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Construindo o excesso de leite

POR PAULO DO CARMO MARTINS

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 22/02/2007

10 MIN DE LEITURA

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Atingimos a auto-suficiência na produção de leite, a produção crescerá mais que o consumo, a população irá envelhecer rapidamente e o brasileiro não gosta tanto assim de leite. Cabe, então perguntar: de quanto será o excedente?

No artigo anterior, procurei desenvolver estes quatro pontos (para conhecê-lo clique aqui). A reação dos leitores foi surpreendente. Recebi 32 cartas comentando o artigo. Um recorde para esta coluna e o site, para um só artigo. As cartas partiram de onze estados da Federação e até de Nova York. Os autores das cartas têm ocupação diversa na cadeia do leite: produtores, consultores e extensionistas, laticinistas e indústria de insumos, pesquisadores e professores, estudantes e outros. Portanto, o assunto chamou a atenção de todos os segmentos que se dedicam ao agronegócio do leite. Voltemos a esse assunto, o excesso de leite.

Para se projetar o futuro, a primeira variável importante é a estimativa do crescimento da economia brasileira, pois isso dá uma noção de como a renda per capita do brasileiro deverá se comportar. Nos últimos vinte anos, a média de crescimento brasileiro, medido pelo Produto Interno Bruto - PIB foi de 2,6% ao ano. Nada indica que será diferente nos próximos vinte anos.

Avançamos muito nestes vinte anos. Controlamos a inflação, reduzimos a dívida externa e estamos tendo superávit primário (ou seja, as contas do Governo demonstram que a arrecadação de impostos é maior que os gastos). Mas, esse superávit foi obtido com uma elevada carga tributária, ou seja, 40% de toda a riqueza gerada. Isso significa que restam 60% para a sociedade gastar em consumo e poupar. Além disso, foi obtido com uma brutal redução dos investimentos públicos. E não será o Plano de Aceleração do Crescimento - PAC, que irá mudar este quadro.

Para reduzir o volume de impostos e, com isso, liberar recursos para a sociedade aumentar o consumo e o investimento, seria necessário reduzir os gastos do Governo. Mas, como fazê-lo? Para desonerar o orçamento do Governo, seria necessário que um Presidente fosse eleito com uma maioria clara em torno da redução de gastos. Mas, o que se vê é a necessidade dos presidentes, ao assumirem o cargo, terem que construir uma maioria no Congresso. E, aí, fica difícil cortar gastos de modo qualitativo.

Vejam o caso da Previdência Social. A cada ano, ela representa um déficit maior do que todos os orçamentos da Embrapa somados, ao longo de sua história, de 1974 até hoje, para manter seus 41 centros de pesquisa. Um ano de déficit da Previdência se equivale a 32 anos de somatório dos orçamentos da Embrapa. Portanto, parece razoável prever que o crescimento brasileiro se manterá baixo nos próximos 20 anos.

A segunda variável importante é o crescimento da produção. Entre 1.990 e 2.005 a produção brasileira cresceu 70%, saindo de 14, 5 bilhões de litros, em 1.990, para 24,7 bilhões de litros, em 2.005. Nesse período, a produção na Região Norte cresceu 240%, a Região Centro-Oeste cresceu 123% e a Região Sul cresceu 105%. As regiões Nordeste e Sudeste cresceram, respectivamente, 41% e 36%. Embora com percentuais abaixo da média nacional, é importante registrar que os percentuais de crescimento destas duas regiões ultrapassam, em muito, o da produção mundial, que esteve próximo a 20%.

O gráfico 1 retrata o percentual de crescimento anual da produção brasileira, entre 1.991 e 2.005. Entre 1.990 e 1.999, quando ocorreram as grandes transformações como a granelização e importações volumosas de leite, a média anual de crescimento da produção foi 3,2%. Nesta década atual, a média anual cresceu para 4,6%. Neste período de quinze anos (1.991 a 2.005), que congrega o fim do tabelamento, abertura da economia e Real valorizado, a média anual de crescimento foi de 3,8%. Portanto, temos valores expressivos, como média de crescimento da produção, em período recente.

Gráfico 1, Percentual anual do crescimento da produção de leite no Brasil 1991-2005.


Fonte: Banco de dados Embrapa Gado de Leite. Cálculos do autor.

Um argumento apresentado por aqueles que não acreditam na manutenção de taxas elevadas de aumento da produção de leite nacional, diz assim: se a produção crescer além do consumo o preço irá cair. Logo, como o produtor é racional, como preços menores, ele terá desestímulo a continuar a aumentar a produção. E, assim, a produção e o consumo se ajustam.

Esta é uma afirmação lógica. Está em todos os manuais de microeconomia. Mesmo quem nunca teve oportunidade de lê-los, aceita, exatamente porque é lógico.

Ocorre que, em pesquisa, pode-se usar o método dedutivo e o indutivo. O método dedutivo significa partir de situações gerais e chegar a conclusões particulares. Exemplo: Se conheço mil vacas que têm tetas, posso afirmar que a vaca que você tem na sua fazenda também tem tetas, mesmo que eu nunca venha a conhecê-la. Já o método indutivo é o contrário. Se a primeira vaca que conheço tem tetas, se a segunda tem, se a terceira tem... concluo que todas as vacas têm tetas.

Os dois métodos são importantes, mas podem levar a erros de conclusão. O dedutivo, porque particulariza uma afirmação geral. O indutivo, porque generaliza uma situação particular. No nosso caso, imaginar que a produção de leite irá deixar de crescer se o preço cair, não está correto.

O primeiro argumento que lanço mão, contrário a essa afirmação aparentemente óbvia, baseia-se na rica experiência que vivi com dois colegas pesquisadores da área de economia da Embrapa Gado de Leite, em 2.001. Naquele ano, Alziro, Takao e eu percorremos, de carro, os estados de Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, visitando 162 fazendas, com o apoio de dez empresas do setor.

No Rio Grande do Sul, na região que corresponde ao centro do Estado para o norte, vi produtores com longa tradição no cultivo "do soja", que estavam abandonando aquela atividade por absoluta incapacidade de manter suas famílias em áreas muito pequenas, frente às exigências de escala que estas culturas cada vez mais apresentavam. Eram produtores que migravam da soja (e trigo), para o leite...

A ilustração 1 permite visualizar esta região. A pesquisadora Rosângela Zoccal, da equipe de economia da Embrapa Gado de Leite, pesquisou as cem microrregiões do Brasil que tiveram maior crescimento na produção de leite, exatamente entre 1.990 e 2.005. Surpreendentemente, dessas cem, nove estão localizadas naquele Estado. As microrregiões de Passo Fundo, Carazinho, Não-me-toque, Guaporé, Três Passos, Santa Rosa, Sananduva, Soledade e Ijuí tiveram aumento de produção acima de 145% nesse período, mais do que o dobro da média brasileira. Não por coincidência, é nessa região que grandes investimentos em novas plantas lácteas estão acontecendo.

Figura 1. Região do Rio Grande do Sul com maior aumento de produção de leite, entre 1991 e 2005.


Já no oeste do Paraná, visitei produtores que, no passado, produziram soja, milho, trigo e milho, além de suínos e aves. Abandonaram tudo, pelo mesmo motivo: não suportaram a pressão por escala. Isso levou a Cooperativa Sudcoop, que está no mercado com a marca Frimesa, a entrar no ramo do leite. É isso mesmo. Iniciaram no leite por questões quase humanitárias, para apoiar os pequenos produtores familiares. Foram competentes em transformar ajuda social em negócio.

Das cem microrregiões que mais cresceram a produção entre 1.991 e 2.005, todas com desempenho acima do dobro da média nacional, doze são desta região do Paraná e estão na Figura 2. São elas: Pato Branco, Ponta Grossa, Toledo, Pitanga, Jaguariaíva, Ivaiporã, Prudentópolis, Guarapuava, Cascavel, Francisco Beltrão, Capanema e Irati.

Figura 2. Região do Paraná com maior aumento de produção de leite entre 1990 e 2005.


A Cooperativa Aurora, de Santa Catarina, é outro exemplo mais recente de competência. Entrou para o ramo lácteo para apoiar produtores cooperados "excluídos" de outras atividades agrícolas. E, das cem microrregiões que mais cresceram a produção, quatro são deste Estado. Os produtores familiares são menos afetados pelo preço pago, pois precisam produzir para sobreviver e não encontram outra opção que conjugue menos risco e maior retorno. Produtores familiares do Sul, que há quase uma década estão se convertendo em produtores de leite, continuarão a aumentar a produção.

Num outro extremo, estão alguns estados do Brasil Central e Norte. Em novembro passado estive em Jiparaná, em Rondônia. Lá, juntamente com a Embrapa Rondônia, nós promovemos o primeiro grande evento do leite no Estado. Ouvi do Secretário da Agricultura que, em Rondônia, existe o "dia do leite". Ele me explicou que, todo mês, no dia que os laticínios pagam ao produtor, as cidades ficam movimentadas. É dia de alegria para os comerciantes, pois os produtores convertem rapidamente sua renda em produtos e serviços para suas famílias. Naquela região, o custo de produção é muito baixo, e a produção tende somente a crescer. Vejam o caso de quatro estados. Das cem microrregiões com maior crescimento da produção, onze são de Mato Grosso, oito são do Pará, quatro são de Rondônia e dois de Tocantins.

Um novo argumento defendido por aqueles que supõem que a produção de leite não continuará a crescer está relacionado à agroenergia, ou seja, à energia renovável proveniente da agricultura. Muitos afirmam que as fazendas de leite "vão virar canavial". Não acredito nessa hipótese. Quem irá ceder suas terras para as usinas de cana-de-açúcar serão os produtores de leite pouco especializados. Em sua maioria, serão os "tiradores de leite". E, esses, há muito tempo não afetam o crescimento da produção. Portanto, a agroenergia não irá comprometer o excesso de leite previsto.

A terceira variável importante para analisar o futuro está relacionada ao consumo. Esse assunto foi discutido no artigo anterior. Para resumir, entre 2.005 e 2.025, o crescimento da população cairá de 1,4% ao ano para 0,8% ao ano. Ou seja, cairá pela metade, em vinte anos. Além disso, o PIB do país crescerá em média 2,6% ao ano e o brasileiro continuará destinando menor percentual de aumento no consumo de lácteos que o percentual do aumento da renda. Portanto, o consumo não crescerá muito.

Discutidas as três variáveis (crescimento da renda, crescimento da produção e crescimento do consumo), convido verificar o comportamento da produção e consumo entre 1.985 e 2.005, entre 1.990 e 2.005 e entre 2.000 e 2.005. Os dados estão na Tabela 1. Perceba que, entre 1.985 e 2.005 a produção e o consumo cresceram à taxa média anual de 3,5% ao ano. Entre 1.990 e 2.005, a taxa média anual da produção cresceu pouco mais que a do consumo. Mas, entre 2.000 e 2.005, a taxa média da produção cresceu bem mais que a do consumo.

Tabela 1. Taxas Médias Anuais de Crescimento de produção e Consumo de Leite para Períodos Selecionados. Brasil.


Fonte: Banco de Dados da Embrapa Gado de Leite. Cálculos do autor

É chegada a hora de estimar o quanto poderá ser o volume de leite em excesso. Para isso, é necessário considerar o tempo presente e o passado recente. Afinal, o que vamos fazer é projetar o futuro. Não iremos fazer previsões categóricas. Não sou vidente, como a Mãe Dinah. Mesmo ela, até agora, não se atreveu a prever o futuro do leite. O que iremos fazer é projetar o futuro, com base no passado e no presente.

Vamos construir três cenários para a produção e o consumo, para 2.025. No cenário 1, suponha que, entre 2.005 e 2.025 a produção cresça 2,0% ao ano. Não é muito. Afinal, nos últimos quinze anos a produção cresceu 3,8% ao ano e, nesta década, o crescimento foi de 4,6% ao ano, como foi mostrado na Tabela 1.

Suponha, agora, que o consumo de leite cresça 1,2% ao ano. Nesse cenário, em 2.025 a produção seria 37,2 bilhões de litros - um crescimento de 48,7% em relação à 2.005. Já o consumo seria de 31,6 bilhões de litros, com crescimento de 26,9%. Nesse caso, teríamos um excedente de 5,6 bilhões de litros em 2.025.

No cenário 2, suponha que o crescimento da produção seja um pouco maior, ou seja, 2,5% ao ano, e que o consumo também seja maior, ou seja, cresça 1,5% ao ano. Nesse caso, a produção seria de 41 bilhões em 2.025, superior em 64% à produção de 2.005. Já o consumo seria de 33,5 bilhões de litros, superior em 34,5% ao consumo de 2.025. O excesso seria de 7,5 bilhões de litros.

No cenário 3, suponha que a produção cresça 3% ao ano e o consumo 1,2% ao ano. Nesse caso, a produção seria de 45,2 bilhões de litros e o consumo de 31,6 bilhões de litros, em 2.025. O excesso seria de 13,6 bilhões de litros. Os dados que resumem estes cenários estão apresentados na Tabela 2.

Tabela 2. Produção e Consumo de Leite para 2.025, em três cenários distintos. Brasil.


Fonte: cálculos do autor

Agora, as reflexões são suas, caro leitor. Caso queira externá-las, envie sua opinião para esta coluna. Irei comentar todas as correspondências enviadas. Mas, informo que somente depois de 05 de março. No próximo artigo terminaremos a trilogia sobre o excesso de leite, procurando discutir como reduzi-lo.

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ANDRE ZANAGA ZEITLIN

SÃO PAULO - SÃO PAULO

EM 07/03/2007

Prezado Paulo,

Parabéns pelos artigos. O recorde de cartas dos leitores é o mais claro sinal de que você pôs todos a pensar (a favor ou contra, não importa) e artigo serve mesmo é pra isso: não pra convencer, mas para fazer pensar.

Não vou questionar a validade de se projetar os índices de crescimento populacional, de produção e consumo, passados e presente, por tão longo período. Meu "economes" não dá para tanto. Mas confesso que isso soa como a história do sujeito que após acompanhar o crescimento da filha dos 4 aos 8 anos, concluiu que ela chegaria aos dezoito como a mulher mais alta do mundo...

Espero que o Brasil dos próximos vinte anos seja diferente do que esse que conhecemos hoje. Uma distribuição de renda mais equânime seria esperar o óbvio e não vejo outro caminho senão pela educação. Gente melhor educada e com mais salário no fim do mês toma decisões mais acertadas na gôndola do supermercado e isso, quero crer, favorece o consumo de lácteos.

Do lado de cada gôndola as coisas tendem a caminhar na mesma direção com ganhos significativos de qualidade e finalmente um marketing institucional que parece vir tomar o lugar de leites modificados, requeijões sem queijo e outras espertalhices do passado.

Ainda que o consumo se amplie a taxas muito mais altas do que você estimou e que a produção apanhe dos preços dos concentrados, da competição com a cana e outras culturas e de governos que muito ajudam quando não atrapalham, muda a dimensão dos números, mas não muda o fato: teremos sim um excedente de leite nesse país.

O caminho natural será o mercado externo, mas esse também tem limite. Alguém escreveu no MilkPoint anos atrás que não acreditava em China como salvaçao da pátria, pois éramos capazes de produzir mais do que eles eram capazes de beber. Sobre isso, aguardo seu próximo artigo. Curioso.

Abracos,

André

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Senhor André,

O Senhor captou a essência dos artigos. Menos focado nos números apresentados, o objetivo foi convencer que há um ambiente futuro (10 ou 20 anos, não importa), sinalizando para o excedente de leite.

Sobre a China, ainda pretendo escrever neste semestre.

Obrigado pela carta.

Paulo Martins
GERMANO JOSE MARTINS ASSUNÇAO

PARÁ DE MINAS - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 04/03/2007

Dr. Paulo,

Está de parabéns pelo artigo, mas infelizmente nossos governantes só olham para o seu lado. Fico triste porque no Brasil só vinga quem tem muito dinheiro ou sorte. Na região em que estou nem vejo a luz no fim do túnel, nossas cooperativas a cada dia matam o produtor de leite, boi etc., não ajudam os pequenos.

Por exemplo, o leite poderia ter preço mínimo para manter o custo e, com isso, a família no campo. Nos bancos, não há ajuda ao pequeno produtor, só há verbas para os grandes.

Deveria entrar no poder um que olhasse para a minoria.

Mas tenho fé, que pessoas como você olham para frente, mostrando o que pode acontecer para acordar as pessoas.

Você fala em excesso de leite, é só dar salário para o povo que o consumo aumenta.
DUILIO MATA DE SOUZA LIMA

BOM SUCESSO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 04/03/2007

Parabéns pelo artigo, uma vez que mexe com os íntimos dos produtores, mas não concordo com as previsões porque o Sr. em sua conjuntura não avalia o crescimento do valor dos concentrados, uma vez que os mesmos no período de sua avaliação foram bastante competitivos, podendo em breve não serem ainda mais, devido a alterações na matriz energética de países ricos.

Outro fator que não se abordou é o aumento do valor salarial de nossa mão-de-obra rural, que nos últimos anos subiu muito e irá continuar a subir uma vez que é um mercado de trabalho de pouca competição, devido às suas características de regularidade diária e necessitando de muita força física das pessoas que trabalham nesta atividade.

Se pesquisarem, vão descobrir que a cada ano se diminui a disponibilidade de pessoas querendo trabalhar na atividade leiteira mesmo com remuneração superior à das cidades. Outro fator não avaliado e de suma importância é a IN 51, que apesar de não estar ainda em pleno vigor por vários motivos, os laticínios estão promovendo a adequação dos produtores que enfretam mudanças bruscas em seus modelos leiteiros, principalmente na adequação de seus funcionários que continuam sendo os mesmos das décadas de 80 e 90, e são, em sua maioria, analfabetos ou semi analfabetos, e infelizmente com todos os treinamentos não conseguem se adequar.

Não vejo para os próximos anos renovação de mão-de-obra e disponibilidade da mesma para a atividade leiteira. Juntando tudo isto que disse, podemos ter um cenário bem diferente de suas previsões, pois o mundo é muito dinâmico e podemos ter é falta de leite e não excesso, se os concentrados começarem a subir demais, uma vez que não vejo para o Brasil produção sustentável sem uso de concentrados.

Muito obrigado.

<b>Resposta do autor:</b>

Caro Senhor Duílio,

No futuro, tudo é possível.

Contudo, os argumentos que vislumbro não me levam, em nenhum momento, a pensar em carência de leite. Sobre os seus argumentos, há 30 anos, o concentrado era mais caro que hoje. Sobre o uso de mão-de-obra, são necessários menos homem hoje que há trinta anos. Será necessário menos no futuro que hoje. Portanto, o componente mão-de-obra tenderá a cair no custo de produção, em termos relativos ao custo total. Sobre a IN 51, ela é solução e não problema.

Obrigado pela sua correspondência.

Paulo Martins
MARCELLO DE MOURA CAMPOS FILHO

CAMPINAS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 03/03/2007

Caro Paulo,

Volto a elogiar e comentar o seu segundo artigo da trilogia. Você citou como exemplo de competência o caso da Cooperativa Aurora, ao apoiar cooperados "excluídos" de outras atividades agrícolas, convertendo-os em produtores de leite. Pelo que sei da história, a Aurora era basicamente uma cooperativa "especializada" de produtores de suínos, que começou a perder seus produtores mais competitivos para a indústria.

Preocupada com o fato, realizou um estudo separando os produtores que efetivamente eram ou poderiam ser competitivos na produção de suínos e estavam bem situados dentro de uma logística de transporte dos demais produtores (seriam os "excluídos"), que continuaram cooperados, mas transformados em produtores de leite.

A Aurora, ao meu ver, de forma muito inteligente, diversificou suas atividades, passando a atuar na produção de leite, dando um apoio efetivo aos seus cooperados que não tinham condições de competitividade na produção de suínos, sem investir em indústria de lacticínios, apenas comprando uma participação minoritária de uma indústria.

No mundo as cooperativas "especializadas" de leite, no caminho para sobreviverem, tem crescido e efetuado fusões, procurando ganhos de escala, e hoje temos até cooperativas transnacionais. Esse caminho tem sido recomendado por muitos também aqui no Brasil, e talvez não evoluiu muito em função de aspectos culturais específicos.

Não nego os ganhos de escala e competência advindos deste caminho, mas em função dos aspectos culturais específicos, da diversidade de nossos produtores de leite e da nossa realidade sócio econômica, tenho dúvidas se não existem caminhos alternativos, como transformar cooperativas "especializadas" em leite em cooperativas "diversificadas", com o foco no produtor cooperado e não num produto específico, citando como exemplo para reflexão o "caso da Aurora".

No meu modo de ver, as nossas cooperativas de produtores de leite são especializadas, em face a própria diversidade de seus cooperados e pela liberdade que os produtores de leite, cooperados ou não, têm para produzir, ficam fragilizadas e sem condições de interferir na oferta de leite, no sentido de reduzir excedentes que não tenham perspectivas de serem exportados.

Gostaria da sua opinião sobre essa questão de "especialização" x "diversificação" das cooperativas, ou, em outras palavras, se o foco das cooperativas de produtores deve ser um produto específico ou deve ser a necessidade de seus produtores e das características da região em que atua, diversificando seus produtos, tendo em vista a perspectivas futuras de grandes excedentes de leite e a necessidade de trabalhar no sentido de reduzir excedentes não exportáveis.

Um abraço,

Marcello de Moura Campos Filho

<b>Resposta do autor:</b>

Caro Marcello,

Esse assunto é complexo. Prometo aceitar sua saudável provocação e discuti-lo, após terminar esta "trilogia".

Grande abraço,

Paulo Martins
CLAYSON CORREIA DE SOUSA

FRANCA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 28/02/2007

Interessante suas considerações, mas o senhor considera em suas análises apenas o consumo de leite fluído e o mercado interno. E quanto às exportações, e quanto ao desenvolvimento de novos produtos com maior valor agregado, mistura de leite com sucos de frutas, queijo etc... conquista de novos mercados?

Eu também penso que no artigo anterior, 18 anos, até 2025, seria um período muito longo para uma estimativa tão pessimista. Malthus prevera fome no mundo por insuficiência de produção e explosão demográfica, mas ele não esperava o progresso técnico da agricultura, que elevaria a produtividade e da medicina o desenvolvimento e aperfeiçoamento de métodos de controle de natalidade.

Penso que para aumento do consumo de leite além do aumento da renda interna, também é fundamental o desenvolvimento de produtos, além do marketing e propaganda e conquista de novos mercados.

Seria interessante que o senhor fizesse essa análise e comparasse com os argumentos do texto do engº agrônomo Marcelo P. de Carvalho "Leite - Redefinindo suas Fronteiras", também do Milkpoint

Abraço

<b>Resposta do autor:</b>

Sr. Clayson,

Obrigado pela sua carta. necessito fazer alguns esclarecimentos:

1. Considerei toda a produção de leite e não somente o leite fluido. Isso inclui até leite sem inspeção;

2. O mercado externo será tratado no próximo artigo;

3. O artigo contou 10.261 caracteres ou seis páginas, o que não é recomendável, pois fica cansativo. E olha que foi focado em pontos específicos. O senhor exige do artigo o que não foi o seu propósito. Nossa intenção não foi fazer um tratado sobre o assunto. Versão mais robusta será submetida à Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural - SOBER;

4. Minha opção em fazer estimativa para 20 anos deveu-se à intensão de deixar mais claro a tendência. Menos que números, o propósito foi discutir tendências;

5. Malthus retratou o seu tempo. E isso não lhe tirou o valor histórico. Tanto que inseriu seu nome junto aos clássicos da Economia;

6. O Dr. Marcelo tem em mim um dos seus fiéis leitores. No fundo, compartilhamos idéias muitíssimo similares. Ocorre que o artigo citado e este de minha autoria têm focos distintos. Um não anula o outro.

Paulo Martins
CÁSSIO DE OLIVEIRA LEME

PARANAPANEMA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 28/02/2007

Prezado Dr. Paulo do C. Martins,

Primeiramente, parabéns pelos artigos. Gostaria de fazer alguns questionamentos:

Essa "prevista e inevitável" crise deverá deixar nosso leite muito barato também no exterior, que levaria a uma exportação e desafogando o excedente?

Os grandes centros consumidores (por exemplo, o estado de SP) pagariam melhor ao produtor regional por causa do frete mais barato? Esta crise favoreceria os produtores de leite a pasto (custo mais baixo)?

Teria como "estimar" o valor médio do litro de leite nos próximos anos, ou mínimo e máximo, baseados em crise anteriores? Esta pergunta pode parecer muito inconsistente, mas se pudéssemos ter esses dados (logicamente aproximados) poderíamos nos reestruturar em termos de custos ou até abandonar a atividade antes de maiores prejuízos.

Obrigado
Abraço

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Cássio,

Não tenho como prever o preço do leite nos próximos anos, embora pudesse ser feito estudo de elasticidade. Quanto às questões levantadas, procurarei tratar no próximo artigo, que estará disponível ainda este mês.

Obrigado pela atenção.

Paulo Martins
DANILO DE OLIVEIRA PONTES

PIRACANJUBA - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 28/02/2007

Caro amigo e professor Paulo do Carmo Martins,

Fiquei realmente impressionado com o artigo, pois trata-se de uma abordagem clara, limpa e com excelentes argumentações sobre um assunto de grande relevância e que é responsável pela manutenção da renda de inúmeras famílias em nosso país. Meus sinceros parabéns.

Que teremos grandes excedentes no futuro, não se discute. Também não tenho dúvidas de que a principal saída para este cenário seria a diversificação da produção, somada ao planejamento, ao monitoramento do setor leiteiro e aliada ao incremento das exportações e ao aumento do consumo interno de lácteos. Para isso, teremos que produzir leite de excelente qualidade e a profissionalização do setor torna-se evidente

No que diz respeito à necessidade de aumento do consumo per capita, não seria atitude nobre por parte do Governo Federal, incluir o leite como alimento básico nos programas sociais e na merenda escolar podendo, desse modo, auxiliar no combate da desnutrição infantil e na prevenção da osteoporose na terceira idade?

Essas medidas, se tomadas de uma maneira organizada e aliadas a um marketing eficiente causariam impactos sensíveis a médio e a longo prazo e seriam um estímulo direto à elevação do consumo interno de lácteos contribuindo positivamente para todos os elos da cadeia produtiva do leite.

Um forte abraço,

Danilo de Oliveira Pontes
Zootecnista e Produtor de Leite

<b>Resposta do autor:</b>

Caro Danilo,

Você antecipa questões que tratarei no artigo próximo, que finalizará esse assunto. Por favor, aguarde. Obrigado por enviar suas idéias.

Paulo Martins
FERNANDO ANTONIO DE AZEVEDO REIS

ITAJUBÁ - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 26/02/2007

Ótimo artigo, simples e esclarecedor.

A cadeia do leite deve estar preparada para exportar e promover o aumento do consumo interno, visto que como produtores só nos resta aumentar a produção de leite, pois nos últimos anos temos a necessidade de escala de produção, para mantermos nosso rendimento num nível satisfatório.

Não pretendo diversificar minhas atividades, espero que a cadeia produtiva amadureça e que seja possível ser apenas produtor de leite.

<b>Resposta do autor:</b>

Sr. Fernando,

Compartilho com o senhor da mesma visão.

Paulo Martins
SAULO SANDRI

CONCÓRDIA - SANTA CATARINA - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 26/02/2007

Caro Dr. Paulo Martins,

Parabéns pelo artigo e acredito que suas informações são muito importantes para a organização da cadeia produtiva do leite.

É com grande preocupação que avalio a situação da região do Alto Uruguai Catarinense. Muitas propridades têm mudado de atividade, principalmente a partir de 2.003 com a crise da suinocultura devido aos excedentes de produção, e optado pela atividade leiteira. Já se observa que também esta atividade corre riscos de ter excessos de produção, e ainda é a atividade mais incentivada pelos órgãos de assistência técnica da região.

É preciso um maior planejamento para que aquilo que aconteceu com a suinocultura, não aconteça também com o leite. Além da necessidade de se buscar alternativas para a comercialização do excedente de produção.

Abraço,
Saulo F. Sandri - Concórdia/SC
EVANDRO FREIRE LEMOS

PASSOS - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 25/02/2007

Dr. Paulo, como o Sr. vê as possibilidades de o Brasil exportar o crescente exedente da produção de leite? A relação produção - consumo nos demais países é a mesma do Brasil?

Evandro Freire Lemos
Eng. Agrônomo - Produtor de leite.(Passos - MG).

<b>Resposta do autor:</b>

Caro Sr. Evandro,

Por favor, aguarde mais alguns dias. Irei tratar desse assunto no próximo artigo.

Obrigado pela correspondência.

Paulo Martins
RICARDO SABINO DOS SANTOS DE OLIVEIRA

MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 25/02/2007

Prezado Dr. Paulo,

Primeiramente gostaria de parabenizar pelas duas matérias que servem de alerta para todos os produtores de leite.

O seu raciocínio é lógico e claro. A tendência é sim, de que a oferta de leite seja maior que a procura. E quando isso ocorre o resultado já sabemos; prejuízo para os produtores. Mas será que todos serão afetados? Infelizmente não, na minha opinião, e gostaria de saber a sua, uma vez que laticinios têm cada vez mais "premiado" os produtores que conseguem entregar o leite mais qualificado (maior porcentagem de proteína, menor CCS, dentre outros fatores).

Ou seja, essa oferta maior que a procura não atingiria somente os médios e pequenos produtores, que hoje representam uma grande parte da procução leiteira no Brasil, visto que estes não possuem a mesma tecnologia que os grandes, para produzir um leite de maior qualidade?

Não seria importante a intervenção governamental a fim de promover um sistema para exportaçao de produtos lácteos escoando assim o excesso de produção no país?

<b>Resposta do autor:</b>

Caro Sr. Ricardo,

Obrigado pela sua carta. É verdade que, em qualquer cenário, há sempre os que ganham e os que perdem.

Irei tratar de assuntos apresentados pelo senhor em sua correspondência no próximo artigo. Por favor, aguarde algumas semanas.

Paulo Martins
RONALDO PEREIRA GUIMARÃES

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 25/02/2007

Em várias regiões do Brasil temos condições de produzir leite com um custo relativamente baixo, utilizando tecnologias adequadas, por que não conseguimos exportar o produto excedente?

<b>Resposta do autor:</b>

Sr. Ronaldo,

Sua carta é muito pertinente. Uma coisa é ser competente para produzir. Outra é ser competente para vender. Creio que o Brasil será ambos, no futuro. Tratarei desse assunto no próximo artigo.

Paulo Martins
JULIO REIS

NOVA LIMA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

EM 24/02/2007

Sem dúvida um artigo muito provocativo, que nos leva a adotar cautela no planejamento de nosso agronegócio e buscar voluntariamente alternativas antes que se torne uma posição irreversível de mercado. Porém, qual será a elasticidade da demanda em função de crescimento de renda, linear? Qual o potencial de consumo per capita da população brasileira com relação a outros países?

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Sr. Júlio Reis,

No primeiro artigo reproduzi trabalho feito por dois colegas da Embrapa Gado de Leite que demonstram que a elasticidade-renda da demanda cai, na medida em que aumenta a renda. Quanto ao consumo brasileiro per capita de leite, é cerca da metade do que se consome, em média, nos países desenvolvidos.

Paulo Martins
ANTONIO CARLOS GERVA

IRATI - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 23/02/2007

Olá professor Paulo,

Acredio ser para nós extensionistas mais um grande desafio que está por vir. Nesta região destacada do Paraná já esta se revendo conceitos e trabalhando como território, ou seja, muitos pensando juntos para ver e agir para o futuro.

Sabemos que a situação não será nem um pouco fácil, mas se não fizermos nada acredito que continuará pior.

Um grande abraço e obrigado por nos alertar mais uma vez com esses artigos que só nos enriquecem.

Felicidades.

<b>Resposta do autor:</b>

Caro Gerva,

Trabalhar sob o conceito de território é algo novo no Brasil e metodologia já testada na Europa. É o caminho...

Paulo Martins
VICENCIO LOMBA LIMA

RIO DE JANEIRO - RIO DE JANEIRO

EM 23/02/2007

Com todo o respeito ao excelente artigo, qualquer dia estaremos chupando cana e bebendo álcool.

<b>Resposta do autor:</b>

Caro Sr. Vicêncio,

Tenho visão otimista quanto ao futuro e, no próximo artigo, pretendo mostrar o porquê.

Paulo Martins
JORGE LUIS BARBOSA

ANDRADAS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 23/02/2007

Fiquei simplesmente maravilhado com o artigo de Paulo de Carmo Martins. A Embrapa está de parabéns por ter em seu quadro uma pessoa de uma visão estraordinária do mercado atual e futuro do leite.

Está na hora de acabar com entusiasmo amador quando se quer entrar numa atividade, seja ela qual for. Precisamos estudar criteriosamente os dados do mercado consumidor antes de aventurarmos em determinado setor, tendo como conseqüência o prejuízo pessoal e também de toda a cadeia.

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Sr. Jorge,

Obrigado pelos comentários. A Embrapa e eu agradecemos.

Paulo Martins
MARCO AURÉLIO BANDEIRA MEIRELES

SANTA MARIA - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 23/02/2007

Interessante termos uma visão ampla do mercado do leite! Profissionais que nos tragam informações de mercado, que ainda é muito pouco, é de suma importância, para nosso crescimento como profissionais e produtores.

Dr. Paulo, aqui no Sul (RS), a região de Erechim é composta por pequenos produtores na sua maioria, com volume de produção alto. A empresa Nestlé está abrindo uma planta industrial em Palmeiras das Missões, e isso irá causar mudanças na região.

Gostaria de saber se nós vamos conseguir lidar com o aumento de produção e seu excedente. Disputa com as grandes empresas na região nos levarão para que direção? Está ocorrendo uma organização da cadeia do leite no Brasil em busca de promover seu marketing e entrar no mercado externo com um maior número de empresas exportadoras de derivados lácteos, quais são as perspectivas para essas mudanças de mercado?

<b>Resposta do autor:</b>

Caro Marco Aurélio,

Conheço sua região. Aí coletei dados para minha tese de doutoramento. Apesar dos dois artigos sobre excesso de leite, tenho visão muito favorável do que será o futuro lácteo nacional, se soubermos nos organizar, e acho que saberemos.

Por favor, aguarde o próximo artigo.

Paulo Martins
RODRIGO GREGÓRIO DA SILVA

LIMOEIRO DO NORTE - CEARÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 23/02/2007

Parabenizamos o Dr. Paulo por mais uma contribuição à discussão sobre o negócio Leite. Colaborando com várias afirmações descritas no texto, falaremos sobre o caso do Ceará. Em nosso estado, até bem pouco tempo havia total descrença sobre a produção de leite.

A produção apresentava padrão sazonal (no que se refere a produção e aos preços praticados). O que se via eram os "tiradores de leite", com suas produções concentradas nas águas. Nesse cenário, o preço se modificava ao longo do ano, apresentando valores elevados no período seco. Nos últimos anos o que se vê é um crescimento constante na produção de leite, o ingresso de novos produtores (muitos já focados nos princípios que devem reger a atividade) e saída de produtores tradicionais. Nesse ambiente, há equilíbrio entre demanda e oferta de leite em nosso Estado.

A produção tem apresentado padrão de custos e preços mais equilibrados ao longo do ano, especialmente nos sistemas irrigados. Disso resultou característica desconhecida pela cadeia produtiva local, com manutenção do preço ao longo do ano, como também redução do preço em época onde costumeiramente se tinha elevações (período seco). O que se tem ouvido por parte dos laticínios é que se deve à produção elevada durante esse período.

Nem sempre, como foi comentado, num ambiente onde por força da elevada oferta há redução na produção, apresentando assim crescimento da produção como forma de manter a receita (pensamento esse compartilhado por muitos produtores e que reforça a afirmativa do autor). Essa característica tem sido verificada em nosso caso.

Exemplificado, tem-se a compra de vacas por parte dos produtores locais, especialmente no estado de Minas Gerais, não sendo difícil encontrar microrregiões que saíram de produção inferiores a 1.000 e que apresentam produções da ordem de 25.000 litros ao dia, atualmente.

Nós aqui no Ceará já estamos vivenciando grande parte dessas características, com alguns agravantes: ainda somos zona de risco desconhecido; a maioria dos produtores ainda não apresenta padrão de produção compatível com as exigências atuais no que se refere à sanidade e qualidade do leite; falta de organização da cadeia; pouca gerência dos negócios.

Esse conjunto de fatores poderia ser acrescido de mais: crescimento da economia local inferior ao crescimento da produção; e aumento da produção. O que já foi exposto é suficiente para complicar a atual situação, pois em dias de excesso, não há a possibilidade de se exportar. Apesar do grande potencial da região.

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Sr. Rodrigo,

O Brasil lácteo conhece pouco do Nordeste lácteo. Sua correspondência tem uma importância muito grande. Precisamos que vocês do Nordeste façam como o senhor e discutam mais a realidade em que vivem.

Paulo Martins
EDEMILSON DACHERY GOMES

FRANCISCO BELTRÃO - PARANÁ

EM 23/02/2007

Achei seu artigo muito interessante!

Nos últimos anos houve um grande incentivo para a produção de leite no país por parte de órgãos diversos.
Acho que se continuar no ritmo que você descreve no artigo, logo o leite se tornará como a cadeia produtiva da soja, milho, feijão etc., ou seja, lei da oferta e procura, podendo talvez não ser mais aquela atividade lucrativa que está sendo.

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Sr. Edemilson,

Não tenho dúvidas que leite continuará a ser um bom negócio. Tratarei desse assunto no próximo artigo.

Paulo Martins
MARCELLO DE MOURA CAMPOS FILHO

CAMPINAS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 23/02/2007

Caro Paulo Martins,

Parabéns pela segunda parte do artigo. Na construção dos cenários que apontam em 2025 excedentes variando entre 5,6 a 13,6 bilhões de litros foram consideradas taxas de crescimento variando entre 2% e 3% para produção de leite e variando entre 2,0% e 3,0% o para consumo.

Vi em publicação do IBGE que a taxa de crescimento da população em 2004 - por esse trabalho avalio que a taxa de crescimento em 2025 deverá ser da ordem de 0,80%, e portanto me parece razoável considerar uma taxa média de crescimento no período de 2005 a 2025 da ordem de 1,12% ao ano, e que a população brasileira em 2025 estará em torno de 231 milhões de habitantes.

Com as taxas de crescimento de 1,2% e 1,5% ao ano, o consumo em 2025 seria da ordem de respectivamente 31,6 e 33,4 bilhões de litros, e que para uma população de 231 milhões de habitantes representaria consumos per capita de respectivamente 136,8 e 144,6 litros por habitante ano, ou seja, manter o consumo per capita atual ou um crescimento pífio do mesmo, e acredito que isso aconteceria no caso de incompetência de toda cadeia do leite, que teria sido incapaz de mudar esse quadro num período de 18 anos.

Ora, mesmo no cenário com a maior taxa de crescimento de produção, se o consumo per capita passasse para 195,7 litros por habitante ano, sem contar com exportações, só o consumo interno absorveria toda a produção.

Mas, como disse em comentário do artigo anterior, concordo que existe um risco grande de termos excedentes significativos. E acho que isso poderá realmente acontecer se não forem resolvidos no tempo certo os seguintes grandes desafios estruturais:

a) assegurar que o crescimento da renda média real familiar e que programas sociais eficazes dos Governos Federal, Estaduais e Municipais permitam que as camadas menos favorecidas possam ter acesso ao leite viabilizando um consumo per capta da ordem de 180 litros ano;

b) assegurar que a qualidade no leite nacional, o custo de produção de leite lácteos e o "custo Brasil" possibilitem que o Brasil ocupe um lugar entre os grandes exportadores.

Justamente para que essas questões sejam debatidas em profundidade e monitoradas ao longo do tempo, evitando ou pelo menos minimizando riscos de crises, é que a Leite São Paulo em 30 de janeiro passado enviou à Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Leite e Derivados proposta de criação do Grupo Temático Permanente de Política e Planejamento do Setor Leiteiro, visando o estabelecimento de um fórum adequado para que iniciativa privada e o setor público possam propor e acompanhar as ações estratégicas de importância para o setor, como por exemplo evitar ou reduzir a possibilidade de grandes excedentes de leite no futuro. Contamos com seu apoio e o da Embrapa para essa proposta.

Abraço

Marcello de Moura Campos Filho

<b>Resposta do autor:</b>

Caro Dr. Marcelo,

Você enumera questões que necessitam ser tratadas pela cadeia do leite nacional. No próximo artigo este será o assunto em questão.

Paulo Martins

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