A Espanha aumentou as importações de leite e ovos em 34,7% durante os primeiros quatro meses do ano, último período em que se tem dados. Esse é o volume mais alto do setor de alimentos, bebidas e fumo e supera em muito os 23,7% que já cresceram no mesmo período do ano passado.
No total, entre janeiro e abril, foram adquiridos o equivalente a US$ 1,075 bilhão de euros (US$ 1,17 bilhão), coincidindo com o pico dos preços no varejo e com as dificuldades dos produtores locais para manter as vendas.
Se compararmos o aumento de 34,7% dos lácteos e ovos com outros produtos, vemos que o crescimento é proporcionalmente muito maior. Dados oficiais indicam que no primeiro quadrimestre do ano as importações de produtos da pesca aumentaram apenas 1,3%, ante 35,2% no mesmo período do ano anterior; os óleos e gorduras subiram 2,7% ante 68,8% no mesmo período de 2022 e as bebidas melhoraram 25,5%, ante os 42,1% anteriores.
Em termos gerais, todo o setor de alimentos, bebidas e fumo cresceu 14,1% em quatro meses, enquanto no ano anterior havia disparado 31%. No caso do conjunto das importações do tecido produtivo espanhol nestas mesmas datas, verifica-se um leve crescimento de 0,2% face a 60,7% no ano anterior.
A explicação oficial é que a compra de petróleo e gás no exterior diminuiu consideravelmente porque as reservas espanholas já estão acima de 95%.
Preços na origem
No entanto, lácteos e ovos cresceram três vezes mais do que as importações de todos os alimentos feitas pela indústria espanhola entre janeiro e março deste ano. Essa situação que ocorre em plena escalada de preços no setor. Os últimos dados do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) referentes ao mês de maio indicam que, no ano passado, o leite aumentou 24,3%, apesar de ter caído 0,3% no último mês. Se forem incluídos queijos e ovos, esse crescimento fica em 16,9%.
Esse aumento das importações ocorre em um momento em que os produtores espanhóis estão tendo problemas para manter o preço de venda para a grande indústria. Os produtores denunciam há semanas que o excesso de leite na Europa está afetando severamente o mercado da Espanha. Os excedentes que estão sendo gerados nesta primavera em países como Alemanha, Holanda ou Polônia acabam inundando o mercado e desestabilizando os preços, segundo dizem.
Dessa forma, os produtores também denunciaram que, diante do aumento dessa oferta, as indústrias têm oferecido aos produtores contratos com preços mais baixos, apesar de no ano passado ter havido um aumento. Atualmente, os valores médios na origem são de 60 centavos por litro (65,45 centavos de dólar por litro), mas segundo indicam, o preço nos novos acordos baixou para 52 e 54 centavos (56,7 e 58,9 centavos de dólar).
Leite da França
Segundo indicam os dados, os custos aumentaram, colocando o custo de produção de um litro de leite em 58 centavos (63,27 centavos de dólar), o que significa que esses novos acordos os fazem perder dinheiro.
O excedente de leite que chega de outros países como a França é vendido a cerca de 42-44 centavos (45,82-48,00 centavos de dólar) por litro, situação que leva a indústria a querer baixar o preço do leite local e que torna a produção insustentável em algumas fazendas.
A indústria indica que teve que recorrer ao leite estrangeiro devido à queda na produção na Espanha. No final do ano passado, as importações da França começaram a disparar, justamente porque os pecuaristas foram obrigados a abater suas vacas devido aos custos de produção e outros decidiram não continuar com o negócio porque os custos de manutenção do gado não são compensados pelo preço do leite que é pago.
Ajuda para a seca
O aumento do custo dos alimentos, energia e combustível fez com que a produção nacional caísse 4% em 2022, enquanto as importações francesas aumentaram 20%. Cálculos da indústria indicam que o consumo de lácteos na Espanha supera 10 milhões de toneladas, mas a produção local (7,5 milhões por ano) não cobre essas necessidades, obrigando a importação de pelo menos 2,8 milhões de toneladas para atender a essa demanda.
O setor de lácteos espanhol também foi atingido nos últimos meses pela forte seca que afetou todo o país. Por isso, o Governo aprovou há um mês ajudas diretas de 636 milhões (US$ 693,82 milhões) para atenuar os seus efeitos no setor agrícola: 355 milhões de euros (US$ 387,27 milhões) serão para os setores da pecuária de carne e leite, 276,7 milhões (US$ 301,86 milhões) para a agricultura e 5 milhões (US$ 5,45 milhões) para a apicultura.
Para a indústria leiteira, isso significa receber entre 157 e 31 euros (US$ 171,27 e US$ 33,82) por vaca, dependendo do seu caráter e se a área do produtor foi mais ou menos afetada pelo clima.
As informações são do The Objective, traduzidas e adaptadas pela Equipe MilkPoint.