Os acasalamentos nas propriedades leiteiras tendem obviamente a serem orientados para a produção de fêmeas de reposição para a produção de leite. Porém, é salutar refletir que grande parte dos machos nascidos são, na sua maioria, descartados, sacrificados ao nascer ou criados sob condições precárias, apresentando altos índices de morbidade e mortalidade (NETO et al., 2004). Estes mesmos autores ainda registram que esses animais não interessam aos invernistas, uma vez que não apresentam bom desempenho em criações extensivas. Acrescentam que já em outros países, que muito se diferem do Brasil, muitos “machos leiteiros” têm sido aproveitados para a produção de carne.
Por outro lado, a ordenha com apojo do bezerro é praticada pela grande maioria dos produtores na parte tropical do Brasil. Em levantamento realizado em 1000 fazendas em Minas Gerais, 91% delas utilizavam a amamentação natural, variando de 98% em fazendas produzindo menos de 50 litros por dia, até 50% nas que produziam mais que 1.000 litros por dia (FAEMG, 2006 apud MADALENA, 2012). Nessa amostra, os machos constituíam 28% do rebanho e as receitas provenientes de venda de animais representavam 19% da receita total, sendo esta prática bastante comum nas propriedades. Para Madalena (2012) além de rentável, esse sistema proporciona maior flexibilidade para o fazendeiro se adaptar às mudanças nos preços relativos dos animais e do leite.
O aproveitamento dos “machos leiteiros” faz crer na predominância do modelo de vacas ordenhadas manualmente com bezerros "ao pé" (NETO et al., 2004). Nos países em desenvolvimento, já se sabe que para se conseguir aumento no lucro na atividade leiteira bovina, não apenas a venda de leite, mas também a venda de bezerros e a diminuição dos custos com alimentação tornam-se fundamentais para a receita (MADALENA, 2012). Conforme o autor, assim, a criação de bovinos cujos machos são viáveis para produção de carne e destinação para abate tem apresentado vantagens sobre sistemas exclusivamente leiteiros.
Os machos do genótipo F1 apresentam, segundo trabalhos referenciados por Madalena (1998), boa performance, exibindo bom ganho de peso e boa conversão alimentar. De acordo com Neto et al. (2004), os animais têm potencial de crescimento, mas a viabilidade de sua criação esbarra nos elevados custos de produção. Dieta composta por alimentos de bom valor nutritivo, rações completas balanceadas ou pastagens bem manejadas em terrenos férteis são pré-requisitos para um bom desempenho.
Pesquisas avaliando a performance produtiva dos indivíduos machos F1 de raças leiteiras comparados aos animais de raças puras são extremamente escassas. No entanto, Flôres et al. (2004) avaliando o ganho de peso de bezerras e novilhas de diferentes graus de sangue do cruzamento de Holandês e Guzerá, constataram que a heterose individual foi muito importante para o crescimento ponderal de novilhas, sendo que o grupo F1 (1/2 sangue) apresentou as maiores taxas de ganho na fase de crescimento a pasto e na fase posterior. Segundo esses autores, o tipo de cruzamento influencia a taxa de crescimento, em razão da heterose. Eles também afirmaram que em vários trabalhos de cruzamentos entre Holandês e zebu, os animais F1 apresentaram o maior ganho de peso até os dois anos de idade. Este resultado permite supor que machos F1 resultantes de cruzamentos podem apresentar desempenho satisfatório em termos de ganho de peso e rentabilidade ao abate.
Macho F1 Gir x Holandês
Dados não publicados de forma científica e relatos de produtores levam a crer que embora não seja este o objetivo principal de sua implantação, o cruzamento entre raças leiteiras pode favorecer a obtenção de receita adicional na venda dos machos resultantes. Abordando a utilização da linhagem leiteira dos zebuínos da raça Guzerá no cruzamento com o Holandês, onde é formado o Guzolando, Santos (2013) destaca que o macho F1 é excelente para o confinamento ou para ser mantido no campo.
Ao elucidar as características dos produtos oriundos do cruzamento entre Gir Leiteiro e Holandês (Girolando), Santos (2013) também acrescenta que além do leite produzido por um gado manso, os machos são rentáveis no abate, garantindo uma renda extra para a fazenda. Conforme o autor, aritmeticamente, o Girolando garante a subsistência das pequenas e médias fazendas. Em países da Europa, o cruzamento envolvendo apenas raças taurinas leiteiras também se demonstra favorável para a obtenção de machos com bom valor comercial.
Machos oriundos do cruzamento entre Gir Leiteiro e Holandês são rentáveis no abate (SANTOS, 2013).
E na sua propriedade? Qual é o destino dado aos machos? Compartilhe a sua experiência conosco!
Referências bibliográficas
FLÔRES, A. A.; MADALENA, F. E., TEODORO, R. L. Desempenho Comparativo de Seis Grupos de Cruzamento Holandês/Guzerá. 12. Ganho de Peso de Bezerras e Novilhas. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 33, n. 6, p. 1695-1702, 2004.
MADALENA, F. E. F1: Onde estamos e aonde vamos. Cadernos Técnicos da Escola de Veterinária da UFMG, Belo Horizonte, n.25, p.5-12, out. 1998.
MADALENA, F. E. A contribuição da F1 de gado de leite e as estratégias de sua utilização. In: Simpósio Brasileiro de Melhoramento Animal, 9., 2012, João Pessoa: SBMA, 2012. Disponível em: < https://sbmaonline.org.br/anais/ix/palestras/pdf/Palestra01.pdf>. Acesso em 26 set. 2015.
NETO, A. M. et. al. Bezerros terminais de corte podem viabilizar sistemas de produção de leite. In: Informe Agropecuário. Belo Horizonte: Epamig, v. 25, n.221, p. 25-31. 2004.
SANTOS, R. Zebu: A pecuária sustentável – Edição comemorativa dos 75 anos de Registro Genealógico e 80 anos da ABCZ. Uberaba: Agropecuária Tropical, 2013. 856 p.