A resistência antimicrobiana (RAM) é um tema de crescente preocupação tanto para a saúde humana quanto animal, exigindo o uso responsável de antibióticos na produção leiteira. Os antibióticos são ferramentas essenciais nas fazendas leiteiras para o tratamento da mastite, que é a principal razão para o uso de antibióticos nos sistemas de produção de leite.
Além do tratamento da mastite clínica, que ocorre durante a lactação, o tratamento de vaca seca é uma medida de fundamental importância para a eliminação de infecções intramamárias no final da lactação. No entanto, com a implantação de programas de controle, muitas fazendas apresentam uma alta porcentagem de vacas sadias (sem mastite) no final da lactação. Essas vacas não necessitariam de tratamento de vaca seca com antibióticos, mas sim de medidas preventivas contra novas infecções, como o uso de selantes internos de tetos. Os selantes de tetos imitam a defesa natural das vacas contra novas infecções, criando uma barreira física durante todo o período seco.
Um estudo recente de meta-análise avaliou a eficácia do uso de selantes de tetos na prevenção de novas infecções e mastite clínica pós-parto em estudos publicados de 1985 até 2021. As meta-análises permitem combinar resultados de estudos realizados em diferentes condições para obter resultados mais confiáveis e com maior respaldo científico. Foram selecionados estudos que compararam o uso de selantes de tetos (sem combinação com tratamento de vaca seca) com um grupo de controle que não recebeu tratamento, avaliando o risco de novas infecções pós-parto e de mastite clínica nos primeiros 30 dias de lactação.
A revisão abrangeu 13 estudos de cinco países diferentes e dados de 83 fazendas. Os resultados desta análise indicaram que o uso de selantes de tetos reduziu em cerca de 71% as chances de novas infecções intramamárias no parto (OR = 0,29, IC 95% = 0,27–0,32). A análise de OR (odds ratio ou razão de chances) compara as chances de uma resposta ocorrer entre dois grupos diferentes, enquanto o IC 95% (intervalo de confiança) ajuda a entender a confiabilidade e a faixa de variação dos resultados entre os estudos.
Neste caso, um OR de 0,29 significa que as vacas tratadas com selantes de tetos tiveram 71% menos chances (com um intervalo de confiança de 73 a 68%) de desenvolver novas infecções no pós-parto em comparação com o grupo de vacas que não foi tratado com selantes. Da mesma forma, o uso de selantes reduziu em 53% as chances de ocorrência de mastite clínica nos primeiros 30 dias de lactação (OR = 0,47, IC 95% = 0,42–0,51) em comparação com o grupo controle que não recebeu tratamento com selantes de tetos.
Os resultados deste estudo de meta-análise representam os dados mais atualizados sobre a eficácia dos selantes internos de tetos, que podem ser considerados excelentes ferramentas para a prevenção de novas infecções intramamárias pós-parto e de mastite clínica no início da lactação. Com base na eficácia do uso de selantes, tornou-se possível adotar o conceito de terapia seletiva na secagem.
Nesse contexto, o tratamento de vacas secas com antibióticos apenas seria necessário para as vacas com mastite subclínica no momento da secagem, enquanto as vacas saudáveis (por exemplo, aquelas com CCS < 200.000 células/ml e sem histórico de mastite clínica nos últimos 3 meses de lactação) poderiam ser tratadas apenas com selantes de tetos, sem a necessidade de tratamento com antibióticos. Em um cenário de uso responsável de antibióticos na produção leiteira, o uso de selantes de tetos é uma ferramenta confiável e segura para a prevenção de infecções mamárias durante o período seco.
Em resumo, é recomendável o uso de selantes em combinação com o tratamento de vacas secas para as vacas com mastite subclínica no final da lactação e o uso isolado de selantes para as vacas saudáveis no final da lactação. É importante ressaltar que, para a implementação da terapia seletiva na secagem, a fazenda deve possuir um programa de controle de mastite bem estabelecido e o rebanho deve apresentar baixa contagem de células somáticas média no tanque (< 250.000 células/ml), além de uma rotina eficiente de diagnóstico de mastite clínica em todas as ordenhas e monitoramento mensal da CCS individual das vacas em lactação.
Sem esses dados, não é possível identificar com segurança as vacas saudáveis no final da lactação, que poderiam ser tratadas apenas com selantes de tetos. Para rebanhos que não disponham dessas informações e tenham uma CCS elevada, a estratégia mais recomendada durante a secagem é o tratamento de vaca seca para todas as vacas, juntamente com o uso de selantes na secagem, proporcionando resultados eficazes na cura e prevenção da mastite no período seco.
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Fonte: Pearce et al., Prev. Vet. Med. 2023 (doi.org/10.1016/j.prevetmed.2023.105841)