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Produzir leite, quanto custa?

ESPAÇO ABERTO

EM 13/07/2001

7 MIN DE LEITURA

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Renato Fonseca

Todos nós que produzimos leite sabemos que calcular o seu custo de produção não é tarefa das mais simples. Nesses tempos em que a economia de mercado transformou-se numa espécie de religião, a cujo credo a maioria se diz praticante assídua, mas cuja prática se distancia muito do discurso, todos queremos saber exatamente quanto custa produzirmos o leite nosso de cada dia.

Quando partimos para o cálculo desse custo, de saída nos deparamos com uma pergunta óbvia: que método iremos utilizar? Os produtores, em geral, têm conhecimento limitado da ciência da contabilidade. A situação se complica sobremaneira quando produtores que utilizam diferentes sistemas de produção, que possuem escalas de produção diversas, e que utilizam métodos distintos para calcular seu custo de produção (e nem sempre de forma correta...) começam a comparar resultados entre si. Quando isto ocorre, temos os ingredientes perfeitos para uma verdadeira salada mista, que tem mais potencial para confundir do que para esclarecer. Quando participo destas conversas, raramente chega-se a resultados conclusivos. Consenso geral, só mesmo quanto a baixa remuneração da atividade, pois o saldo no Banco é que dá o veredicto definitivo sobre o custo de produção.

Para não incorrer no equívoco que acabo de citar, tentarei esclarecer a qual tipo de sistema de produção de leite estarei fazendo referência no restante desse artigo. Refiro-me à produção de leite no Sul de Minas, com escala próxima de 1.000 litros/dia de leite B, com coleta a granel e gado holandês PO e PC. O volumoso principal é a silagem de milho para todo o gado, durante o ano inteiro. O concentrado é fornecido, para as vacas em lactação, de acordo com a produção - os animais são divididos em dois ou três grupos: recém-paridas e/ou alta produção, adiantadas e/ou baixa produção, novilhas de primeira cria. A quantidade de concentrado fornecida também é função do preço recebido pelo leite e do custo do concentrado. Quando tudo está correndo normalmente, consegue-se atingir uma média geral de 25 litros/dia durante o inverno e de cerca de 21 litros/dia no verão, com utilização de BST. As instalações mais comuns são cochos cimentados e cobertos, com piquetes para descanso do gado. Alguns produtores possuem instalações do tipo free-stall. O intervalo entre partos situa-se em cerca de 14 a 15 meses e a incidência de problemas metabólicos é minimizada através de boas práticas de manejo. A mamite é o grande vilão do sistema, seguida pelos problemas de casco e da infertilidade nos meses quentes e úmidos do verão.

Continuando a definição do sistema de produção; utiliza-se inseminação artificial, com doses de sêmen de bons touros jovens importados. Faz-se o desmame precoce das bezerras (60 dias) e cria-se as novilhas em basicamente dois sistemas: acelerado, visando cerca de 750 gramas de ganho de peso médio diário, e moderado, utilizando-se ao máximo as pastagens, com ganho de peso de cerca de 500 gramas por dia. As novilhas são inseminadas com cerca de 350 kg de peso no sistema acelerado, entrando no curral com idade entre 24 a 28 meses.

Quero deixar bem claro que a descrição acima é apenas um resumo de um dos sistemas de produção representativo do criatório de gado leiteiro do Sul de Minas. Não estou defendendo ou criticando o sistema, apenas descrevendo-o, objetivando situar o leitor na discussão que virá, que trata de idéias para calcular adequadamente o custo de produzir leite e de como organizar racionalmente as discussões a esse respeito.

De início, considero apropriado trabalhar com dois centros de custos: 1- vacas em lactação e secas e 2- animais jovens. Vamos nos concentrar no grupo de vacas do rebanho. Para simplificar, vamos calcular apenas os custos operacionais desembolsáveis efetivos, ou qualquer nome que se queira dar ao somatório dos custos, excluindo-se a depreciação de equipamentos ou de instalações e o custo da terra. Acho interessante iniciar pela enumeração das principais categorias de custo: alimentação, mão-de-obra, reposição do plantel, produtos veterinários, produtos de higiene e limpeza, despesas com manutenção de equipamentos, energia elétrica e combustível. O passo seguinte consiste em enumerar os principais itens de cada categoria, por exemplo, na categoria alimentação, teríamos silagem, feno e concentrado como itens principais.

Antes de prosseguir, gostaria de fazer um parênteses para comentar algo importante. Quando se começa a fazer cálculos de custos, depara-se logo com um problema, que chamaria de "síndrome do encadeamento". Procurarei esclarecer melhor, utilizando, ainda, a categoria alimentação como exemplo: para calcular o custo da alimentação, preciso do custo da silagem, que por sua vez, envolve várias etapas, desde o preparo da terra até a ensilagem do milho e, posteriormente, as perdas por diversos fatores e os juros sobre o capital imobilizado no estoque de silagem. O grau de detalhamento do cálculo dos custos não pode ser demasiadamente simples, deixando de fora aspectos importantes, até mesmo essenciais; mas também não pode ser exageradamente complexo, perdendo-se em meandros de importância muito reduzida no cômputo geral. A virtude do equilíbrio só será alcançada na medida em que se praticar a arte de calcular os custos. Deve-se tomar cuidado redobrado, também, com a utilização pouco criteriosa do chamado custo de oportunidade. Por exemplo, alguns defendem que se deva utilizar o preço da silagem fornecida por terceiros como preço de custo da silagem produzida na fazenda, pois aquele seria o "preço de mercado". Se estou querendo calcular o custo da atividade de produzir leite, num determinado sistema de produção, este método é justificável. Porém, se desejo, efetivamente, calcular o meu custo de produzir leite, devo sempre procurar utilizar os custos que efetivamente incorri para produzir a silagem. Isto também é válido para os demais custos.

A tabela abaixo procura ilustrar, de forma simples, o cálculo do custo de produção mensal em um retiro que adota o sistema de produção brevemente descrito acima. A tabela não pretende englobar todos os custos de forma precisa, mas servir de base para discussão e comparação de custos de produção entre produtores que adotam sistemas semelhantes. Ou seja, o que se pretende é elaborar uma planilha de custos simples e consistente, que permita uma comparação entre produtores semelhantes. Em consequência, a discussão resultante será racional e elucidativa, ajudando o processo de tomadas de decisão a curto e longo prazos. O resultado final, seja de dispêndio mensal, ou de custo de produção por litro de leite, não deve ser tomado como um valor absoluto, mas como um valor de referência.

Tabela 1 - Custo de produção mensal em retiro com 40 vacas, sendo 35 em lactação, nos meses de inverno (temperatura amena e baixa umidade relativa do ar). As diferentes médias de produção refletem a diferenciação genética entre rebanhos ou as diferenças de manejo e de eficiência gerencial

Tabela 1


Cabem algumas explicações adicionais, para que a tabela seja melhor compreendida pelos leitores. A tabela foi baseada num rebanho de 40 vacas, sendo 35 vacas em lactação e 5 vacas secas. A taxa de reposição utilizada foi de 30% e no cálculo do custo de reposição levou-se em conta o custo de criação dos animais de reposição menos o valor de descarte para abate dos animais que deixam o plantel. Estimou-se em R$ 1.200,00 o custo de se criar uma novilha e em R$ 500,00 o valor de uma vaca para descarte. Lembre-se que o capital de giro necessário para manter na fazenda todos os animais da recria é superior ao custo de reposição indicado na tabela. Um aspecto muito importante: os números refletem os custos durante o inverno, quando a média de produção é maior, intensifica-se o uso de concentrado e, geralmente, há maior número de animais recém-paridos no rebanho. Não nos esqueçamos que os custos de depreciação dos equipamentos e das instalações não estão incluídos nos cálculos, nem a remuneração do investidor.

Diante desse quadro, cabe a pergunta óbvia: tirar leite hoje, nesse sistema, é um bom negócio? A resposta a essa pergunta ensejaria uma outra discussão, que ficará para uma próxima oportunidade. Porém, para não deixar a pergunta sem uma resposta, ainda que preliminar, diria que pode ser um negócio viável desde que o produtor opere com auto grau de eficiência e desde que o preço médio do leite durante o ano mantenha-se em valores superiores ao patamar de R$0,45 por litro. Em outra palavras, a margem para erros é mínima por parte do produtor para que o leite seja um bom negócio.

O intuito deste modesto artigo foi o de colaborar na discussão do negócio leite, procurando enfatizar que as diferenças entre os vários sistemas de produção, entre as diversas escalas de produção e entre as diferentes regiões do país, têm que ser levadas em consideração em qualquer discussão séria sobre o assunto. Por fim, gostaria de salientar que a elaboração de uma planilha de custos, nos moldes daquela descrita acima, pode auxiliar muito o produtor no processo de tomada de decisões no seu negócio. Se calcular os custos pode ser complicado e polêmico, não fazê-lo seria um erro crucial. Entretanto, fazê-lo de forma equivocada poderá resultar em decisões desastrosas para o negócio.

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PEDRO XAVIER DE JESUS

SANTO ANTÔNIO DO DESCOBERTO - GOIÁS - ESTUDANTE

EM 07/07/2022

Dar uma noção boa. Valeu. Se for possível envia a Planilha por gentileza. romulofeeu@gmal.com
EZEQUIE RODRIGUE DE OLIVEIRA

RIO BRANCO - ACRE - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 19/04/2021

GOSTARIA DE RECEBER UMA PLANILHA DE CUSTOS DE PRODUÇÃO DE LEITE EM FORMATO EXEL
MEU EMAIL E EZEQUIEL_AC@HOTMAIL.COM
CELSO ADRIANO DE OLIVEIRA

TAPEJARA - PARANÁ

EM 06/01/2020

Muitas hipótese e possibilidades, gostaria que fosse mais direto, levando em conta aqueles que querem as coisas nos mínimos detalhes, e aqueles que preferem o aproximado, já que na prática a teoria é outra
DANILO MACHADO CAETANO

PIUMHI - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 20/09/2019

Ate hoje não recebi a tabela como faço para recebe-la por favor dmcmedivet@yahoo.com.br
NELSON ANTUNES ROSA NETO

RIO VERDE - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 16/09/2019

Mande a tabela nelson_8311@hotmail.com
GABRIEL RODRIGUES

PELOTAS - RIO GRANDE DO SUL - ESTUDANTE

EM 05/09/2019

Olá, ótimo artigo, também gostaria de receber a tabela, meu email é Gabriel.longorodrigues@yahoo.com.br
VICENTE CASTRO

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 12/08/2019

Muito bom o artigo, entretanto gostaria de receber a Tabela 1.
Obrigado,
vpcastro51@yahoo.com
VICENTE CASTRO

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 12/08/2019

E onde encontro a Tabela 1? Por favor, disponibilizem o link.
Meu e-mail: vpcastro51@yahoo.com (Vicente Castro).
Obrigado.
ACS SERVICOS

SÃO MIGUEL DOS CAMPOS - ALAGOAS - ESTUDANTE

EM 04/08/2019

GOSTARIA DE RECEBER UMA PLANILHA DE CUSTOS DE PRODUÇÃO DE LEITE EM FORMATO EXEL
DANILO MACHADO CAETANO

PIUMHI - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 30/07/2019

Excelente artigo, gostaria de receber as planilhas? dmcmedivet@yahoo.com.br
obrigado e um abraço
MOACIR MAIA NUNES

VOLTA REDONDA - RIO DE JANEIRO - PESQUISA/ENSINO

EM 22/07/2019

Excelente artigo, gostaria de receber as planilhas?
moacirquimica@hotmail.com
MARCELO ALMEIDA GOMES

MANHUAÇU - MINAS GERAIS - ESTUDANTE

EM 21/07/2019

gostaria de receber a planilha e-mail: godoiufmg@yahoo.com.br
abraço
ANTONIO APARECIDO GOMES

ITU - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 08/07/2019

MUITO BOM ARTIGO. PODEM ME ENVIAR AS PLANILHAS?
antapgomes@gmail.com
ARMANDO RODRIGUES SANTIAGO NETTO

ITAPETINGA - BAHIA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 01/07/2019

gostaria de receber a planilha, meu e-mail: armando.santiago2006@gmail.com
muito obrigado
JULIANO NASSER

PATROCÍNIO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 07/06/2019

Gostaria de receber a planilha. Poderia me enviar por email: juliano_nasser@yahoo.com.br
ED RABELO

BOM SUCESSO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 27/03/2019

Gostaria de receber primeiro a planilha publicada no artigo, para usar como base para montar uma planilha propria, que podera ser na que estao me oferecendo da PlanLeite
Voces encaminharao a planilha da publicacao?
ED RABELO

BOM SUCESSO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 27/03/2019

Srs/Sras da Milkpoint
Estou recebendo um email de um terceiro oferecendo uma planilha para levantamento de custo de produção de leite. O que gostaria de ter é a planilha que fazia parte de vossa publicacao para permitir o entendimento da materia. Estou correto ao entender que não vao enviar a planilha que deve ter acompanhado o artigo?
Agradeço uma resposta
Eduardo viana rabelo evrabelo@outlook.com
WEBERSON PINHO

EM 25/03/2019

Ótimo trabalho. Teria como enviar a planilha no e-mail webersonpinho@yahoo.com.br
WEBERSON PINHO

EM 25/03/2019

Ótimo trabalho e teria como enviar a planilha para o e-mail: webersonpinho@yahoo.com.br
EDUARDO VIANA RABELO

BOM SUCESSO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 25/03/2019

Muito bom o trabalho, seria possivel enviar a tabela 1 mencionada?
Antecipadamente agradeço
Eduardo Viana Rabelo
evrabelo@outlook.com

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