A Laticínios Tirol, uma das maiores companhias de lácteos no país, prevê aumentar em 15% as vendas de creme de leite e leite condensado em dezembro, em comparação à média dos três meses anteriores. “Esses produtos são bem procurados pelos consumidores na época de festas, e a culinária familiar está em expansão com a pandemia”, diz Jossemar Olivo, diretor comercial e de marketing da companhia. “Porém, a alta em 2021 será menor que a dos últimos anos”, afirma o executivo.
No passado recente, a curva de vendas no período subiu cerca de 22%. Ademais, em comparação a dezembro de 2020, a projeção fica “estacionada”. As razões para o desempenho mais fraco já são conhecidas. A inflação corroeu o poder aquisitivo da população. A redução de compras se nota inclusive em itens como o leite UHT, a commodity setorial. A Associação Brasileira da Indústria de Lácteos Longa Vida (ABLV) projetou recentemente queda de 8% a 10% nas vendas de leite UHT em 2021.
A Tirol tem atuação nacional, mas se concentra mais no Sul, onde comercializa cerca de 60% do volume de leite condensado e creme de leite, por exemplo. A força da marca nos Estados da região deverá contribuir para o desempenho esperado em nível nacional – já que, segundo Olivo, a renda no Sul é “um pouco mais equalizada”. Ainda assim, ele reforça que a companhia vive a mesma realidade de outros players: margens mais apertadas em 2021 devido à escalada de custos de matéria-prima e outros insumos, e dificuldade de repasse às gôndolas. “Como o consumo está mais restrito, a ‘briga’ pelo cliente no ponto de venda é maior”.
Com menos dinheiro, as pessoas estão migrando para outros perfis de produtos. “A mistura láctea é uma variação da categoria de condensados que tem se destacado desde o ano passado”, diz Silvia Hees, gerente de contas da divisão Worldpanel da Kantar. Trata-se de um produto “mais ralo” e de menor custo – que, por ter um preço mais acessível, deve contribuir para o desempenho positivo esperado para a categoria de condensados neste ano, avalia a executiva. A categoria de condensados não inclui os cremes de leite.
Segundo a Kantar, a participação de mercado da mistura láctea na categoria de condensados cresceu de 3,5%, em 2019, para 6,8% em volume em 2020. A Tirol tem o item no portfólio e notou aumento de vendas especialmente nas regiões Norte e Nordeste. O leite condensado, por sua vez, recuou de 95,8% em 2019 para 92,2% em 2020, indica a Kantar.
A realidade econômica brasileira não deve mudar no curto prazo, então a Tirol trabalha com projeções de um “cenário desafiador”. “O primeiro trimestre será muito parecido com o que vivemos agora, com processo de retomada da economia ainda incerto e o consumidor com menor confiança”, afirma Olivo.
A companhia, porém, tem o próprio perfil a seu favor, diz. O portfólio de produtos tem mais de 170 iogurtes, achocolatados, bebidas lácteas, requeijões, manteigas e queijos, entre outros, o que permite ajustes estratégicos conforme o comportamento de consumo. Empresas com menos opções têm mais problemas em cenários como o atual.
Na ponta produtiva, a Tirol não abandonou os planos mesmo em meio à pandemia. Inaugurou uma nova unidade em Ipiranga (PR) em julho, que recebeu R$ 150 milhões em aportes e tem capacidade de produção diária, ampliável, de 600 mil litros de leite UHT. O plano não foi abandonado diante das adversidades. “Crises são transitórias e o país vai voltar a crescer. Quem tiver o parque fabril mais organizado, vai aproveitar à frente”, acredita.
As informações são do Valor Econômico, adaptadas pela equipe MilkPoint.
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