Contudo, acredito que poderíamos desfrutar mais dessas tecnologias ou que pudéssemos fazer uso delas de maneira mais adequada. Essa minha ‘inquietação’ acontece porque se por um lado determinados aspectos evoluem (como comentei anteriormente), por outro ficamos ‘patinando’ como carro no atoleiro e não saímos do lugar. Desse modo, irei destacar três aspectos que, em minha opinião, necessitamos evoluir quando a discussão envolve híbridos de milho para a produção de silagem.
O primeiro deles remete a questão do endosperma, se o mesmo é duro ou farináceo (mole). Foi provado experimentalmente e publicado nos melhores jornais científicos que híbridos com grãos farináceos potencializam a digestão e promovem desempenho animal superior. É sabido também que no Brasil a maioria dos híbridos possui endosperma duro, ou seja, menos adequado para a produção de silagem. Então, de uns tempos pra cá tenho percebido novas denominações para os híbridos, por exemplo, semiduro ou semidentado (dentado nesse caso significa mole). Ora! O híbrido é duro ou é farináceo. Vamos sair de cima do muro! Por quê? Porque esse tal de semiduro ou semidentado na realidade é duro. E por que temos muitos híbridos de grão duro e pouquíssimos de grão farináceo? Porque a quantidade de sementes vendidas para aqueles produtores que produzem silagem é muito pequena em comparação para os que produzem grãos. Isso faz com que as empresas não invistam nessa característica devido a pequena fatia do mercado. Mas mesmo na tentativa de atrair a pequena parcela acabam denominando alguns híbridos como semiduro ou semidentado. Poderia também comentar aqui a denominação de ‘duplo propósito’, outra característica que não existe. Ou o híbrido é para produzir grãos ou para confeccionar silagem.
O segundo fator que eu gostaria de destacar se refere à disponibilidade de híbridos por região e clareza demonstrada aos produtores. O que é isso? Ocorre que cada empresa desenvolve os seus estudos ou contratam alguma instituição para desenvolvê-los. Nada de errado. Mas ocorre que os híbridos devem ser comparados entre as empresas e não dentro da mesma empresa. Exemplo: Todas as empresas que atuam no mercado de sementes na região do Sul de Minas Gerais deveriam realizar um experimento comparando o híbrido ou os híbridos de cada uma delas, de forma que o produtor tivesse acesso aos melhores híbridos no momento da compra. Feito o estudo entre os híbridos, os resultados deveriam ser divulgados de forma ampla e, inclusive, em jornais científicos. Em outros locais do mundo funciona assim, ou seja, as empresas dão ‘a cara a tapa’. Aqui no Brasil isso não ocorre. Isso faz com que o leque de compras do produtor diminua e que ele talvez esteja investindo em um híbrido que não é o mais adequado.
O terceiro tópico se refere a área de refúgio no momento do plantio. Milho geneticamente modificado requer alguns cuidados. Um dos mais importantes é a utilização da área de refúgio, a qual deve ocupar cerca de 10% da área total cultivada com milho não transgênico. O refúgio é necessário porque irá manter insetos susceptíveis ao efeito ‘inseticida’ do milho transgênico dentro da população, prevenindo a resistência da praga e a preservação da tecnologia transgênica, ou seja, é algo vital para que continuemos cultivando o milho transgênico. Contudo, quando nos deslocamos até o comércio para adquirirmos milho transgênico e não transgênico da mesma classe, ou seja, o mesmo híbrido, diferentes apenas de introdução de um gene, dificilmente nós os encontramos. Isso significa que as empresas estão disponibilizando o milho transgênico, contudo sementes do seu ‘irmão’, para ser utilizado na área de refúgio, o produtor não consegue adquirir. Em geral, essa situação problema tem sido resolvida de duas maneiras. O pecuarista compra somente sementes de híbridos transgênicos e impacta negativamente sobre a tecnologia e o meio ambiente. Ou ele adquiri sementes de um híbrido de outra classe para compor o refúgio. Resultado dessa ‘lambança’ promovida pelo comércio: Vários híbridos transgênicos estão saindo do mercado porque os insetos já estão provocando danos aos mesmos. É que chamamos popularmente de ‘tiro no pé’. A tecnologia chega, mas devido ao mau uso vai embora sem ter sido desfrutada de maneira ampla.
Produtores se unam! Formem grupos! Corram atrás daquilo que o comércio precisa mostrar pra vocês!