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Renato Fernandes: o leite hoje no sul da Bahia

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 12/11/2002

11 MIN DE LEITURA

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Renato Hortélio Fernandes é uma das novas lideranças regionais do leite. Radicado no extremo sul da Bahia, Renato é engenheiro agrônomo, consultor em mercados agropecuários e gestão de cadeias agroindustriais, faz MBA em Gestão do Agronegócio na Universidade Federal de Viçosa, administra a Fazenda Araras, de propriedade da família e é presidente da ASSOLEITE - Associação para a Profissionalização e Valorização dos Produtores de Leite de Teixeira de Freitas e região, entre outras atividades de representação de classe. Em sua fazenda, foi implantado o primeiro pastejo rotacionado de capim elefante na Bahia, até hoje em funcionamento. Ele conta com exclusividade ao MilkPoint como está a pecuária de leite no Sul da Bahia, fala sobre a organização dos produtores na região e comenta sobre a competitividade da pecuária leiteira.

Qual a sua formação e histórico ?

RHF: Sou natural de Salvador/BA, onde residi até 1987, quando ingressei no curso de agronomia da UFV (Viçosa/MG), onde me graduei em abril de 1992, mudando-me para Teixeira de Freitas. Ainda durante a graduação, comecei a trabalhar na Fazenda Araras, em Vereda/BA, de propriedade de minha família, onde se produz leite, novilhos precoces, cacau e café conilon, sob irrigação. Implantamos, em 1990, o primeiro sistema de pastejo rotacionado em capim elefante da Bahia, ativo até hoje. Trabalhamos exclusivamente com inseminação artificial desde 1993. Produzimos novilhos precoces por meio de inseminação de matrizes leiteiras com touros zebuínos de corte, atingindo idade média de abate de 28 meses.

Realizo algumas ações no setor ambiental, mesmo porque na fazenda existe uma área de preservação de remanescente de Mata Atlântica, com 209 ha e a propriedade é cortada pelo Rio Jucuruçu do Sul, cuja recomposição das matas ciliares estamos efetivando.

Fiz especialização em Fertilidade e Manejo de Solos (ABEAS/UFV), e em Nutrição Mineral de Plantas (ABEAS/ESALQ). Sou, até março/2003, o primeiro presidente da ASSOLEITE e vice-presidente da Ass. Comercial Industrial e Agropecuária de Teixeira de Freitas, ACIATEF, à qual a ASSOLEITE é filiada. Hoje atuo também consultor em mercados agropecuários e gestão de cadeias agroindustriais, pela Coolabore e estou cursando MBA em Gestão do Agronegócio na UFV.

Qual o seu envolvimento com a atividade leiteira ?

RHF: Como disse anteriormente, comecei a trabalhar com leite ainda à época de minha graduação. E desde 1992, administro as fazendas Araras e Savana, onde a produção de leite passou a ser o foco principal da pecuária em 1997. Vendemos a Savana no ano passado, aproveitando a forte valorização do preço das terras na região, gerado pelo incremento do plantio de eucalipto. A Araras, hoje, produz 800 litros/dia, devendo passar para cerca de 1200, quando concluídas instalações que permitirão acomodar melhor o rebanho vindo da fazenda que foi vendida.
Trabalhei como consultor autônomo na área de adubação de pastagens. E em 2000, participei do processo de fundação da ASSOLEITE - Associação Para a Profissionalização e Valorização dos Produtores de Leite de Teixeira de Freitas e Região, entidade da qual sou o primeiro presidente, até março de 2003. Representando-a, participei da negociação para implantação do Projeto Educampo na Bahia, sou membro da comissão do leite da FAEB e da Câmara Consultiva do Leite da SEAGRI/BA.

Como se caracteriza a região de Teixeira de Freitas ?

A região fica no Extremo Sul da Bahia, limitada a norte pelo rio Jequitinhonha, a oeste por MInas Gerais, ao sul pelo Espírito Santo e, obviamente, a leste pelo oceano. Região que hoje, mesmo sendo composta apenas por 21 municípios (dos quais os mais conhecidos são Teixeira de Freitas, Eunápolis, Porto Seguro, Prado e Alcobaça) é a maior bacia leiteira do estado com mais de 20% da sua produção total. Além do potencial turístico, a região também abriga a maior produção de gado de corte do estado - com ênfase em cruzamentos industriais e produção de novilhos precoces, a maior produção de mamão do Brasil, produções expressivas de cucurbitáceas - em integração com a pecuária, uma crescente produção de café conilon e de coco e grandes áreas de plantio eucalipto para celulose e, mais recentemente, madeira.

Qual é o perfil da produção leiteira em sua região ?

RHF: A principal característica de nossa região é a excelente regularidade pluviométrica, com ausência de estações climáticas bem definidas, devido à sua proximidade do oceano. Isto faz com que o leite seja basicamente produzido a pasto, com animais mestiços. Boa parte dos produtores trabalha também com gado de corte - no nosso caso, inclusive, inseminamos parte das matrizes leiteiras com touros zebu de corte, terminando os bezerros como novilhos precoces. As fazendas têm área média de cerca de 1000 ha e a produção média é 500 litros/produtor/dia, com clara tendência de aumento.



Como os produtores estão organizados ?

RHF: Temos a ASSOLEITE, que apesar de estar prestes a construir um laticínio, visando o mercado de Teixeira de Freitas e a produção de produtos diferenciados por qualidade, possuir associados em cinco municípios - devido à total falta de lógica nas suas áreas geográficas - na verdade se propõe a ser uma unidade básica de organização e, pelo menos por enquanto, não tem a pretensão de representar um grande número de produtores, em detrimento da coesão do grupo. Em Itanhém, um grupo se aglutinou em torno de uma ação judicial, que os possibilitou arrestar um posto de recebimento da CCPL e formou uma cooperativa que opera a unidade de resfriamento. E, em Itamaraju e Eunápolis, há grupos menores, ligados aos respectivos sindicatos rurais. A ASSOLEITE propõe que estes grupos formem uma estrutura representativa regional, culminando com a implantação de um só laticínio, mas o processo ainda está em fase inicial.

Quem capta leite na região ?

RHF: O maior captador de leite na região é a Nestlé, que encaminha o produto (cerca de 100.000 litros/dia) para sua fábrica de Itabuna e, esporadicamente, para Teófilo Otoni/MG. A cooperativa de Itanhém capta cerca de 15.000 litros de seus associados. Temos a P&L-DaVaca, de Ibirapuã, que tem crescido muito na captação (cerca de 60.000 litros) nos últimos anos, graças ao excelente relacionamento que desenvolve com seus fornecedores. Existe também a Milco, daqui de Teixeira de Freitas, que apesar de ter capacidade industrial para mais de cem mil litros de longa vida por dia, hoje trabalha, segundo informações correntes, com menos de vinte mil, devido ao crônico problema de inadimplência junto aos produtores. Estes são os três principais captadores, aos quais se junta a Leite Vida, de Itabela com menor escala e outros laticínios pequenos, muitos deles irregulares e que trabalham no mercado não-granelizado. E intermitentemente surgem captadores de leite como a Laticínios Colatina, situada na cidade de mesmo nome no ES, que repassa parte do produto resfriado para a própria Nestlé. Há também laticínios informais na região, que até vendem o leite em supermercados. Com o aumento das exigências por qualidade, muitos pequenos produtores estão migrando para a informalidade.

Como está o preço do leite na região ?

RHF: Quem dita o preço na região é principalmente a Nestlé, com alguma polarização com a P&L - DaVaca. Hoje, o preço segue a planilha da Nestlé, com R$ 0,19/litro de base, com o adicional de mercado de R$ 0,105/litro, mais as bonificações por volume. De 0 a 300 litros, recebe-se R$0,037/litro; de 300 a 999 litros, recebe-se um adicional de R$0,0123/litro a cada 100 litros e, além disso, tem-se uma bonificação de R$ 0,01/litro a cada 1000 litros.

A Bahia tem recebido grandes projetos de produção de leite. Teve o mega-projeto dos produtores americanos, que acabou não saindo do papel, e agora um projeto também na região de Barreiras, para produção de leite a pasto. O que atrai tanto os investidores para a Bahia ?

RHF: Deve ser o mesmo que atraiu a Ford. Na verdade, a Bahia é altamente deficitária em produção de leite. E salvo exceções, como no Extremo Sul, parte do litoral Norte e alguns projetos em Barreiras, a pecuária leiteira do Estado está estagnada desde 1993. E a grande prova de que não temos tantos investidores assim na cadeia do leite é o fato de que, nos últimos dez anos, a Alimba foi vendida para a Parmalat e depois fechada, a Fleischmann saiu do estado e a Ilpisa, que adquiriu sua planta, enfrenta problemas e a Nestlé reduziu drasticamente sua captação. Infelizmente, a Bahia parece ser vista, estrategicamente, apenas como mercado consumidor. As indústrias lácteas estariam desistindo do Estado, com a grave distorção das plantas se localizarem nas regiões onde a produção não evolui, e não onde, hoje, o leite efetivamente é produzido.

O governo do Estado prepara uma modificação na legislação de ICMS para o início de 2003, com o objetivo de favorecer o leite comprado de produtor estabelecido no estado, frente ao leite importado de outras unidades da federação, ou mesmo adquirido de outras empresas. Pode ser um primeiro passo para a reversão da tendência.



Você pessoalmente acredita na viabilidade técnica de grandes projetos ?

RHF: Não é torcer contra, mas seria muito bom se as soluções para os problemas da vida fossem quase que automáticas, né?

Naquele primeiro projeto não dava, mesmo, para acreditar. Este parece mais pé no chão, mas acredito que para o desenvolvimento de qualquer atividade econômica é necessário um caldo cultural que não se impõe da noite para o dia.

Desenvolver a pecuária leiteira de um estado, atualizando tecnologias, quebrando idiossincrasias e paradigmas e capacitando aqueles que já estão na atividade é difícil e demorado, mas é muito mais sustentável. E tem um impacto social muito maior.

Você acha que a tendência é a produção de leite em larga escala, ou a pequena produção se manterá ?

RHF: Existe a clara tendência de aumento de escala (não confundir com megalomania). Porém, a pequena produção, desde que se organize em grupos, bem profissionais, como os que existem, com grande sucesso, na Zona da Mata Mineira e em Goiás, deve ter algum espaço.

Já o pequeno produtor, "Jeca Tatu", dos 30 litros/dia, sem organização e capacitação, deixa, cada vez mais, de ser um agente na cadeia de abastecimento de leite, para ser um problema social grave, a ser resolvido pelo governo.

Como você avalia a atual organização dos produtores de leite no Brasil ?

RHF: Existe uma carência de representatividade gritante. Apesar da CNA ter conseguido vitórias dignas de louvor, como na ação anti-dumping.

O problema não está nas lideranças, e sim, na estrutura de representatividade, não só da produção de leite, como de todo o setor rural, em que se imagina ser possível prescindir da existência de células organizacionais pequenas e com elementos aglutinadores intimamente ligados ao dia a dia dos produtores. Como a situação ora se apresenta, as lideranças ficam prejudicadas na sua legitimidade, pelo simples fato de que, não há uma estrutura que as permita identificar as reais necessidades e demandas da classe que dizem representar, o que, no seu aspecto mais pernóstico, amplia bastante o espaço para aqueles que buscam meramente a satisfação de interesses pessoais.

O que pode ser feito para melhorar ?

RHF: Investir pesadamente em capacitação (SEBRAE, SENAR, universidades, sindicatos rurais) da classe produtora, dentro de um planejamento que tenha como objetivo criar uma rede nacional de pequenas unidades associativas, dotadas de grande coesão entre seus membros, as quais seriam as células básicas para estruturas regionais e estaduais, chegando ao nível nacional como uma espécie de colegiado, que teria como premissa de atuação a expressão das necessidades da base produtora e a captação de informações estratégicas que fariam o caminho inverso, ordenando as ações dos produtores.

Existe uma onda de associativismo no agronegócio brasileiro, mas sinto que as ações são muito isoladas e sugiro que se passe a planejar as organizações desde a base com o objetivo de fortalecer as entidades nacionais.



Quais são os principais gargalos para que o produtor tenha remuneração adequada ?

RHF: Posso parecer estar fazendo o papel de advogado do diabo, mas existem muitos produtores obtendo remuneração adequada pelo seu leite e ganhando dinheiro com a atividade. E isto é claramente denotado pelo forte crescimento do setor desde a desregulamentação dos preços. Ou será que existem empolgados e iludidos para estar entrando no setor em quantidade suficiente para sustentar este crescimento por tanto tempo?

O mercado de leite, cujo preço, definitivamente, nunca vai ser determinado pelos produtores, tem imposto alguns paradigmas, tais como a necessidade de tolerância dos sistemas de produção à sazonalidade de preços, o pagamento por volume, a necessidade imperiosa de granelização da coleta, implicando em demanda por infra-estrutura (estradas, energia elétrica) e criando limitação por distância em relação ao laticínio. Sendo que, a adequação da remuneração dos produtores está diretamente ligada à sua capacidade de adaptação a estes paradigmas.

Obviamente não estou sugerindo que os produtores passem a se comportar como cordeirinhos e se virem para cumprir todas as regras estapafúrdias impostas pelas empresas. Mas que se organizem para ter acesso a informações que os possibilitam identificar tendências e cenários aos quais possam se adaptar e nos quais possam também, claro, procurar inferir. Não deixando de buscar um mínimo de coordenação na cadeia, com a prévia de divulgação e discussão de regras claras e sinceras, evitando situações como a ocorrida no célebre apagão do ano passado, no controle de antibióticos fajuto, ou na granelização de mentirinha, quando a cadeia do leite trocou às páginas econômicas dos jornais pelas páginas políticas e quase troca pelas páginas policiais, gerando prejuízos para todos os seus agentes.



Leite então é bom negócio no sul da Bahia, hoje ?

RHF: Quem produz com eficiência está conseguindo um bom resultado. Os últimos números que temos (pode ter havido algum reajuste nos últimos dias) é um custo de R$ 0,27 a 0,28/litro e um preço da ordem de R$ 0,33 a R$ 0,34, isso em níveis médios.

Qual é o modelo de produção mais promissor em sua região ?

RHF: É o sistema a pasto, com suplementação no início de lactação com concentrados. No inverno, cana com uréia.

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