As vacas da fazenda de Michael Oakes, em Cadbury, Reino Unido, eram ordenhadas três vezes ao dia. Essa rotina terminou semana passada. “Um funcionário avisou que sairia e eu não tenho condições de substituí-lo. Então, reduzimos as ordenhas para duas vezes por dia – às cinco horas da manhã e às cinco horas da tarde”, disse ele, que sempre trabalhou como produtor de leite.

Ele tem uma fazenda com 180 animais da raça holandesa – mais de duas vezes a média do rebanho no Reino Unido, que é de 70 vacas, mas, apesar do tamanho da fazenda, Oakes avalia que deverá perder £160.000 (US$ 239,67) em receita nesse ano após a forte queda nos preços do leite. Assim como o petróleo, os preços mundiais do leite caíram em resposta a um desequilíbrio entre oferta e demanda. A produção global de leite está aumentando em 5% ao ano, enquanto a demanda está crescendo apenas 2%, de acordo com a unidade da Arla Foods do Reino Unido.

A desaceleração econômica da China reduziu sua demanda, enquanto a Rússia no ano passado impôs um embargo aos produtos lácteos da União Europeia (UE) em resposta às sanções. Os dois países representavam 30% dos produtos lácteos comercializados globalmente.
Os altos preços do leite em 2013 estimularam uma maior produção e o bom clima do ano passado, resultando em boas pastagens no Reino Unido, levou a maiores rendimentos na produção de leite.

Os preços no Reino Unido caíram em 25% desde o final do ano passado para o menor valor em 7 anos: cerca de 20 centavos de euro (29,95 centavos de dólar) por litro. Porém, o custo de produzir um litro de leite no Reino Unido é de 28 centavos de euro (41,94 centavos de dólar), de acordo com os analistas.

Isso tem contribuído para um péssimo declínio da indústria de lácteos do Reino Unido, de acordo com o presidente da União Nacional de Produtores Rurais, Meurig Raymond. A First Milk, outra cooperativa, disse recentemente que seus 1.200 produtores de leite teriam seu pagamento atrasado por 15 dias, citando “um ano de volatilidade nunca antes visto”.

Há mais incertezas no caminho: a abolição do velho sistema de cotas de produção de leite da UE, que durou três décadas, no começo de abril. Isso permitirá que países como Irlanda e Alemanha produzam o quanto de leite quiserem, potencialmente fornecendo mais competição aos produtores de leite britânicos.

Os membros do Parlamento britânico disseram na semana passada que os produtores de leite precisam de mais proteção contra os preços voláteis e pressão dos supermercados. Porém, o Consórcio Varejista Britânico, representando os maiores supermercados, defendeu a decisão dos varejistas de vender leite com perdas, visando atrair consumidores a suas lojas. “Alguns varejistas individuais reduziram o preço do leite aos consumidores das lojas, mas eles sozinhos estão pagando pela redução de preço – não os produtores”, disse o diretor do consórcio, Andrew Opie.

Alguns supermercados – principalmente Waitrose, Marks and Spencer, Tesco e J Sainsbury – têm contratos de fornecimento com processadores e produtores que pagam um valor negociado acima dos custos de produção de leite. Esses contratos significam que a maioria dos supermercados está pagando preços melhores pelo leite fresco do que as cooperativas pertencentes a produtores. Entretanto, menos de 15% dos produtores têm proteção desses contratos, com a maioria vendendo aos processadores de leite.

Oakes argumenta que o corte de preços do leite pelos supermercados coloca pressão sobre os processadores de leite e, por sua vez, sobre os produtores. “Os supermercados dizem que se trata de uma decisão comercial, mas isso desvaloriza nosso negócio e tende a ter um efeito negativo na cadeia de fornecimento”, disse ele.
A NFU culpa a queda e a volatilidade dos preços o fato de número de produtores de leite na Inglaterra e País de Gales ter caído pela metade nos últimos 12 meses, para menos de 10.000. Entretanto, essa queda também reflete a consolidação da indústria e um aumento nos rendimentos de produção do leite como resultado de fazendas leiteiras mais intensivas. Uma vaca média produzia 14% mais leite em 2013, comparado com uma década anterior, enquanto o tamanho médio do rebanho também aumentou, de acordo com o DairyCo.

O ministro da agricultura, George Eustice, disse que os baixos preços são um evento de curto prazo, causados pelos altos preços de 2013 e que a oferta e demanda se reequilibrarão.

A NFU, os processadores de leite e o governo concordam que a previsão de longo prazo para os lácteos é boa, à medida que a crescente classe média da China, África e Rússia demandam melhor nutrição. Porém, nesse meio tempo, Oakes colocou seus planos de investimentos de lado. Ele disse que seus filhos “não querem trabalhar na fazenda – eles decidiram que há mais para viver do que ordenhar vacas”.

Primeiro Ministro oferece esperança ao setor

O Primeiro Ministro britânico, David Cameron, disse que a indústria de lácteos deveria estar sob supervisão de um órgão de inspeção para evitar práticas injustas. Ele solicitou que a organização Groceries Code Adjudicator receba o poder de monitorar a indústria de leite.

Cameron disse isso em resposta à pergunta do Membro do Parlamento, Glyn Davies, que pediu ajuda para que os produtores recebam um preço justo e dentro do prazo. “Eu acho que é importante que avaliemos como podemos apoiar as fazendas leiteiras em um momento em que temos preços baixos do leite. Essa é uma indústria importante para o país e sei de várias coisas que podemos fazer”.

As informações são do The Financial Times e do Shropshire Star, traduzidas e adaptadas pela equipe MilkPoint.

Em 27/01/15 – 1 Libra Esterlina = US$ 1,49796
0,66668 Libra Esterlina = US$ 1 (Fonte: Oanda.com)