Com a participação de 85 fazendas, o MilkPoint traz ao setor um novo e importante dado para análise da eficiência econômica do rebanho. A RMCA (Receita Menos Custo de Alimentação) é uma medida simples de se obter e muito representativa para um panorama do retorno da atividade. A medida que os dados mensais são colocados, será possível acompanhar não só a situação do rebanho de quem participa, como também da média dos rebanhos acompanhados.

Os participantes do levantamento inseriram seus dados (produção média/vaca/dia, custo de alimentação/vaca/dia, preço líquido recebido pelo litro de leite e porcentagem de ingestão de matéria seca proveniente do pasto) e receberam por e-mail a RMCA calculada, que é obtida da seguinte maneira:
 


No entanto, como a produção de leite é uma atividade bastante heterogênea, na qual existem diversas formas de alocar os recursos, alterando tanto a receita quanto as despesas, também foi perguntado aos participantes qual a porcentagem de ingestão de matéria seca proveniente do pasto. Tal questão torna-se relevante pois à medida que a ingestão de pasto na dieta aumenta, o custo de alimentação por litro tende a ser menor. Por outro lado, a produção também cai, de forma que nem sempre a melhor RMCA é obtida em sistemas a pasto.

A maior parte dos participantes é proveniente da região Sudeste, com 36 participantes (42% do total de respostas). A região Sul também teve expressiva participação, sendo responsável por 35% das respostas, com 30 participantes.

Entre os participantes, a produção média/vaca/dia foi de 18,9 litros,com custo diário de alimentação médio de R$7,91 e média de porcentagem de MS proveniente do pasto de 32,4%. O número nos parece excessivo especialmente para essa época do ano, ainda que 35% dos participantes sejam da região Sul, provavelmente tendo acesso a pastagens de inverno.

A RMCA calculada para o mês de junho entre os participantes da pesquisa foi de R$11,61/vaca/dia. Para efeito de comparação, o IOFC (Income Over Feed Cost) de junho, uma espécie de RMCA americano, foi de US$6,85, o que equivale a R$14,08 utilizando taxa de câmbio de junho.

O gráfico abaixo apresenta a dispersão dos valores obtidos no levantamento, comparando o RMCA com a produção diária por vaca. Fica clara a tendência de aumento do RMCA quanto maior for a produção diária obtida. 48 fazendas tiveram RMCA abaixo do valor médio, enquanto as outras 37 ficaram acima da média.



O R²(coeficiente de determinação) da regressão linear entre RMCA e Produção Diária, que é uma medida estatística utilizada para analisar o ajuste da série de dados ao modelo utilizado, foi de 0,75, o que indica que há grande influência entre RMCA e Produção Diária.

É interessante lembrar que a RMCA capta o custo de alimentação, mas não os demais custos. É possível que uma fazenda com RMCA mais elevado tenha lucro por vaca mais baixo caso os demais custos sejam mais elevados do que outra que tenha um RMCA mais baixo.

Um dado importante a ser observado é a questão referente à quantidade de matéria seca proveniente do pasto. 54% dos participantes preencheram este dado, que é opcional. Para um início de análise, tendo em vista que o levantamento ainda está em seu começo, separamos esta categoria em dois grupos: propriedades com animais que ingerem até 50% de matéria seca no pasto e aquelas com mais de 50% da matéria seca originária do pasto.




No Brasil, não é comum classificar os tipos de sistema com base na inserção de pasto na dieta, de forma que é um dado que teremos de aprender a lidar e usar com o tempo. Na Nova Zelândia, a % de ingestão de MS via pasto é o que define os sistemas.

Pelos dados, é nítida a diferença entre o RMCA de cada faixa: enquanto as propriedades com até 50% de MS oriunda do pasto tiveram, em média, RMCA de R$13,30, a outra faixa, composta por propriedades com mais de 50% de MS proveniente do pasto obteve RMCA de R$10,43, diferença de 21,5%.

Por se tratar apenas do primeiro dado, nada podemos inferir a partir destes resultados. É preciso continuidade no levantamento, de forma que possamos analisar o comportamento do RMCA frente às diversas variáveis que afetam o mercado, como o preço, custo dos grãos, competição com produtos externos, tarifas e demais itens.

Uma possível causa dessa diferença entre as faixas é a situação atual do mercado, no qual temos preços de leite elevados e de grãos em baixa, o que favorece aqueles produtores com sistema mais intensivo, no entanto, como já mencionado no parágrafo anterior, um único dado é muito pouco para podermos fazer uma análise concreta.

No futuro, pretendemos especificar ainda mais as análises, inserindo mais faixas de análise de MS proveniente de pasto, separando as análises por região demográfica e fazendo comparações com os diversos aspectos que influem na atividade leiteira.

O Projeto RMCA MilkPoint continua, você já pode inserir os dados referentes a julho até o final de agosto no formulário abaixo! Participe você também!