprodutivo do animal. Anestro, estro constante, intervalo entre estros irregulares (curtos ou longos) são comuns em vacas com cisto folicular. Vaca com cisto folicular crônico apresenta relaxamento dos ligamentos pélvicos e constante descarga de muco pela vulva.
O histórico predominante das vacas com cistos luteais é o anestro, e elas não apresentam os sinais de cisto crônico.
Baseado no diagnóstico, deve-se fazer a opção do tratamento a ser utilizado.
O desenvolvimento do cisto parece estar associado como um desbalanço endócrino envolvendo o eixo hipotálamo-hipófise-gonadas. Muitos fatores específicos como excesso de hormônio folículo estimulante (FSH) e inadequado LH tem sido associados com a formação de cisto. A glândula pituitária de vacas com cisto é capaz de responder ao hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) liberando LH, que faz com que ocorra a ovulação ou luteinização do cisto. O mecanismo de "feedback" positivo do estrógeno que normalmente induz a onda pré-ovulatória de LH, parece estar alterado em vacas císticas.
O tratamento do cisto vai depender se ele é folicular ou luteal. Se ele for folicular o objetivo é luteinizá-lo com tratamento com gonadotrofina coriônica humana (hCG) ou com GnRH, visando induzir uma onda pré ovulatória de LH. Esses tratamentos parecem ter sucesso em 80% dos casos. A prostaglandina F2a(PGF2a) causa lise do cisto luteal ou do cisto folicular luteinizado 7 dias após o tratamento com GnRH ou hCG. Recentes estudos sugerem o tratamento com GnRH mais implante vaginal de progesterona, seguido de aplicação de PGF2a perto do fim do tratamento com progesterona (7º dia), com bons resultados.
Contudo, é difícil avaliar, com critério, o sucesso do tratamento, pois grande número da vacas tem recuperação espontânea, principalmente vacas com menos de 60 dias pós-parto, e as que não respondem a dois tratamentos consecutivos com GnRH, geralmente tem prognóstico ruim.
No próximo radar discutiremos alguns resultados obtidos no Brasil.
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fonte: MilkPoint