Tu sabes como preparar bons sucessores para o seu negócio no leite?

Seja qual for o ramo, a criação de um negócio requer muito empenho, dedicação e compromisso. No leite, não é diferente. A estruturação de uma propriedade leiteira exige muitas coisas, entre elas, um plano de curto, médio e longo prazo.  

Ao iniciar o negócio, muitos se esquecem que, mais cedo ou mais tarde, outra pessoa precisará assumir as responsabilidades. Grande parte das pessoas acredita que isso é um ponto para ser decidido “mais pra frente”, mas esquecem que o processo de transferir a responsabilidade sobre o negócio deve ser gradual e constante.  

Foi sobre o tema de sucessão familiar que falamos com João Vitor Secco, um dos responsáveis pela Cabanha DS. Confira o bate-papo com alguém que vivenciou uma sucessão de negócio bem-sucedida.  

Stephanie Gonsales, MilkPoint: João, como foi que sua família introduziu vocês nas responsabilidades da fazenda? Isso é desde jovem? Conta um pouco sobre esse começo. 

João Vitor Secco:  Desde muito novo a gente foi incentivado e sempre estávamos junto na atividade com a família. Dessa forma, o estímulo a estar trabalhando, a estar junto, era contínuo. Nossos pais levavam a gente, tanto eu como meus primos, nas atividades do dia a dia da propriedade leiteira. Foi assim que a gente foi ganhando amor pela profissão. 

Stephanie Gonsales, MilkPoint: A sucessão do negócio foi gradual? Como foi essa parte?  

João Vitor Secco: A parte da sucessão do negócio foi, e está sendo ainda, muito gradual. Quando éramos bem novos, nós íamos para brincar. Com o tempo, cada um foi se identificando e criando mais afinidade com uma parte do negócio, então começamos a trabalhar efetivamente na propriedade e cada um trabalha mais direcionado a algum setor. A sucessão ainda está acontecendo, mas está sendo de forma bem gradual, bem lenta e sem pressa nenhuma. 

Stephanie Gonsales, MilkPoint: Quais foram as principais dificuldades nesse período de transição? Tanto da sua parte quanto da parte dos seus pais/avós/tios? 

João Vitor Secco: Eu acho que a principal dificuldade no começo, foi a gente ganhar confiança dos nossos pais para eles começarem a deixar as coisas nas nossas mãos. Para nós também não foi nada fácil, tem vários desafios e quando você não tem muita experiência, você acaba tendo um pouco de medo. O ponto positivo é que sempre tivemos total apoio da nossa família durante todo o processo. Eles sempre estiveram conosco incentivando, apoiando e dando oportunidade para estarmos dentro do negócio e aprender. 

Stephanie Gonsales, MilkPoint: Existia um certo receio por parte dos seus pais/tios ao passar a responsabilidade para alguém mais jovem?  

João Vitor Secco: Eu senti que eles se esforçaram bastante para transferir para nós as responsabilidades, então a gente não sentia um receio da parte deles. Claro que até hoje a gente ainda conta com a participação deles na propriedade, mas está sendo uma transição bem tranquila. Até porque essa questão do receio, a gente vê em algumas propriedades que acontece, mas a sucessão, para que a propriedade continue crescendo e desenvolvendo, ela tem que acontecer. Então acho que nossos pais sempre tiveram isso em mente, em fazer com que a gente se desenvolvesse e conseguisse tocar o negócio.  

Stephanie Gonsales, MilkPoint: Hoje vocês coordenam a fazenda integralmente?  

João Vitor Secco: Hoje toda a parte de gestão da fazenda é feita por mim, João Vitor, pelo Marcos e o Gustavo, que são meus primos. A minha irmã mais velha também ajuda, embora ela não trabalhe diariamente aqui, ela está presente para auxiliar na gestão e nas tomadas de decisões. O meu primo mais novo também já está começando. Ele tem 14 anos, está se integrando das atividades para futuramente assumir um setor e também ajudar a tocar o negócio. 

Hoje toda a coordenação da fazenda é responsabilidade nossa, claro que contamos com a ajuda do meu pai, Delacir, do meu tio, Daniel, e as suas esposas. Aos poucos vamos ganhando cada vez mais autonomia nas funções e ações dentro da propriedade, mas a nossa ideia não é chegar um dia e tirar nossos pais da atividade. Com certeza esse processo vai acontecer, nós vamos cada vez mais ir tomando frente, mas certamente eles sempre estarão presentes, como é com meu avô, que com 82 anos, até hoje faz parte do negócio, mesmo que simbolicamente.  

Stephanie Gonsales, MilkPoint: A geração mais jovem trouxe alguma mudança na forma de gerenciamento ou manejos? Quais foram as principais alterações? 

João Vitor Secco:  Sim, quando nós assumimos toda a parte de gestão da propriedade, nós trouxemos algumas mudanças. Víamos que, na época dos nossos pais, eles trabalhavam muito de maneira braçal e grande parte das vezes, a parte de gerenciamento e gestão da fazenda acabava ficando um pouquinho de lado, e isso acabava reduzindo a rentabilidade da propriedade. Então, quando nós assumimos mais diretamente a fazenda, nós trouxemos para fazenda uma gestão que é o mais próximo possível ou igual a uma gestão empresarial, embora seja uma fazenda familiar. Então, hoje, a nossa fazenda é uma empresa familiar, é uma empresa que tem setores e cada setor tem um responsável, mas não que cada setor seja isolado, cada setor tem o seu responsável, mas todos eles se integram. Uma fazenda não vai para frente sem uma recria de qualidade, sem uma gestão financeira de qualidade, sem uma gestão reprodutiva de qualidade, sem uma gestão de qualidade do leite, e todos os outros. Cada setor tem um responsável, mas todos os setores interagem, para que no final a empresa funcione de forma ordenada e venha trazer os retornos esperados. 

Stephanie Gonsales, MilkPoint: Resume um pouco para nós essa sua experiência bem-sucedida de transição do negócio, de sucessão familiar.  

João Vitor Secco:  Bom, para resumir, quando a gente resolveu realmente assumir a parte de gerenciamento da fazenda, foi um momento da nossa vida que era uma encruzilhada: ou eu e meus primos íamos trabalhar em outra empresa e provavelmente a Cabanha DS nem existiria hoje, ou nós erguíamos a cabeça, assumíamos a fazenda e reerguíamos ela de volta. Isso se deu em um período de muitas dificuldades na Cabanha, até paramos de produzir leite. Então resolvemos apresentar a nossa ideia aos nossos pais e eles prontamente nos apoiaram e aí sim veio realmente a sucessão. Claro que esse processo precisou ser muito apoiado pelos nossos familiares, mas nós tínhamos vontade de fazer algo diferente e de mostrar que atividade leiteira é algo rentável, queríamos mostrar que a produção de leite é algo que o jovem pode assumir para continuar no campo. Hoje, embora eles estejam junto conosco, nos ajudando, nós assumimos grande parte da responsabilidade e tocamos a produção de leite da fazenda. Isso tudo aconteceu tem pouco mais de quatro anos.   

João Vitor Secco será um dos palestrantes do Interleite Sul 2024, principal evento, feira de negócios e networking do leite sulista, que ocorrerá em Chapecó/SC, nos dias 8 e 9 de maio. 

Em sua palestra “O exemplo da Cabanha DS – a geração jovem assumindo o negócio”, João Vitor irá trazer seu exemplo e pretende instigar a presença do jovem no campo e a importância da transição gradual das responsabilidades. “Quero falar para o pessoal sobre a nossa história e tentar incentivar os jovens, mostrando que, embora nem tudo seja fácil e que no meio do caminho a gente vai ter muitos desafios, mas que após cada desafio vencido, o sentimento é gratificante e faz com que a gente fique cada vez mais incentivado”, disse.   

Realizado pelo MilkPoint, da MilkPoint Ventures, o Interleite Sul 2024 tem como objetivo reunir representantes das principais empresas de insumos do setor, técnicos, consultores, produtores, entidades e estudantes. Com o tema "Novos caminhos para o futuro da produção de leite" o evento tem como foco compreender os novos cenários em busca de nortear caminhos assertivos.

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