Diante da disputa acirrada entre os ministros Kátia Abreu (Agricultura) e Patrus Ananias (Desenvolvimento Agrário) pelo comando da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater), a presidente Dilma Rousseff resolveu intervir pessoalmente no caso e propôs um nome de sua estreita confiança para presidir o órgão e, enfim, tirá-­lo do papel. Não há garantia, entretanto, se a agência de fato funcionará ainda este ano.

O comando da Anater deverá ficar com o engenheiro agrônomo paranaense Gilson Bittencourt, técnico bastante conhecido na Esplanada. Ele ocupa cargos no Executivo desde 2001, quando foi secretário do MDA ainda na gestão de Fernando Henrique Cardoso, e sempre cuidou de assuntos ligados à agropecuária. Quando esteve na Casa Civil, era o responsável por aconselhar Dilma sobre todas as demandas no segmento agrícola.

A presidente já avisou que pretende nomear nesta segunda-­feira (22/06) o presidente e os diretores da Anater, em cerimônia no Planalto para lançar as novas condições de juros e crédito rural do Pronaf, espécie de Plano Safra da agricultura familiar. Bittencourt também já foi consultor da FAO, o braço das Nações Unidas para agricultura e alimentação, no Chile.

Bittencourt está na secretaria de Planejamento e Investimentos Estratégicos do Ministério do Planejamento desde janeiro, quando deixou o posto de secretário-executivo adjunto da Casa Civil. Antes, teve longa passagem pelo Ministério da Fazenda, na gestão de Guido Mantega, onde era responsável pelos votos agrícolas do Conselho Monetário Nacional (CMN).

Criada em 2013 com a finalidade de repassar recursos para as Emater (institutos de assistência técnica regionais), a agência até conta com orçamento de aproximadamente R$ 1 bilhão, mas até hoje não pôde funcionar pois carece de uma diretoria. Em sua constituição, tem uma presidência e três diretorias, das quais uma é cativa da Embrapa.

Bittencourt já havia sido sondado por Dilma para o comando da Anater, mas declinou da primeira vez. Seu nome sofre resistência de algumas alas do agronegócio, que o consideram um técnico "linha dura". Essa "fama" cresceu quando ele esteve na Fazenda e defendia um controle rigoroso dos gastos públicos na definição dos Planos Safra. Bittencourt não quis comentar sua indicação.

Apesar de o técnico ser respeitado no governo, o ministro Patrus Ananias havia sugerido à presidente a nomeação de Nilson Cosson, técnico de carreira da Emater do Acre, que recebeu apoio de seu conterrâneo, o atual líder do PT na Câmara, deputado federal Sibá Machado. Se não deverá ficar com a presidência, Cosson tende a ser nomeado para uma das três diretorias da Anater.

Já a ministra Kátia Abreu tentou emplacar em pelo menos uma das diretorias o nome de Caio Rocha, seu secretário de Desenvolvimento e Cooperativismo, que segue cotado. Técnico com carreira no Rio Grande do Sul e ligado ao PMDB, Caio assumiu esse posto em 2011, na gestão do ex­-ministro Mendes Ribeiro, e tem como padrinho o vice­-presidente da República, Michel Temer. Essa é uma das estratégias da ministra para viabilizar sua principal promessa política: dobrar a classe média rural brasileira, com a ascensão de 800 mil produtores das classes D e E para a C.

As informações são do Jornal Valor Econômico.