Pesquisadores da Universidade de Wageningen forneceram uma série de recomendações de políticas a serem consideradas pelo Parlamento Europeu para reforçar a produção de leite e sustentar as comunidades rurais.
O estudo fornece uma visão geral da produção de leite da UE27 antes e depois da abolição das cotas em 2015, que marcou o fim de uma restrição significativa ao desenvolvimento do setor de leite da UE, permitindo que as forças de mercado substituíssem uma restrição de oferta como fator determinante do fornecimento de leite.
Em seu resumo executivo, o estudo, liderado pelo professor Roel Jongeneel, afirma que a produção de lácteos da UE aumentou consideravelmente nos últimos 20 anos, em parte devido à expansão da UE e, mais recentemente, devido à abolição das cotas. Esses desenvolvimentos de mercado ocorreram em um contexto de diminuição do número de vacas, aumento da produção de leite por vaca, redução do número de fazendas leiteiras e aumento do tamanho médio das fazendas leiteiras.
Lácteos da UE mais competitivos
A abolição das cotas, juntamente com várias reformas da Política Agrícola Comum, tornaram o setor da UE mais competitivo internacionalmente, tanto em nível de fazenda quanto de indústria, e ajudaram a impulsionar o crescimento dos mercados de exportação em todo o mundo.
No entanto, isso também resultou em uma transmissão de preços mais direta entre os mercados de produtos lácteos do mundo e da UE, resultando em maior volatilidade em termos de preços do leite e renda agrícola, em graus variados nos estados-membros da UE.
Principais conclusões desde a abolição das cotas de leite
O estudo constatou que os países mais competitivos são Bélgica, Dinamarca, Luxemburgo, Irlanda e Países Baixos, e que a produção aumentou e diminuiu em grande parte como reflexo da competitividade do setor entre os estados-membros.
O estudo também observou que o setor passou por várias mudanças estruturais, incluindo uma grande redução no número de produtores de leite, um aumento geral no tamanho médio das fazendas de leite e um declínio de longo prazo no número de vacas leiteiras e um aumento compensatório no rendimento das vacas leiteiras.
Evolução, volatilidade e competitividade do preço do leite após a abolição
A volatilidade do preço do leite varia consideravelmente e as respostas de fornecimento de leite dos produtores da UE parecem ser mais inelásticas em relação ao preço no período pós-cota. Normalmente, os estados-membros com maior orientação para a exportação têm preços mais voláteis do leite ao produtor.
O rápido crescimento da demanda global de produtos lácteos levou a uma convergência entre a UE e o mercado mundial, fortalecendo a orientação para fora do setor de processamento de produtos lácteos da UE. Essa convergência se deve ao aumento dos preços no mercado mundial.
Perspectivas e desafios
A política verde está exercendo uma influência cada vez maior sobre o setor, especialmente em relação às emissões de nutrientes e de gases de efeito estufa em vários países, e as fazendas leiteiras em regiões desfavorecidas enfrentam desafios adicionais de sustentabilidade que precisam ser abordados pelos formuladores de políticas.
A idade média dos produtores de leite contínua aumentando, enquanto a natureza de mão de obra intensiva do setor o torna pouco atraente para os jovens produtores.
Como tomadores de preços, os produtores de leite ocupam uma posição vulnerável na cadeia e precisam lidar com altos níveis de volatilidade dos preços do leite e dos insumos. Os desafios enfrentados pelos produtores de leite são agravados pela defasagem na transmissão de preços ao longo da cadeia de laticínios.
Intervenções políticas após a abolição das cotas
O relatório afirma que, embora exista uma estrutura rica de instrumentos de política, incluindo medidas de mercado, apoio à renda agrícola e provisões de rede de segurança, que ajudam os produtores, juntamente com os Planos Estratégicos Nacionais para adaptar as políticas em nível de estado membro, são necessários instrumentos adicionais para lidar com a volatilidade.
Apesar do aumento da competitividade, a dependência da renda líquida das fazendas leiteiras em relação aos pagamentos de apoio à renda da UE ainda é substancial - perto de 40% em média, com diferenças entre os estados-membros - sinalizando a importância de tais políticas de apoio à renda.
Principais recomendações
No amplo relatório, os autores afirmam que os vários desafios enfrentados pelo setor - volatilidade de preços, meio ambiente, clima e renovação de gerações - exigem uma estrutura política adequada. Deve-se considerar, por exemplo, mecanismos que incentivem ou recompensem os produtores individuais pelos esforços para reduzir os gases de efeito estufa de suas fazendas. Incentivar a redução das emissões de GEE por meio da adoção de tecnologias de mitigação seria preferível a simplesmente cortar a produção de leite.
Uma ferramenta que poderia funcionar seria conceder inicialmente aos produtores uma quantidade de direitos de emissão, que seriam gradualmente reduzidos ano a ano. Em seguida, seria criado um mercado para acessar os direitos de emissão, estabelecendo um preço de carbono para essas emissões. Em teoria, a fixação de um preço sobre as emissões de GEE produzidas pela fazenda incentivaria o produtor a adotar tecnologias de redução de emissões, se isso fosse mais barato do que o custo de compra dos direitos de emissão.
Os processadores de laticínios devem estar plenamente conscientes da importância de monitorar a quantidade total de emissões geradas por seus fornecedores de leite, em vez de se concentrar apenas na pegada de carbono do leite produzido.
Deve-se dar mais apoio a soluções tecnológicas que possam reduzir a mão de obra necessária nas fazendas, aumentando a atratividade da pecuária leiteira para a geração mais jovem, tornando mais provável a renovação.
O documento não defende a promoção da produção orgânica em detrimento dos sistemas convencionais de produção de leite, dizendo que alguns desses sistemas podem proporcionar benefícios ambientais quase equivalentes com menos desafios, como o fornecimento de ração orgânica e os custos de certificação.
Por fim, argumenta que os formuladores de políticas devem considerar a adoção mais ampla de contratos de preço fixo do leite em todo o setor de lácteos da UE, afirmando que eles são uma ferramenta de política que ajuda a lidar com a volatilidade dos preços e proporciona maior segurança aos produtores. As evidências da Irlanda sugerem que a ferramenta tem mérito, mas também falhas.
O relatório pode ser encontrado aqui.
As informações são do Dairy Global, traduzidas e adaptadas pela equipe MilkPoint.