Diversificando no mercado de bebidas, PepsiCo compra SodaStream por US$ 3,2 bi

A PepsiCo acertou ontem a compra a SodaStream International por US$ 3,2 bilhões, na mais recente iniciativa da gigante das bebidas para diversificar seu portfólio, além dos refrigerantes açucarados e dos salgadinhos.

Sediada em Israel, a SodaStream fabrica máquinas que permitem aos consumidores gaseificar água encanada e outras bebidas em casa, usando uma garrafa reutilizável e aromatizando o conteúdo com xaropes diversos. A companhia, que é listada na Nasdaq, concentrou-se nos últimos anos em se promover como uma fabricante doméstica de água gasosa, em vez de uma fabricante de refrigerantes domésticos gaseificados.

A PepsiCo vem sendo pressionada neste ano a reestruturar sua operação de bebidas na América do Norte, em meio às vendas fracas das suas principais marcas, Pepsi-Cola, Mountain Dew e Gatorade. A queda das vendas ocorreu depois que a companhia transferiu, no ano passado, espaço de prateleira demais e dinheiro de propaganda para marcas novas e mais saudáveis. A PepsiCo fez antes um teste de vendas de seu refrigerante com as máquinas da SodaStream em umas poucas dezenas de lojas, descrevendo a experiência como uma oportunidade de aprendizado.

A compra da SodaStream pela gigante dos refrigerantes ocorre num momento em que os consumidores se afastam dos refrigerantes açucarados, em direção à água engarrafada. Em termos gerais, as grandes marcas estão perdendo espaço nas prateleiras para concorrentes menores e modernos, e com isso estão tendo dificuldades para crescer. Sob o comando da executiva Indra Nooyi, que está de saída, a PepsiCo foi além dos refrigerantes e passou a operar com produtos mais saudáveis, como a bebida kombucha, à base de chá, e a pasta de grão de bico homus, embora os resultados estejam sendo desiguais. A companhia estabeleceu uma meta de crescimento nas vendas desse tipo de produto que supera as demais mercadorias de sua carteira até 2025.

A PepsiCo vende as marcas de água Aquafina e Lifewtr nos Estados Unidos e este ano lançou mais um rótulo na versão com gás chamada Bubly. O segmento das águas com gás vem crescendo mais vigorosamente do que a categoria de água engarrafada como um todo nos Estados Unidos, com um aumento do volume de vendas de 38% no ano passado, depois de um crescimento de 35% em 2016, segundo dados da Beverage Marketing Corp, uma empresa que monitora o setor.

O mercado de água engarrafada como um todo avançou 7% em 2017 e 9% no ano anterior. Segundo analistas, o crescimento está sendo conduzido por um afastamento contínuo dos refrigerantes gasosos que usam açúcar ou adoçantes, em direção a bebidas mais saudáveis, de baixas calorias e que não usam ingredientes artificiais. Por outro lado, a água engarrafada - uma categoria muito maior - vem registrando uma desaceleração das vendas em meio à concorrência com a água com gás, chás, cafés e outras bebidas. Ontem, a PepsiCo disse que a compra da SodaStream lhe dará a força necessária para crescer geograficamente, ajudando-a a acelerar sua área de pesquisa e desenvolvimento.

A companhia israelense causou polêmica nos últimos anos porque sua localização anterior - a cidade de Ma'aleh Adumim, na Cisjordânia - fez dela um alvo de campanhas exortando os consumidores a não comprarem seus produtos se ela permanecesse em território sob disputa com os palestinos. Em 2014, a SodaStream cedeu às pressões políticas e anunciou que mudaria sua sede para Tel Aviv e suas operações de produção para o sul de Israel. Este mês, a SodaStream informou um crescimento de 31%, para US$ 171,5 milhões, na receita do segundo trimestre, enquanto o lucro líquido subiu 82%.

A companhia descreveu o trimestre como o melhor de sua história, afirmando que as vendas das máquinas que fabricam água com gás cresceram 22%, para mais de 1 milhão de unidades, impulsionadas pela demanda de novos consumidores e pela preocupação com os danos que o descarte de garrafas plásticas pode causar ao ambiente. As máquinas Soda Stream vêm com uma garrafa de plástico ou vidro - que segundo a companhia ajuda os consumidores a economizar até mil garrafas e latas descartáveis por ano -, e um cilindro de gás recarregável. No oeste da Europa, onde a SodaStream realiza a maior parte de suas vendas, uma reação contra o uso de plásticos descartáveis vem ganhando força, em países como o Reino Unido. Nos últimos anos, o marketing da SodaStream vem criticando os grandes fabricantes de água engarrafada, como Nestlé, Coca-Cola e PepsiCo, sob o argumento que as garrafas plásticas são poluentes.

Um comercial com os atores da série "Game of Thrones" Hannah Waddingham e Thor Bjornsson parodia uma cena da série, com uma mulher gritando "Que vergonha!", enquanto segue um homem que sai de um supermercado com uma garrafa de água com gás. Até este mês, a SodaStream vinha planejando uma campanha para o quarto trimestre "contra o uso de garrafas plásticas descartáveis e as grandes companhias de bebidas", afirmou uma porta-voz da companhia.

A PepsiCo informou ontem que a compra da SodaStream a ajudará a encontrar "novos meios para chegar ao consumidor, além da garrafa". Um porta-voz disse ontem que a aquisição é uma das várias maneiras com que a gigante dos refrigerantes está reduzindo o uso de garrafas plásticas. Outras incluem o Drinkfinity, um kit com garrafa reutilizável e cápsulas recicláveis de vários sabores, e estações de água Aquafina, que distribuem água com ou sem sabor em escritórios e campi universitários. A fabricante da máquina de gaseificar água é tida como inventora da ideia do "refrigerante doméstico" e suas raízes datam de 1903, quando foi fundada em Londres por um destilador de gin. No começo, ele vendia para as classes altas britânicas e o produto era um dos favoritos da realeza. Mas o auge da companhia se deu nas décadas de 70 e 80, quando seus equipamentos chegaram a 10 milhões de residências britânicas, juntamente com o bordão de marketing "Get Busy With the Fizzy".

Uma série de mudanças de controlador, que incluíram a Reckitt & Coleman e a Cadbury Schweppes, proporcionou dinâmica à companhia. Finalmente, ela foi comprada pela distribuidora israelense Soda-Club. Então, um fundo de "private equity" assumiu uma participação de controle, nomeou como CEO Daniel Birnbaum - que antes comandou a gigante esportiva Nike - e abriu o capital da companhia em 2010. Hoje, a SodaStream tem 2 mil funcionários.

As informações são do jornal Valor Econômico.