Alguns estudos associaram erroneamente o consumo de lácteos ao aparecimento de câncer. Os estudo em questão não têm o suporte para corroborá-lo. Dois especialistas do Departamento de Nutrição da Faculdade de Medicina da Universidade do Chile, Rodrigo Valenzuela e Gabriela Carrasco, participaram do capítulo "Laticínios e câncer" do livro Laticínios: Nutrição e Saúde, do programa Gracias a La Leche, onde procuram eliminar essas especulações de que os laticínios podem gerar certos tipos de tumores.
No Chile, as doenças oncológicas são a segunda causa de morte, e “inclusive em algum momento da pandemia passou a ser a primeira”, enfatiza Rodrigo Valenzuela. E afirma que isso tem aumentado, dado o perfil epidemiológico da população, pois as pessoas estão envelhecendo, com estilos de vida pouco saudáveis, tabagismo, consumo excessivo de álcool, má alimentação e obesidade. “A probabilidade de uma pessoa desenvolver câncer está aumentando, e essa patologia é muito complexa. No Chile hoje é comum encontrar uma pessoa com o diagnóstico”, comenta.
Ele acrescenta que, somado a esse problema, um grupo de pessoas de todo o mundo, inclusive do Chile, passou a atribuir efeitos cancerígenos ao leite. “Eu diria que foi parte de uma onda de desinformação, que existe sobretudo nas redes sociais, ou de má interpretação dos resultados de estudos científicos”, declara. Diante desse contexto, é que resolveram elaborar este capítulo, onde perceberam que os achados eram controversos.
Gabriela Carrasco declara que quiseram desmistificar essa tendência que estava ocorrendo, dando especial atenção aos benefícios relacionados ao consumo de laticínios, do ponto de vista nutricional.
"Os laticínios são alimentos de alta qualidade nutricional, boa fonte de proteína e cálcio, e de baixo custo, se comparados a uma porção de carne, por exemplo”, afirma. “A alimentação pode proteger ou ser um fator de risco para o desenvolvimento de doenças, mas de forma alguma a culpa deve ser atribuída a um único alimento, mas sim a um conjunto de fatores, nos quais a alimentação pode contribuir”.
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Metodologia questionável
Valenzuela comenta que havia alguns estudos que sugeriam uma associação entre o consumo de leite e o aumento do risco de câncer de próstata, mas esclarece que seu desenho metodológico era questionável. “O principal risco para o desenvolvimento de uma patologia oncológica é o envelhecimento. Um homem de 60 anos corre um risco maior do que um homem de 40 anos”, ressalta.
Alguns estudos postularam que um componente específico do leite, que promove o desenvolvimento das crianças, estava relacionado ao crescimento celular anormal. "Esses estudos tiveram um viés, pois não levaram em consideração o fator idade, porque quando o homem envelhece aumenta o risco de câncer de próstata", ressalta.
Depois desse trabalho, acredita ele, vários profissionais de saúde passaram a defender que o leite causava câncer. “Além disso, eles falam sobre a patologia como qualquer coisa, onde a doença da mama se mistura com a doença do fígado, com um tumor cerebral, leucemia, etc. Por isso é preciso fazer estudos bem delineados para saber se realmente foi o leite ou outro componente que aumentou o risco de câncer de próstata”, destaca.
Para a nutricionista Gabriela Carrasco, havia uma corrente relacionada à estigmatização do consumo de alimentos de origem animal, que afirmava que o leite diminuía o pH, e as pessoas corriam maior risco de gerar algumas patologias. “Mas os estudos que tentaram provar a relação causal entre o consumo e a proliferação de tumores são realizados especificamente em modelos de camundongos e não foi possível extrapolar essa evidência para humanos, pois os estudos só conseguiram determinar se existe ou não essa associação, e nisso as metodologias são questionáveis porque não consideram diversos fatores que também podem contribuir para os resultados dos estudos”, declara.
Proteção
Segundo nutricionistas, os laticínios não representam risco à saúde da população, além de serem uma ferramenta alimentar e nutricional fundamental para prevenir o sobrepeso e a obesidade, principalmente em crianças e adolescentes. E quanto ao câncer, são alimentos que podem prevenir seu aparecimento.
"Ha evidências que estabelecem que os produtos lácteos têm um efeito benéfico e protetor contra o desenvolvimento do câncer de mama. Todos os seres humanos precisam se ajudar a manter um estilo de vida saudável, com alimentação adequada e exercícios”, disse Valenzuela. Carrasco reitera que "não há evidências que mostrem uma relação causal, no que diz respeito à ligação de alguns tipos de câncer com o consumo de laticínios".
Lácteos fermentados
Os lácteos fermentados são alimentos que surgem da fermentação do leite e, segundo Valenzuela, são benéficos na prevenção do desenvolvimento de tumores. O especialista afirma que um dos fatores que mais aumenta a possibilidade de gerar câncer é a obesidade e o aumento da gordura corporal, e esses produtos contribuem muito para evitar o ganho de peso ou gordura.
Iogurte e queijo são os que fornecem os maiores benefícios. “Por exemplo, as bactérias láticas que fermentam o iogurte, ou a geração de compostos bioativos nele presentes, teriam importantes efeitos protetores. Particularmente no cólon, reto e ânus. No primeiro, viu-se que os benefícios são muito mais potentes”, disse.
As informações são do Diario Lechero, traduzidas e adaptadas pela equipe MilkPoint.