ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

Vacinas e vacinações na pecuária leiteira - como aumentar a eficiência (parte II)

POR AMAURI ALFIERI

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 14/06/2012

11 MIN DE LEITURA

2
0

Atualizado em 05/01/2024

Programas de Vacinação

Os rebanhos bovinos brasileiros, inseridos na cadeia produtiva do leite, estão distribuídos em diferentes regiões, que caracterizam-se por clima, geografia e condições sócio, econômicas e culturais extremamente heterogêneos. Mesmo ao analisarmos apenas uma região geográfica, vamos observar que as formas de manejo e nutrição, as instalações e o perfil sanitário divergem enormemente entre os rebanhos. Com isso, o grau de estresse, os padrões de resistência a doenças, o potencial de exposição aos patógenos, os riscos e desafios sanitários (rebanhos abertos x rebanhos semi-abertos x rebanhos fechados) são variáveis e únicos para cada rebanho. Essas características, completamente distintas entre os rebanhos, fazem com que não seja possível o estabelecimento de um Programa de Vacinação único, que se ajuste a todos os diferentes tipos de rebanhos leiteiros. Ou seja, não há como elaborar um Programa de Vacinação que seja capaz de se adaptar, e que possa ser utilizado universalmente, frente às distintas condições características de cada rebanho.

Com isso, Programas de Vacinação não podem ser vistos como receitas de bolo. Um determinado programa pode ser excelente quando aplicado em um rebanho, e um completo desastre quando extrapolado para outro em condições distintas. Infelizmente, os microrganismos patogênicos não se distribuem de maneira uniforme entre todos os rebanhos. Em outras palavras, a epidemiologia de cada doença infecciosa apresenta características distintas entre os sistemas de produção. Para que se alcance o sucesso desejado, antes de elaborar um Programa de Vacinação para um determinado rebanho, o profissional da área de saúde animal deve conhecer: i) a epidemiologia das infecções no rebanho para o qual o programa está sendo elaborado; ii) a genética dos animais; iii) o tipo de manejo; iv) a nutrição; v) o tipo de instalações; vi) os métodos utilizados na reprodução; vii) as formas de reposição de animais (rebanho aberto x rebanho fechado); viii) a categoria animal para a qual o programa está sendo proposto; dentre outras características que podem ser específicas para cada rebanho em particular. Somente com a análise do conjunto dessas informações é que poderemos definir:

Por que vacinar? Com que vacinar? Quando vacinar? Como vacinar?

Pelos comentários anteriores, fica claro que o sucesso de um Programa de Vacinação em rebanhos leiteiros está condicionado a vários fatores intrínsecos de cada propriedade, que devem ser avaliados individualmente. Também não podemos considerar um Programa de Vacinação estático. Com a evolução do rebanho e das práticas de manejo, o Programa de Vacinação deve ser dinâmico o suficiente para se adaptar às novas condições de criação. Ou seja, ele pode e deve ser modificado de acordo com as alterações que ocorram dentro do rebanho ao longo do tempo.

Mesmo considerando todos os aspectos já discutidos, temos que ter em mente que nenhuma vacina, nem as de uso humano, tem capacidade de proporcionar imunidade em 100% dos animais do rebanho. Em uma vacinação bem conduzida, espera-se que a grande maioria dos animais responda adequadamente por meio da elaboração de uma resposta imune suficiente para a proteção frente a um desafio de campo. Entretanto, como o potencial de resposta imunológica não é homogêneo para todos os animais, alguns poderão responder com títulos superiores à média, enquanto que outros poderão não responder ou responder em títulos abaixo do esperado. Essa heterogeneidade na resposta imunológica é característica quando avaliamos a resposta vacinal de animais constituintes de diferentes rebanhos. Só para diferenciarmos, em medicina humana, que avaliamos o indivíduo, ou mesmo em medicina veterinária de animais de companhia (cão, gato) ou esporte, como os equinos, a análise da eficiência de uma vacinação é individual, ou seja, avalia-se a resposta imune do indivíduo. Porém, em medicina de produção temos que considerar o grau de proteção coletivo do rebanho como um todo, e não especificamente de um indivíduo.

Mesmo conhecendo todos esses aspectos relacionados à imunidade coletiva, o nosso objetivo ao estabelecer um Programa de Vacinação é obtermos uma resposta imune o mais homogênea possível. Ou seja, que a expressiva maioria dos animais responda adequadamente, e que a proporção de animais com baixo título de resposta imune seja a menor possível. Nesse intuito, vários tópicos de extrema importância já foram abordados. Com isso, tanto produtores quanto, principalmente, os Médicos Veterinários, podem e devem atuar com o objetivo de potencializar a resposta imune dos rebanhos, providenciando manejo, nutrição e ambiente adequados.

Entretanto, alguns aspectos relativos ao animal, à vacina e à vacinação podem fazer com que a heterogeneidade de resposta imune dos animais aumente ainda mais do que o esperado. Conhecer esses aspectos é importante no sentido de tornarmos a resposta imune mais homogênea, para aumentarmos a eficiência da vacina e, consequentemente, reduzirmos as falhas vacinais.

Alguns aspectos relacionados às falhas vacinais

Fatores associados ao animal

1) Idade

Animais muito jovens são considerados imaturos imunologicamente, ou seja, o potencial de resposta imune ainda é muito baixo. Esses animais podem ainda ser considerados imunodeficientes, não apresentando potencial de resposta às vacinas. Animais muito velhos apresentam várias deficiências em sua capacidade imunológica e também não respondem adequadamente às vacinas.

Animais jovens, com até um, dois, ou mesmo até mais meses de vida (a idade depende do antígeno), que receberam colostro em quantidade e qualidade adequadas, possuem anticorpos passivos adquiridos de suas mães. Altos títulos de anticorpos passivos são fundamentais para a proteção contra as principais infecções que ocorrem no período neonatal. Porém, esses anticorpos passivos, por neutralizarem os antígenos vacinais, impedem que os animais possam desenvolver a sua própria resposta imune ativa, sendo responsáveis, quando vacinados, por falhas de vacinação.

2) Variação biológica

Alguns animais, devido às características hereditárias, respondem menos do que a população normal, tanto nos casos da apresentação do antígeno ocorrer por infecção natural, quanto por meio de vacinação. Mesmo sendo vacinados, esses animais não serão imunizados.

3) Nível nutricional

Toda a resposta imune, seja humoral ou celular, depende fundamentalmente de síntese proteica e de divisão celular, em níveis exponenciais. Para isso, os animais gastam energia e nutrientes em abundância. Consequentemente, animais com algum tipo de deficiência nutricional respondem muito pobremente às vacinas. Essa constatação científica dá voz ao jargão popular que diz "vacinar animais com fome é o mesmo que rasgar dinheiro". Primeiro, temos que providenciar nutrição adequada para que, depois, o animal possa apresentar uma resposta imune também adequada.

Ainda com relação ao aspecto nutricional, particularmente na pecuária leiteira, temos que atentar para uma situação muito especial. Em geral, os bovinos leiteiros recebem suplementação alimentar constituída por feno ou silagem. Não vamos discutir a qualidade nutricional desses alimentos. Porém, como são alimentos estocados, temos que lembrar que os mesmos podem ser contaminados por fungos micotoxigênicos. A grande maioria das micotoxinas predominantes em silagens e fenos é potencialmente imunodepressora. Cada micotoxina tem o seu mecanismo de ação e seu efeito deletério próprio ou característico na saúde animal. Porém, secundariamente, todas comprometem em maior ou menor intensidade o sistema imune do animal. O potencial de resposta imunológica dos animais será diretamente comprometido na dependência da concentração da toxina no alimento e do tempo que o animal está recebendo esse alimento contaminado. Com isso, a resposta às vacinas pode estar diminuída ou mesmo suprimida em casos mais graves. Avaliar os níveis de micotoxinas na ração é uma forma de prevenir falhas vacinais, assim como o uso de silagem e feno livres de micotoxinas é um meio de potencializar as respostas vacinais.

4) Interferência de infecções concomitantes

Algumas infecções, quando já presentes no animal por ocasião da vacinação, podem comprometer a resposta imune. Esse tema também deverá ser melhor explorado nos artigos subsequentes dessa série "Vacinas e Vacinações na Pecuária Leiteira".

5) Stress

Todo o tipo de condição estressante, que comprometa o bem-estar animal, pode induzir a produção de hormônios e desequilíbrios químicos que suprimem o sistema imune e, consequentemente, o seu potencial de resposta às vacinas. Um dos exemplos mais clássicos são os altos níveis de cortisol que podem ser identificados em animais mal manejados, criados em instalações inadequadas, em condições de calor e/ou frio excessivos, e em animais com dor ou desconforto (problemas de casco). Em resumo, condições estressantes de qualquer natureza e falhas vacinais caminham juntas.

Fatores associados ao antígeno

1) Diversidade de sorotipos

O sistema imune, tanto com relação à resposta imune humoral, quanto celular, é extremamente específico. Alguns microrganismos apresentam mutações (alteração no acido nucleico: DNA ou RNA) que podem ser responsáveis por alterações na constituição dos determinantes antigênicos presentes em sua superfície. Essas alterações podem se expressar na diversidade de distintos sorotipos encontrados em alguns microrganismos. Em algumas situações, o sorotipo de determinado microrganismo presente no rebanho não necessariamente é o mesmo sorotipo do mesmo microrganismo presente na vacina. Essas mutações e diversidades antigênicas, expressas nos diferentes sorotipos de microrganismos patogênicos, são grandes responsáveis por falhas vacinais.

2) Potência e Pureza

Toda vacina, inativada (morta) ou atenuada (viva), deve ter uma massa antigênica suficientemente adequada para estimular o sistema imune. A pureza de uma vacina é importante para a preservação dos determinantes antigênicos íntegros, evitando a sua destruição, principalmente por reações enzimáticas. A pureza também evita efeitos colaterais adversos, como reações alérgicas (locais / sistêmicas), e a formação de abscessos no local da aplicação. A pureza da vacina também refere-se à ausência de contaminação com outro microrganismo qualquer, que podem ser responsável pela introdução de uma nova doença no rebanho. Com relação às vacinas controladas por órgãos oficiais, tanto a potência, quanto a pureza dos imunógenos são controladas e, somente partidas aprovadas, são liberadas. Entretanto, com relação às vacinas não controladas oficialmente, devem ser consideradas, no momento da aquisição do produto, referências quanto à idoneidade, responsabilidade, profissionalismo, dentre outros atributos do laboratório produtor das mesmas.

3) Prazo de validade

Vacinas com prazo de validade vencido podem não conter todas as propriedades antigênicas do produto original. Nessa situação, pode estar alterada a massa antigênica, que é a quantidade mínima de antígeno para induzir resposta imune. Paralelamente, por meio de reações químicas proteolíticas, alguns antígenos podem ser destruídos, alterando importantes características antigênicas do microrganismo presente na vacina. Ambas as situações são responsáveis por falhas vacinais. Na prática, essa é uma economia que sai caro.

4) Limitações da vacina

Todas as vacinas têm limitações. Essas limitações variam de acordo com o microrganismo constituinte ou com a forma e/ou procedimentos utilizados para a fabricação das mesmas. Alguns antígenos são imunogenicamente fracos e, com isso, as vacinas, ocasionalmente, não induzem imunidade suficiente para a proteção adequada contra a infecção e/ou doença. A aplicação de doses repetidas (boosters vacinal) pode ser, em algumas situações, uma forma de tentar contornar essa limitação. Quando possível, os laboratórios produtores procuram reduzir esse problema por meio do uso de adjuvantes imunológicos. Adjuvantes são produtos químicos que têm o potencial de, inespecificamente, aumentarem a resposta imune, e quando mesclados a um determinado antígeno, aumentam a sua imunogenicidade, ou seja, o seu potencial de induzir resposta imune.

Fatores associados ao manuseio da vacina

1) Manipulação

Toda vacina deve ser estocada e manipulada de acordo com os procedimentos estipulados pelo fabricante. Exposição à luz solar, produtos químicos, variações de temperatura, e temperaturas adversas, podem reduzir ou mesmo eliminar completamente a eficiência da vacina. Vacinas que necessitam ser diluídas, ou mesmo misturadas (fração aquosa/fração sólida), devem ser utilizadas imediatamente após a diluição/mistura. Sobras de vacinas não devem ser guardadas, mesmo que em temperatura adequada, para uso posterior. Sempre que possível, somente utilizar seringas e agulhas descartáveis. Quando utilizar pistolas, atentar para a correta lavagem e esterilização, bem como certificar-se da ausência de resíduos de desinfetantes, que podem destruir os antígenos vacinais. Para as vacinas inativadas associadas a adjuvantes imunológicos, a completa emulsão antígeno x adjuvante é fundamental para o sucesso da vacina. Variações bruscas de temperatura quebram essa emulsão e também são responsáveis por falhas vacinais.

2) Via de administração

Atentar para a recomendação do fabricante. Os laboratórios produtores de vacinas fazem testes exaustivos para definir qual a via de aplicação que proporciona a melhor resposta imune. Vacinas de uso intramuscular não devem ser utilizadas pela via subcutânea e vice-versa. Observar também o comprimento e diâmetro adequados da agulha para as diferentes vias de aplicação (intramuscular x subcutânea) e o rótulo ou a bula do produto que indica o local mais indicado para a mesma.

Considerações finais

Esse artigo foi delineado com o objetivo de apresentar aos leitores alguns aspectos que podem ser responsáveis pelo sucesso ou por falhas em Programas de Vacinação. Evitou-se abordar vacinas, infecções e/ou doenças específicas e de maior frequência de ocorrência na pecuária bovina leiteira brasileira. Na realidade, foi objetivo principal mostrar a complexidade do tema que é envolto por uma gama de variáveis. Para isso, foram abordados, mesmo que superficialmente, alguns conceitos básicos de imunologia, de formas de apresentação de doenças infecciosas e de vacinologia, sempre tendo como norte o aumento da eficiência das vacinas utilizadas na pecuária bovina leiteira. Nos artigos subsequentes, o leitor terá a oportunidade de entrar em contato com temas mais práticos e, com isso, talvez mais conhecidos em seu dia-a-dia de trabalho. Como sugestão final, se fosse para reduzir esse artigo em uma só frase que pudesse representar tudo aquilo que foi abordado e, principalmente, que representasse a síntese de nosso objetivo principal para reflexão posterior, sem dúvida, eu selecionaria a seguinte: "VACINAR NÃO É SINÔNIMO DE IMUNIZAR".

Esse artigo foi publicado na Revista Leite Integral, mais um produto AgriPoint. Ficou interessado? Clique aqui para assinar.

2

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

JADER AUGUSTO LICHT TEIXEIRA

CRUZ ALTA - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 18/06/2012

Muito interessante a abordagem do autor, salientando a importância de vacinar, mas vacinar com eficácia, ou seja alertando para as condições adequadas de idade, alimentação, genética etc do rebanho, potencializando o investimento de uma vacinação correta, e gerando os resultados esperados.
WALTER DE ASSIS TOLEDO JÚNIOR

LAVRAS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 15/06/2012

Muito boa e importante a reportagem. Parabéns!

Gostaria de saber se há um calendário de vacinação atualizado às condições regionais e onde encontrá-lo. Desde já, agradeço-lhe.

Walter de Assis Toledo Júnior, produtor rural em Liberdade, MG.  

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do MilkPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

MilkPoint Logo MilkPoint Ventures