Dias (ainda mais) difíceis pela frente
Espaço aberto: Como sabe todo produtor, o concentrado para nossos animais impacta nossa estrutura de custos em 30%. Um pouco menos em meses bons, um pouco mais nos meses de entressafra dos produtos. Não fiz as contas (desculpem, deveria ter feito, mas faltou "tempo") da minha nova estrutura de custos, mas a participação do concentrado aumentou muito, coisa próxima dos 10%, o que é selvagem (fiquei com essa coisa de selvageria na cabeça e agora digito) e perigoso para a atividade.
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Eventuais olhadas nos noticiários na internet e conversas com alguns vizinhos deixavam-me preocupado. A soja continuava a subir.
Mas, uma coisa é ouvir dizer ou ler a respeito, outra, muito diferente, é aparecer para comprar a soja do mês seguinte, o que vim a fazer num dia qualquer do começo de julho. O vendedor, que me atende há vários anos, olhou para mim com uma cara que misturava tristeza com preocupação e alertou-me:
- Olha, a coisa tá braba, se prepare.
Sorri e disse que não tinha problema.
Vã ilusão. Imaginava algo como 60 reais...
E apareceu na tela do computador, virada para mim, inimagináveis 78 reais. Quase tive um treco qualquer, daqueles de chamar o pessoal do pronto atendimento sempre prontos a salvar vidas e aliviar sofrimentos. Mas não tive. Rapidamente, o vendedor disse que tinha um descontinho e, pelo sim, pelo não, comprei a soja a 74 reais.
Um aumento brusco, repentino, selvagem, completamente irreal de 80,5%!
Misericórdia, 80%?!
Pior: sabia, sem precisar fazer pesquisa que aquele era o melhor - o melhor, pasmem! - preço que eu encontraria na minha região, no interior paulista.
Creio que dois dias depois recebi a nota do laticínio com o valor referente ao leite produzido e entregue no mês de junho. Uma revolta funda, surda, profunda brotou. Os míseros 82 centavos (de real e não de dólar, como bem sabe todo produtor) despencaram para 80 centavos, numa queda de 2,5%. Esse foi o valor base pago pelo meu leite, ao qual foram agregados três bônus por qualidade. Que pouco contribuíram para amenizar de fato o quadro.
Hoje vou comprar soja. O preço de lista é de 80 reais a saca de 50 kg. Negociada, vai sair por 75, com um aumento de 1,4% em relação ao preço de julho e um aumento de 83% em relação ao preço de abril.
Ontem o caminhão "do leite" trouxe a nota do laticínio com o valor pago pelo leite entregue no mês de julho. O valor base despencou novamente, agora de 80 para 78 centavos. De real. Novamente, uma queda de 2,5% no valor.
Entendo que a indústria faz isso por necessidade e não por, desculpem a expressão, sacanagem?
Sim, entendo. Faço uma reclamação formal, meramente para registro da insatisfação. Não tenho ilusões, conheço um pouquinho do funcionamento do mercado e o nosso mercado, o do leite e seus derivados, é um mercado triste. Apesar de produzirmos, toda a cadeia do leite, um alimento indispensável à nossa própria sobrevivência e a uma vida saudável, nosso produto principal é vendido a preço "de pinga".
Pensando bem, antes fosse verdade, pois o "preço de pinga" é muito mais elevado, muito, mas muito mais alto que o preço do leite. E se uma não presta para nada, apenas para desgraçar famílias, o outro é justamente o contrário. Contradições da sociedade em que vivemos.
Então, ficamos assim: a soja está 87% mais cara e o leite 5% mais barato.
Não falei do milho, né?
Precisa? Creio que não, todos sabem que esse produto está com o preço também nas alturas, embora não tanto quanto a soja.
Não mudo minha ração: fubá, farelo de soja, polpa cítrica e núcleo mineral. Não acredito em mudança de fonte de proteínas, pois a soja é insuperável. A única providência foi uma mudança pequena no teor de ureia que já adicionávamos, quando a soja estava cara, muitos meses atrás. Coisa pouca, mas reduz um bocadinho a participação do caviar, digo, da soja no trato das vacas e bezerras. As outras fontes de proteína, além de sujeitas a problemas de fornecimento pela demanda aquecida, também estão caras. Penso que mudar a ração, readaptar os animais a uma nova dieta, depois mudar novamente, nova adaptação, num vai-e-vem chato, caro e pouco produtivo, não é interessante. Andei fazendo umas contas e a economia que eu teoricamente teria, no papel, é pouco significativa.
Estou preso à soja e ao milho. A polpa é boa ajuda, mas por si só não resolve muita coisa, mesmo porque a diferença para o milho é pequena.
Como sabe todo produtor, o concentrado para nossos animais impacta nossa estrutura de custos em 30%. Um pouco menos em meses bons, um pouco mais nos meses de entressafra dos produtos. Não fiz as contas (desculpem, deveria ter feito, mas faltou "tempo") da minha nova estrutura de custos, mas a participação do concentrado aumentou muito, coisa próxima dos 10%, o que é selvagem (fiquei com essa coisa de selvageria na cabeça e agora digito) e perigoso para a atividade.
Enquanto tudo isso acontece, o cidadão urbano lê ou ouve com inveja sobre a felicidade espantosa dos produtores de soja e milho, bafejados por preços extraordinários. Pois é, antes fosse realmente verdadeiro, o que não acontece inteiramente, bem sabemos.
Poucos minutos antes de começar a escrever, acabara de ler o excelente artigo do professor e pesquisador Marcos Fava Neves, com o título "Os impactos da seca", aqui mesmo no MilkPoint.
Assustador.
Se você é produtor de leite e o teu coração não anda lá muito bem, não leia (brincadeira de escritor pobre... leia sim, é muito importante para termos uma visão realmente global da situação).
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Material escrito por:
Emerson Gonçalves
Produtor de leite em Santa Rita do Passa Quatro em tempo integral, principalmente nos finais de semana. Colunista do portal GloboEsporte, autor do Olhar Crônico Esportivo.
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JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
EM 24/03/2013

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
EM 24/03/2013

GOIÂNIA - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 18/09/2012

ALTO BELA VISTA - SANTA CATARINA - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 14/09/2012
JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO
EM 31/08/2012
Estive fora do Brasil nos últimos 2 anos e, acompanhando a evolução dos preços do leite por aqui, ficava alarmado com a elevação ocorrida, ao ponto de termos o leite com maior preço pago ao produtor do mundo, perdendo apenas para o Japão, Israel e alguns outros poucos países ricos. Infelizmente a história se repete: produtores nossos, como sempre, entupindo suas vacas com concentrado, aumentando suas médias de produção e com os custos disparando ao ponto de se inviabilizarem. A médio prazo o esperado seria aumento do preço dos insumos usados na formulação dos concentrados. O ciclo se repete. Infelizmente o que se vê em seguida são as lamentações e as quebradeiras, vacas que não emprenham e outros problemas com a saúde do rebanho. Para fechar o ciclo, como sempre ocorreu no passado, a culpa não é dos produtores imediatistas, que só pensam no aumento da receita momentânea, mas do governo, da falta de política para o setor, etc. A lei da oferta e da procura não pode ser revogada pelo congresso ou vetada por governo algum, é ditada pela força do mercado. Vamos aprender com a história e com a adoção de tecnologias mais adequadas ao nosso ambiente tropical: soja e milho, antes de atenderem a vacas leiteiras (como "suplemento alimentar") tem que servir de alimento para monogástricos como suínos e aves e milho para alimentação humana. Com os preços do leite nos patamares que chegaram era de se esperar que nossos produtores fizessem caixa e aproveitassem melhor do momento. Serviu apenas para aqueles astutos e bem preparados, a maioria se preocupou em aumentar volume de leite produzido a qualquer custo, sem levar nenhuma vantagem nesse processo.
JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 31/08/2012
Um abraço,
GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO
FAZENDA SESMARIA - OLARIA - MG
=HÁ SETE ANOS CONFINANDO QUALIDADE=

RIALMA - GOIÁS - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO
EM 23/08/2012

ADAMANTINA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAPRINOS DE CORTE
EM 22/08/2012
IPERÓ - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 21/08/2012
Sou produtor da Cidade de Iperó-SP.
Novo no ramo, ainda não tenho toda estrutura necessária para fugir desses impasses, mas pelo 1 ano de atividade, tenho produção até que expressiva, chegando a 750 L/Dia neste mês.
Hoje uso Cana Uréia e Ração 18% de uma cooperativa.
Tenho planejamento de Roça de Milho arrendada para o ano que vem e intenção de construção do barracão de alimentação, para produzir minha própria ração.
Por hora minha situação é pior ainda do que a dos amigos, pois não tenho minha própria "bóia", ou seja, estou nas mãos da Capal - Cooperativa do Paraná.
Até o começo do ano, eles praticavam aceitáveis R$ 0,58 / kg, em comparação a médios/grandes estabelecimentos agropecuários.
Neste mês de Julho paguei absurdos R$ 0,78, o que ainda "vale a pena" no meu caso, porém esses "furos a mais em meu cinto" vem diminuindo cada vez mais, e jajá sinto que não terei como "apertá-lo" mais.
Queria ter idéia, para fim de eleição de prioridades de investimento, através de um financiamento que estou pleiteando junto ao BNDES, sobre custo de ração produzida internamente.
A pergunta é: Quanto custa HOJE o kg de ração de vocês? E em circunstâncias "normais"?
Grato

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
EM 21/08/2012
Já formulava ração com amendoim muito antes da soja encarecer, o que vejo com desvantagem é a não padronização do produto quando comparado com a soja. Entretanto quando as partidas de amendoim vem com bastante óleos (extrato etéreo) a ração fica show.
Parei de dar amendoim devido já também ter ficado muito caro, pelo menos aqui 61 reais / saco. Estava vendo nos meus custos anteriores vi preço de amendoim de 32 reais, e ainda vejo como vantagem o amendoim é que a gente sai da dolarização, uma vez que a soja é cotada em dólar. A única desvantagem que vejo é a não padronização do produto pelo menos com os que já trabalhei. Já aflotoxina é comum em todos os grãos armazenados.
JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 19/08/2012
Prezado Emerson Gonçalves: Temo que abaixar a quantidade de ração não vai resolver o problema, já que, em proporção inversa, estas vacas citadas irão secar e o prejuízo com a queda pode ser maior. Melhor seria, mesmo, substituir nutrientes para manter o nível proteico da ração. Feno é volumoso e não substitui a soja.
Um abraço a ambos,
GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO
FAZENDA SESMARIA - OLARIA - MG
=HÁ SETE ANOS CONFINANDO QUALIDADE=

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
EM 19/08/2012

ITAPERUNA - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 18/08/2012

ITUMBIARA - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 18/08/2012

LORENA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 17/08/2012
o produtor é um bravo lutador tem o bolsa familia e não tem bolsa produtor

BOM DESPACHO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 17/08/2012
Realmente nós temos a faca e o queijo na mão, pena que ainda somos desunidos, mas creio que um dia ainda vamos nos unir. Nós produtores rurais somos muito mais fortes que imaginamos, nós temos o poder de exterminar a raça humana da face da terra, basta que todos os produtores agropecuarios do mundo desistam de produzir. Acreditem nós aqui do campo temos o mesmo poder do arsenal nuclear, se desistirmos matamos toda a raça humana.
CARRANCAS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 17/08/2012

SANTA RITA DO PASSA QUATRO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 17/08/2012
Por sinal, conheço Camacan. Fui inúmeras vezes para Ilhéus, fazendo vídeos sobre o uso do Roundup no cacau, gravando a fábrica e atividades da Cargill, etc.
Lembro com saudades de uma fazenda em Camacan onde sempre tinha "mel de cacau" bem gelado.
Ô negócio que vicia de tão gostoso que é!
Bom, qualquer atividade pecuária ou agrícola tem que levar em consideração a natureza do local, suas características, distâncias das fontes de suprimentos, etc.
Não dá para inventar.
Ouvi dizer mais de uma vez que o amendoim-forrageiro vai muito bem por aí, até por ser nativo. Aqui eu plantei um pouco, mas não deu grande coisa. Desisti.
Enfim, cada local com sua própria realidade e soluções.
SÃO FIDÉLIS - RIO DE JANEIRO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
EM 17/08/2012
CAJOBI - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 17/08/2012
Se possível vou anotar seu email de contato para tirar dúvidas com você, pretendo entrar para a atividade, mas to naquele "vô num vô"
Obrigado, forte abraço.