Normalmente, não é uma boa ideia analisar a dinâmica da produção de leite através de médias, em um país continental e diverso como o Brasil, ainda mais levando em conta a heterogeneidade de sistemas, escalas de produção e da eficiência produtiva e econômica entre produtores. Quer ver?
Crescimento relativo do leite brasileiro em diversas regiões (2000 = 1)
O gráfico acima mostra o crescimento de algumas regiões leiteiras brasileiras. Chama a atenção a linha preta: é a região que representa os Campos Gerais do Paraná, onde estão as cooperativas Castrolanda, Frísia, Capal e Witmarsum. De 2000 para 2022, essa região crescendo 5,4% ao ano. O mais interessante é que, de 2015 para 2022, o crescimento subiu para 7,3% ao ano, na mesma época em que a produção brasileira estagnou, com crescimento de menos de 0,4% ao ano.
O que explica isso?
Será uma região “melhor” para se produzir leite? Talvez haja um ponto aí, sem dúvida, com as culturas de inverno e chuvas mais regulares. Mas isso tem uma consequência: a valorização as terras. Se você conseguir achar um hectare para comprar, vai pagar talvez R$ 150.000 – R$ 200.000. São terras altamente competitivas para a agricultura comercial, que lá está bem estabelecida. Portanto, o leite cresceu em uma bacia leiteira com muitas alternativas boas para o uso da terra. Usando a lógica econômica, deve ser uma boa atividade por lá.
O que mais explica o sucesso do “cluster” de produção lá existente, além das supostas condições naturais?
Na minha visão, ao longo de décadas foi formada toda uma estrutura de suporte que moldou o ambiente de negócios na região, desde pesquisas aplicadas às condições locais, até uma estrutura cooperativista forte e que está conectada com os grandes players do mercado. Mas há algo mais “soft”: um nível de conflito e ruídos entre os agentes da cadeia muito menor do que em outras regiões. Por lá, a cadeia amadureceu. O mercado é cíclico, e terá momentos piores e melhores. Vamos focar onde podemos melhorar, criando uma agenda positiva em que o tempo gasto com “briga” e “oportunismo” é trocado pelo tempo gasto para se criar um futuro melhor para todos. Acho que o segredo do “mistério” é esse.
Portanto, o problema é do “leite”? Ou é de como estamos organizados e como vemos a atividade?
Cada vez mais, o sucesso de quem produz vai depender de onde você está. Um cluster estruturado e sólido te leva para a frente.
A coluna "Um gráfico, uma análise" traz aos leitores uma informação rápida e ao mesmo tempo educativa, provocando reflexões e ideias. Se você tem uma sugestão para realizarmos uma breve análise, envie pra gente através deste formulário.