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Marcello Moura Campos Filho: União de produtores e a Leite São Paulo

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 11/10/2002

11 MIN DE LEITURA

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Marcello Moura Campos Filho é engenheiro eletricista e administrador de empresas. Sua família está no leite há 40 anos, em uma fazenda originalmente de café, adquirida por seu bisavô, na região de Botucatu, centro do Estado de São Paulo. Em meados da década de 70, com a grande geada que afetou a lavoura cafeeira, resolveu-se avançar na atividade leiteira, que já existia de forma rudimentar. A fazenda hoje tem 70 ha e a produção diária gira entre 1200 e 1400 litros/dia, com rebanho mestiço gir/holandês, manejado em piquetes rotacionados de capim elefante que ocupam 10 hectares. É um dos idealizadores e primeiro presidente da Leite São Paulo, entidade que foi recentemente fundada, com o objetivo de articular os produtores de leite paulistas, criando um canal de comunicação com outras entidades e com os representantes do executivo e do legislativo. Além disso, é membro da Câmara Setorial do Leite de São Paulo. Ele conversou com exclusividade com o MilkPoint, abordando temas atuais como a união de produtores e o atual estágio da entidade que preside. Acompanhe !

Quais as dificuldades que o produtor de leite paulista vive hoje ?

MMCF: Eu começaria dizendo sobre dificuldades do produtor de leite brasileiro, para depois particularizar o caso de São Paulo. A principal dificuldade é o preço aviltado. Ganhamos tecnologia e eficiência, mas o preço recebido pelo leite não tem sido adequado. No caso de São Paulo, estamos no maior mercado consumidor do país, responsável por 30% do consumo de lácteos do país, com Minas Gerais em segundo lugar, com 8%. Eu inclusive digo que quem gosta de queijo é paulista, e não mineiro ... Enfim, é natural que todos queiram vender no mercado paulista, havendo concorrência. Porém, essa concorrência tem sido desleal em função de subsídios para colocação do leite no mercado paulista. O produtor de São Paulo está inserido na crise nacional, com o agravante do nosso governo ter deixado a situação se deteriorar, sem entrar na guerra fiscal com outros estados. Diga-se de passagem que, após discussões com o governador, conseguimos um decreto que dá um crédito presumido de ICMS (de 6,7%) para o leite longa vida, restaurando um pouco a competitividade.

O decreto está aprovado ?

MMCF: Está. Já foi publicado no Diário Oficial do Estado e está em curso. Um aspecto importante é que, através de um grupo de trabalho na Câmara Setorial do Leite de São Paulo, discutimos como esse crédito poderia ser repassado aos produtores de leite. Não há como controlar, mas o representante da indústria afirmou que haverá o repasse quase que integral e que os laticínios estão dispostos a abrir a planilha e mostrar que estarão repassando o crédito.

O Sr. falou em guerra fiscal. Essa situação não é prejudicial a todos ?

MMCF: A guerra fiscal pode beneficiar alguns produtores, alguns Estados, transitoriamente. Ao longo do tempo, prejudica a todos. Os grandes beneficiados são as grandes empresas, que exploram essa situação. Em São Paulo, por exemplo, eu dizia que os leilões de liquidação, comuns por aqui, chegariam aos outros Estados. Foi o que aconteceu. Goiás hoje já enfrenta problemas. Se não mudar o comportamento das grandes corporações, indústrias e varejistas, a situação não vai se resolver. Os produtores e mesmo os governos são usados pelo sistema. A guerra fiscal é um exemplo que provoca distorções e no longo prazo prejudica a todos. É preciso arrumar um outro caminho, considerando os interesses particulares dos produtores de leite de cada região. É fundamental que haja união da categoria. Sou a favor da criação de uma câmara nacional do leite, com representação de todos os Estados, que seria o fórum adequado para discutir todos esses problemas e fazer os acertos e negociações necessários.



Quem comporia essa câmara ?

MMCF: Além dos produtores, as indústrias e o governo. Acredito que o mercado seja muito bom, mas há a necessidade de uma certa regulação do Estado para evitar certas distorções. Agora, em relação aos produtores, acredito que haja a necessidade de uma entidade de abrangência nacional, porém regionalizada, de forma que cada região tenha a sua representatividade e que a entidade nacional seja o fórum para se discutir e negociar os acordos entre as várias regiões.


Quais são outros problemas que o produtor vive ?

MMFC: Outro problema é que fomos enganados por muito tempo, pela insistência em dizer que o produtor é ineficiente, o que criou um complexo de inferioridade. Eu não concordo. O produtor é eficiente dentro da realidade nacional. Nos Estados Unidos, por exemplo, quando você vai montar um fazenda, tem à sua disposição um grande número de técnicos capacitados, coisa que aqui nem sempre isso acontece, embora certamente existam ótimos técnicos. Eu mesmo, quando estruturei minha fazenda, me assessorei mal e errei muito. Nos EUA, o fazendeiro tem financiamento, com juros baixos, carência alta, o projeto passa pelo crivo de profissionais de finanças que assessoram o produtor. O produtor americano tem condições muito melhores para produzir do que nós. A eficiência é relativa, não se pode comparar. Acho até que o produtor brasileiro faz milagre dentro da realidade em que está inserido. E tem outro aspecto: precisa ser produtivo, aumentar a tecnologia, ser mais eficiente, mas tudo isso leva ao aumento da oferta e contribui para a redução no preço. A grande verdade é que tecnologia sem dúvida é importante, mas mais do que isso é preciso poder comercial e político, caso contrário todo o seu ganho de produtividade é transferido aos mais fortes do agronegócio, cujo crescimento se deu pela força econômica e não pela eficiência.

O que o Sr. está fazendo hoje frente aos altos custos de produção ?

MMFC: Estou aumentando a área de capim elefante, para silagem com polpa cítrica e reduzindo a área de sorgo. Estou também utilizando diversos subprodutos que temos na região, como resíduo de cervejaria e resíduo de fecularia. Por fim, tomei a decisão nesse ano de adubar organicamente, com esterco de galinha, as áreas de pastagens, ao invés de utilizar adubo químico, cujo preço está muito elevado.

Vamos falar agora da Leite São Paulo. Como começou a entidade ?

MMFC: Começou há cerca de 2 anos atrás, em uma reunião na entidade regional da qual faço parte como produtor de leite, a APLEC (Associação dos Produtores de Leite do Centro-Sul Paulista). Nessa oportunidade, discutimos que só estaríamos bem se fizéssemos parte de uma estrutura forte, e que essa estrutura só seria forte se tivesse abrangência regional, porém com atuação regional. Essa foi a idéia original. Fizemos um primeiro evento, em 2000, no CEPEA/USP, onde se discutiu qual seria o modelo ideal, concluindo-se pelo fortalecimento da entidade já existente, a Leite Brasil, abrindo a regionalização. Isso não aconteceu exatamente como gostaríamos, mas fizemos um novo encontro no ano seguinte (2001), quando chegamos à mesma conclusão: a Leite Brasil seria um grande fórum, porém relacionado às entidades regionais. Seria ótimo se tivéssemos a Leite Goiás, a Leite Paraná, etc... A Leite São Paulo seria o braço paulista dessa integração, que é necessária. Veja o exemplo da queda de preços no ano passado, tendo como pivô os acontecimentos de mercado em Goiás. Se o setor tivesse organizado nacionalmente, isso poderia ter sido evitado. É preciso fortalecer todas as partes, caso contrário seremos explorados.



Como está o crescimento da entidade ?

MMFC: O crescimento está devagar. A associação foi fundada efetivamente em março e agora estamos administrativamente e financeiramente organizados. Agora começa o trabalho de buscar novos sócios, fazer campanhas para aumentar o quadro associativo. Quando fundamos a Leite São Paulo, tínhamos como objetivo ter força política e força comercial. Agora, de nada adianta isso se não tivermos produtores associados. Mas uma coisa é importante: não queremos apenas ter um grande número de associados; buscamos uma participação efetiva dos associados. Por isso somos regionalizados. Não temos apenas a sede, mas seis regionais, que têm condições de estar mais próximas ao produtor.

Quais são elas ?

MMFC: A Centro-Sul, que pega os EDRs de Avaré, Itapetininga, Sorocaba, Registro, Itapeva, Ourinhos e Botucatu; a Oeste, pega Lins, Marília, Assis, Presidente Prudente, Tupã, Araçatuba, Andradina, Dracena e Presidente Wenceslau; a Noroeste pega São José do Rio Preto, General Salgado, Votuporanga, Fernandópolis, Jales, Barretos e Catanduva; a Nordeste pega São João da Boa Vista, Mogi-Mirim, Ribeirão Preto, Franca e Orlândia; a Centro, que pega Araraquara, Limeira, Jaboticabal, Piracicaba, Jaú e Bauru; e a Leste, que pega Bragança Paulista, Campinas, Guaratinguetá, Pindamonhangaba, Mogi das Cruzes e São Paulo. À medida que a entidade vai crescendo, podemos desmembrar em mais regionais, por exemplo doze regionais, para que possamos estar próximos do produtor. É isso que dará força política e interação da entidade com o produtor.

Como o Sr. vê a participação e a mobilização política dos produtores ?

MMCF: Nós precisamos mudar a forma de atuar. Eu cito como exemplo o debate com os presidenciáveis, ocorrido na CNA. Todos se queixaram que o debate foi muito vago, sem propostas concretas, que faltou alguma coisa. Mas o que exatamente faltou ? Será que foi enviado a cada candidato um documento prévio com as recomendações de cada categoria ? Quem sabe dos seus problemas é o produtor. Se não soubermos o que queremos, não será o político que saberá. Não sei se isso foi feito, mas se não teve essa preparação prévia, sem dúvida é algo que contribuiu para a frustração desse debate. Agora, se teve esse documento, então a situação é mais grave, pois mostra o desinteresse total de todos os candidatos para com o setor. Enfim, o que nós procuramos fazer na Leite São Paulo é suprir esse tipo de lacuna, reunindo as reivindicações e as encaminhando aos candidatos ao governo, à presidência e aos candidatos ao legislativo. Agora, imagine se nossas reivindicações viessem acompanhadas de documentos assinados por prefeitos, presidentes de câmaras, deputados da região, cooperativas, sindicatos patronais e de trabalhadores ... política funciona na base da pressão, sempre foi assim. Se não houver pressão suficiente, nada anda. Quando levamos as vacas na Assembléia Legislativa de São Paulo, os deputados nos disseram que era a primeira vez que alguém levava esse assunto para discussão.

O Sr. não acha que o setor está melhorando a sua atuação classista ? Temos vários exemplos recentes, como a questão anti-dumping, a aprovação das normas de qualidade, etc.

MMCF: Concordo, mas acho que ainda agimos de forma pouco organizada e continuada. Veja o caso das CPIs, que foram instaladas em diversos Estados. Foram ações isoladas, sem muita coordenação entre elas. Elas inclusive foram realizadas porque a pressão estava muito grande, a água estava batendo no nariz. Nesse cenário, as coisas de certa forma acontecem. Nós precisamos estar organizados e ativos em todos os momentos, não apenas quando a situação está crítica. É necessário completar e estruturar esse processo. De que adiantou tudo isso (em relação à CPI) se não houver agora a cobrança de medidas efetivas ? Outro exemplo foi o próprio Encontro de Produtores que organizamos. Quando levantamos a idéia, a situação estava muito ruim e tínhamos 200 a 300 pessoas comprometidas. No período que transcorreu até a realização do Encontro, o leite reagiu e, por ocasião do evento, compareceram 70 a 80 pessoas apenas. É preciso uma ação contínua.



Até que ponto sua experiência no associativismo o levou a buscar a formação de uma entidade mais representativa ?

MMCF: Em uma reunião que tive na APLEC, nossa associação, discutindo a crise, eu disse que eu tinha dois momentos distintos: um de loucura e um e lucidez. O de loucura era permanecer na atividade leiteira e o de lucidez era permanecer na APLEC. Eu não estaria na atividade se não fosse pela APLEC. Apesar de todas as dificuldades, conseguimos uma situação um pouco melhor (ou menos pior) via associação. Conseguimos vender o leite melhor e comprar insumos melhor. Eu nem sei para quem vendemos o leite; isso fica a cargo da associação. Nós temos nossos tanques isotérmicos e inclusive vendemos para mais de uma empresa. Temos uma estrutura muito enxuta, uma sala com duas secretárias e telefone, em Cerqueira César (SP). Nosso leite é comercializado e há uma conta de compensação entre os produtores, de forma que os valores obtidos são divididos, a partir de um preço médio igual para todos. Temos produtores de 200 litros até 3000 litros, totalizando 22 produtores e cerca de 30.000 litros diários. Isso só é possível quando você tem grande confiança em todos os membros da associação, e o resultado é a solução de problemas específicos dos produtores que fazem parte da associação.

E as cooperativas, não seriam uma solução ?

MMCF: Sem dúvida, mas eu digo que, individualmente, não quero entrar em nenhuma cooperativa, porque não terei tempo de acompanhar o dia-a-dia da vida da cooperativa, que determina a saúde financeira e administrativa da cooperativa. Redução de custos, escala, tudo isso é fundamental. Mas para não perder o elo com o produtor, a associação é o caminho até para as cooperativas. Se a APLEC decidir-se pela filiação a determinada cooperativa, estarei filiado automaticamente. Qual é a vantagem disso ? Eu garanto que nós vamos controlar nossa participação na cooperativa. Sempre terá alguém que comparecerá às reuniões e acompanhará as decisões. Eu, sozinho, não entendo nada de balanço patrimonial, mas via associação consigo contratar alguém que possa me assessorar em relação a isso. Até para fortalecer as cooperativas, as associações são peças fundamentais, melhorando sua articulação e sua representatividade.

Falando em representatividade, como a Leite São Paulo visa aumentar o número de associados ?

MMCF: Vamos focar a atuação das regionais. Pretendemos atuar em conjunto com as Casas da Agricultura, fazendo encontros, sempre procurando fomentar o associativismo e o cooperativismo, pois isso aumentará a força comercial do produtor. A atuação política fica por conta da Leite São Paulo.

Quantos filiados ela possui ?

MMFC: Temos cerca de 60 a 70 sócios, que são basicamente os fundadores.

Como é arrecadação da Leite São Paulo ?

MMFC: É obtida pela contribuição individual, feita por cada produtor a partir do volume de leite. Os valores são bastante modestos. Para um pequeno produtor, daria uns R$ 5 ou 6,00 mensais. Para um produtor de 1000 litros ou mais, daria cerca de R$ 20,00. Os pagamentos são trimestrais.

Como entrar em contato com a Leite São Paulo:

Marcello de Moura Campos Filho
Tel/fax. (019) 3254-5496 e-mail leitesaopaulo@mpc.com.br
Leite São Paulo
Av. Antônio Carlos Sales Jr. 736 - Jardim Proença
Campinas - SP
CEP 13096-010


Clique aqui para fazer o download das
Instruções para filiação e pagamento

Clique aqui para fazer o download do Folder da Leite São Paulo

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MARIA CHRISTINA HOMEM DE MELLO FIGUEIREDO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 28/11/2002

Parabéns pelo artigo. Somente com a união dos produtores teremos poder político para garantir a produção leiteira em terras brasileiras e com vacas brasileiras. A Leite São Paulo está se fortalecendo com a publicação de matérias com esta.
RODRIGO COSTA DUTRA

OUTRO - MINAS GERAIS

EM 04/11/2002

MilkPoint, fico grato por tanta informação que vocês estão nos repassando, continuem assim.

Obrigado sr. Marcello e a Aplec.

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