O carrapato que parasita os bovinos – espécie Rhipicephalus (Boophilus) microplus –, traz grandes prejuízos aos hospedeiros suscetíveis, geralmente, animais com alto grau de sangue europeu. Estimativas revelam que os prejuízos causados por este carrapato aos bovinos no Brasil chegam a mais de U$ 3 bilhões de dólares. O Instituto de Zootecnia (IZ/Apta), da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, tem tradição no estudo da relação entre este carrapato e seu hospedeiro – os bovinos. Para atender a demanda sobre o assunto a pesquisadora do IZ Cecília José Veríssimo está na coordenação do 5º Workshop Controle do Carrapato, que será realizado dia 12 de agosto, em Nova Odessa (SP).

Com o tema “Vacina: Futuro ou Realidade?”, a pesquisadora Cecília pontua a iniciativa de organizar um encontro científico com o objetivo de atualizar o conhecimento dos interessados. “O foco será o estado da arte do desenvolvimento de uma vacina anti-carrapatos, por cientistas brasileiros e internacionais”, enfatiza.

O Workshop, coordenado pelas pesquisadoras do IZ, Cecília José Veríssimo e Luciana Morita Katiki, e por Isabel Kinney Ferreira de Miranda Santos da FMRP/Ribeirão Preto, contará com palestrantes de renome nacional e internacional com grande experiência no assunto, como Alina Rodríguez-Mallon, expoente na área de biotecnologia, e que está a frente do aperfeiçoamento da vacina cubana contra o carrapato. Os palestrantes brasileiros são Isabel K.F. Miranda Santos, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/USP; Carlos Termignoni, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Joaquin Patarroyo (Universidade Federal de Viçosa, MG); Renato Andreotti (Embrapa Gado de Corte; Campo Grande, MS); e Luiz Ricardo Goulart (Universidade Federal de Uberlândia, MG). O evento contará, ainda, com a presença do Professor Gervásio Bechara (FCAVJ/Unesp Jaboticabal), como debatedor da mesa redonda, e Marcia Oliveira (Embrapa São Carlos), como moderadora.

O controle do carrapato, segundo a pesquisadora, está cada vez mais complicado em função da resistência que o parasita tem adquirido aos produtos comerciais que estão no mercado. “Desde de 2011, a Secretaria de Agricultura, por meio do Instituto de Zootecnia, realiza, anualmente, o workshop sobre controle de carrapato, apresentando técnicas voltadas para um controle sustentável do parasita, e que possam minimizar ou otimizar o uso dos carrapaticidas, que não têm mais a mesma eficácia de antes”, enfatiza.

O IZ também foi o local, segundo Cecília, onde uma vacina contra o carrapato, desenvolvida pela equipe de pesquisadores liderados pela professora Isabel, foi testada em bovinos. “A vacina teve uma eficácia em torno de 70%”, destaca.

Controle dos parasitas - Carrapatos são parasitas hematófagos que, para obter sangue, usam componentes de sua saliva para invadir e se fixar na pele de seus hospedeiros, inibindo suas respostas de defesa para não prejudicar a seu ciclo de vida e reprodução.

Durante esse processo, a pesquisadora Isabel Miranda explica que os carrapatos espoliam seus hospedeiros e também transmitem patógenos, consequentemente, as infestações dos carrapatos causam estresse, perda de peso e danos ao couro. “Os acaricidas são atualmente a única opção dos produtores para matar carrapatos, mas podem contaminar produtos de origem animal, como leite e carne, além de poluir o meio ambiente”, afirma.

“Vacinas anticarrapatos constituem uma tecnologia sustentável não poluente para controlar infestações, mas para serem bem sucedidas elas devem visar as estratégias complexas, dos quais os carrapatos se valem para se alimentar de seus hospedeiros”, salienta Isabel.
 
Para se conseguir um controle sustentável das infestações de carrapatos com uma vacina que seja eficiente, o produto deverá limitar a ingestão de sangue e diminuir o número de carrapatos que parasitam os hospedeiros, alcançando o bem-estar animal e uma boa produtividade.

A vacina também deverá reduzir as massas de ovos produzidas pelas fêmeas de carrapatos e suas taxas de eclosão, diminuindo, assim, a eficiência reprodutiva de carrapatos – efeito que restringe a infestação nas pastagens.

“Com logística de vacinação simplificada, por meio de uma boa memória imunológica, o resultado será certo e preciso”, conclui Isabel.

Apoio - O evento do IZ recebe, pelo terceiro ano consecutivo, o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – Fapesp. A coordenadora do workshop, Cecília, diz que a verba solicitada permitirá trazer líderes de pesquisas em vacina contra o carrapato de todo o país. O Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo, CRMV-SP, também está colaborando com o evento.

Os profissionais irão integrar a mesa redonda para expor seus resultados de pesquisa, e segundo Cecília, estarão à disposição para esclarecer aos participantes, em que fase está a eficiência da vacina e se logo poderá haver o controle do carrapato com o novo meio de defesa.

Dentre os convidados está a pesquisadora do Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia de Havana, Cuba, que falará do desenvolvimento de uma vacina mais eficiente contra o carrapato. Cecília comenta que, na década de 80-90, já houve a tentativa do uso da vacina cubana GAVAC®. “Chegou a ser comercializada no Brasil, mas, na época, tinha um custo alto e baixa eficácia para o controle esperado”, completa.

Mais informações sobre o evento, currículo dos palestrantes e inscrições podem ser obtidas no site do evento: www.infobibos.com/carrapato.