A imigração dos alemães que chegaram primeiro (1840) e ocuparam as áreas mais planas do estado e os italianos que vieram depois (1870) e ocuparam as terras mais elevadas caracterizam a etnia da região.
O estado que parece pequeno quando comparado a outros estados da Federação possui 497 municípios que juntos somam uma área de 281.730 km2. A título de comparação esta área é equivalente ao Equador (283.520 km2). A produção de leite é mais fortemente presente na região Noroeste do estado.
A produção em 2011 foi de de 4,1 bilhões de litros, 12,5% da produção nacional, conferindo ao estado o segundo lugar no ranking nacional.
A propriedade leiteira, onde tudo começa, é, em geral, pequena (12 a 15 ha), mas muito produtiva.
O rebanho, predominantemente holandês, tem características genéticas muito boas. As vacas do RS e de SC são as mais produtivas do país. Produzem em média 2400 litros/ano, enquanto no Brasil a produtividade média não passa de 1340 litros. A segunda raça mais presente nos rebanhos é a jersey.
A ordenha é mecanizada em praticamente 100% das propriedades. Não tive a oportunidade de conhecer e visitar nenhum produtor que ainda ordenha manualmente. Aqui cabe um comentário relevante. São muitas e variadas marcas de ordenhas, a maioria das quais fabricadas e/ou montadas no próprio estado. Grande parte delas são simples, sem canalização. Não é frequente a manutenção preventiva o que agrava as doenças da glândula mamária. A incidência de mamite subclínica é muito elevada no estado. A contagem de células somáticas dos rebanhos é alta.
Outro destaque do RS é que o estado foi o precursor no país no resfriamento de leite na fazenda com a coleta a granel. Este fato tem um lado bom pela inciativa e o pioneirismo desta forma eficiente de coleta de leite, mas por outro lado, o modelo de resfriamento implementado também não foi o melhor. Muitas propriedades iniciaram o resfriamento com tanques de imersão que são menos eficientes no resfriamento do leite, que primeiro resfria a água através de um sistema de serpentinas, depois o latão (tarro) e finalmente o leite. Não havendo agitação constante do leite no tarro o resfriamento completo demora e assim cria-se a oportunidade de multiplicação de bactérias, particularmente as psicrotróficas, muito prejudiciais ao leite. Na década de 90 tanques com “bancos de gelo” também foram inroduzidos. Alguns poucos produtores menores ainda guardam o leite em freezer.
O manejo às vezes precário da operação de frio juntamente com o processo de higienização das ordenhas contribuem para uma CBT (Contagem Bacteriana Total) elevada.
O modelo de coleta de leite no Rio Grande do Sul é um capítulo à parte. Em geral, quem tem o domínio das rotas de leite são os transportadores. Não é incomun o produtor desconhecer a empresa para a qual ele entrega a produção. A compra do leite muitas vezes é “bancada” pelo transportador que recebe da indústria por litro de leite transportado. Ainda são poucas as empresas que remuneram o frete por km rodado como acontece normalmente no Sudeste. Este sistema cria um conflito no processo de seleção do leite nas fazenas antes da coleta. O leite recusado representa perda para o transportador. Igualmente, cria um certo “estímulo” para as fraudes econômicas em geral por adição de água. É o que tem sido bastante revelado pela Operação “Leite Compensado” realizada nos últimos meses no estado.
Outro diferencial na atividade leiteira no estado é o elevado índice de inseminação artificial praticado. Tal fato explica a boa produtividade da vaca gaúcha. O mesmo cuidado não aconteceu no passado quanto a escolha de touros melhoradores dos sólidos. Em geral o teor de sólidos do leite é baixo. Muitas vezes, e dependendo da época do ano, o leite produzido apresenta teor de ESD (Estrato Seco Desengodurado) abaixo das exigências do Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal - RISPOA (8,4%). Este fato é agravado pela sazonalidade. Os dados abaixo, apresentados no gráfico, são médias das análises realizadas pelo Laboratório de Passo Fundo (Sarle) de 2009 a 2012. Nos meses mais quentes do ano o ESD é muito baixo. O fator genético associado a sazonalidade estão associados à depressão da lactose e da proteína.
Predominante o modelo de produção é familiar. Todo o trabalho é desenvolvido, principalmente, pelas famílias. A mulher trabalha muito, tanto quanto o homem na lida rural, em especial na atividade leiteira. São poucos os empregados contratados.
Uma ameaça para o setor leiteiro gaúcho é a sucessão da atividade. Os filhos dos colonizadores, que não são muitos por família, já não estão mais nas propriedades. Saíram para trabalhar nas cidades. Alguns motivados por novas oportunidades fora do tambo, outros pelo pequeno tamanho da terra. É comum visitar uma propriedade onde se encontra apenas um casal de produtores já com a idade avançada e sem muita perspectiva de retorno dos filhos para sucedê-los.
A grande oportunidade é a característica edafo-climática regional. Normalmente no estado ocorre chuvas durante todo o ano. No período de inverno, enquanto temos seca no Sudeste e Centro Oeste do Brasil, no RS acontece a safra (junho a agosto). O período frio, associado à chuvas favorece o crescimento das forrageiras de inverno, principalmente a aveia e o azevém. No período de verão é possível também produzir leite a pasto com forrageiras de verão. As gramas do gênero Cynodon são as que predominam nesta época do ano. Nos períodos de menos forragem a silagem de milho prevalece. Os agricultores gaúchos otimizam muito o uso da terra e a grande maioria cultiva o milho logo após o termino do ciclo da forrageira de inverno.
A suplementação com concentrados como em todo o país não é tecnicamente bem trabalhada. É possível alcançar ganhos de produtividade e redução de custos arraçoando melhor as vacas.
A assistência técnica e gerencial existe, mas deixa a desejar. Algumas empresas compradoras de leite têm inciativas que buscam suprir esta necessidade. Os órgãos públicos, em especial a EMATER, têm uma boa atuação no RS, focada principalmente no pequeno produtor.
As instituições relacionadas ao Setor são bem atuantes. No estado muitas foram as linhas de crédito disponíveis para todos os segmentos da cadeia produtiva. Recentemente foi criado o Instituto Gaúcho do Leite (IGL) com o propósito de trabalhar ações estratégicas para o setor.
O segmento industrial do leite no RS é bastante importante representado por grandes cooperativas e indústrias.
O estado exporta leite “in natura” para os outros estados da federação, principalmente São Paulo e até Minas Gerais. Produtos industrializados, principalmente na forma de leite em pó, são comercializados em todo país.
Podemos concluir que o Rio Grande do Sul é de uma importância muito grande no cenário nacional do setor leiteiro. As boas condições para a produção de leite podem ainda viabilizar um elevado crescimento deste negócio para o estado. A grande oportunidade é melhorar os processos de gestão em toda a cadeia produtiva. Para grantir competitividade internacional a melhoria da qualidade do leite é essencial. Ações como a proposta do “Leite Legal” lançada pelo SENAR em 2013, deveria ser massificada. Uma política de desenvolvimento do produtor que permita elevar a rentabilidade é essencial para garantir o futuro da produção e a continuidade da atividade.
