No 16º Fórum MilkPoint Mercado, o segundo bloco concentrou-se na temática da "Competitividade da produção de leite: onde estamos?"
Expedito Netto inaugurou as palestras com uma análise dos resultados e avanços do programa Educampo, do Sebrae-MG. Ele destacou o crescimento da participação de confinamento, a importância crucial da gestão para aumentar a eficiência e manter a atividade, a evolução da produção de leite por hectare e seus efeitos nos níveis de qualidade.
Um ponto central abordado foi o sistema de pagamento do leite, que remunera tanto por volume quanto por qualidade, oferecendo níveis superiores para os sistemas confinados.
Ao analisar o histórico de custos de produção por litro, Expedito destacou que o fechamento de 2023 foi desafiador para os produtores de leite, com o preço caindo abaixo do nível de equilíbrio do custo de produção.
Expedito Netto ressaltou a importância da previsibilidade de mercado para os produtores, permitindo estratégias de investimento mais assertivas e a capacidade de mitigar riscos em períodos adversos. Ele salientou que as fazendas geralmente têm dificuldade em ajustar os custos com rapidez suficiente para compensar quedas nas receitas, destacando a necessidade de um controle estratégico de médio prazo dos custos de produção.
Outro ponto crucial foi a correlação entre a produtividade por vaca e o custo de produção por litro de leite, indicando que produtores mais eficientes tendem a ter custos menores de produção. No entanto, produzir mais implica em gastos maiores e, inevitavelmente, demanda um maior nível de investimento.
Na sequência, Ronaldo Macedo, CEO da CIA do Leite, ampliou a discussão para as mudanças em curso no mundo e a constante inovação na cadeia produtora de leite.
No contexto da cadeia do leite no Brasil, mesmo com avanços, há um reconhecimento de que a atividade está defasada em relação a outros países. A falta de controle de custos e outros aspectos, como estrutura, manejo, dieta e sanidade, são evidenciados como áreas a serem melhoradas.
A mudança, enfatizou o palestrante, não acontecerá sem investimento. Ele apontou a necessidade de uma mudança na relação comercial e gerencial dentro da cadeia do leite, entre indústrias e produtores, com propostas de fornecer vacas de alta produção para produtores menores como uma das possibilidades.
Para fechar o bloco, Gonzalo Berhongaray, do CREA da Argentina, discutiu aspectos da competitividade da produção de leite na Argentina.
No panorama das exportações argentinas, onde o país se destaca como o décimo maior exportador, os lácteos representam apenas 2% do total das exportações agrícolas. Este cenário contrasta com o elevado consumo interno de lácteos, que corresponde a cerca de 75% de toda a produção nacional, deixando apenas 25% para exportação.
Em algumas regiões do país, há uma competição de terra com outras produções agrícolas, como a bovinocultura de corte, o cultivo de milho, trigo, entre outros.
A distribuição da produção de leite na Argentina mostra que 30% ocorre em sistemas extensivos, a pasto, 33% em sistemas mistos e 37% em sistemas intensivos. Independentemente do sistema, a produção de leite apresenta margens brutas superiores às de outras atividades agrícolas. Os custos são distribuídos, sendo 56% relacionados à alimentação, 16% à cria e recria e 4% às forrageiras.
No entanto, nos últimos anos, houve uma redução na margem bruta da produção de leite em relação ao histórico do país, acompanhada por um significativo aumento nos custos com alimentação concentrada.
As estratégias adotadas pelo país incluem foco no bem-estar animal, melhoramento genético, nutrição, eficiência e sustentabilidade ambiental. Algumas fazendas estão buscando produzir mais com menos, adotando práticas que reduzem o uso de insumos, por exemplo.
Apesar da boa competitividade no mercado internacional, a produção na Argentina enfrenta diversos desafios, como infraestrutura precária, incluindo estradas rurais e instalações inadequadas em alguns laticínios, que resultam em baixa eficiência. Questões econômicas, como a falta de crédito e financiamento, e lacunas políticas, onde o país carece de uma política leiteira clara, também são limitantes significativos.
Em conclusão, a competitividade do setor lácteo argentino é impulsionada pela disponibilidade de terra e vantagens competitivas em diferentes sistemas de produção, além das tecnologias que têm impulsionado o crescimento do setor. No entanto, a falta de políticas públicas eficazes representa um desafio significativo para a sustentabilidade e o desenvolvimento contínuo do setor.