Dentro dessa lógica de transformação, há um importante trabalho a ser feito no campo, sinalizando uma retomada da aproximação entre produtores e indústrias, a exemplo do que ocorreu há cerca de 2 décadas e que, mais recentemente, foi em muito reduzido. Os laticínios podem ser, direta ou indiretamente, um importante elo entre o produtor e as pesquisas.
Paralelamente, com capacidade ociosa em níveis muitas vezes elevados, a concorrência por leite tem sido grande nos últimos anos, tornando a fidelização de produtores uma questão cada vez mais relevante para os laticínios. Muitos dos serviços prestados pelas empresas no campo, também convertem para o fortalecimento do conceito de fidelização, garantindo o suprimento de leite e valorizando o investimento e trabalho contínuo.
O MilkPoint procurou alguns dos principais laticínios brasileiros para verificar quais são as melhores práticas que estão sendo utilizadas com o objetivo de melhorar a eficiência de sua rede de fornecimento e a gestão de risco de seus fornecedores. Nenhum dos laticínios consultados divulgou, até o momento, trabalhos relacionados à gestão de risco, tendo como maior foco os projetos de aumento de eficiência e fidelização.
Danone
Segundo a empresa, a Danone vem promovendo ao longo dos anos iniciativas que visam a profissionalização da atividade, integradas no Programa de Desenvolvimento dos Produtores Danone, o DanLeite. O foco é a sustentabilidade do negócio e a qualidade da matéria-prima.
Pensando em manter sua base de fornecedores, a empresa desenvolveu o Poupança Leite, que é uma bonificação mensal para aqueles que entregam leite de qualidade regularmente ao longo de um ano. O valor é resgatado no final do período e o produtor pode usá-lo para investimentos na propriedade. O produtor também pode receber um bônus extra de até 15% se usar o recurso poupado na Central de Compras, estimulando assim o re-investimento na atividade. Essa central proporciona aos produtores os produtos e serviços necessários para a atividade com custos mais competitivos do que o mercado.
A assistência técnica estimulada é nos moldes do Educampo1 , o qual promove uma gestão técnica e econômica da fazenda. A outra forma de incentivo é o pagamento por qualidade, que estimula o produtor a investir nas boas práticas de produção.
A empresa possui como canal de comunicação a Revista Danone no Campo, onde veicula assuntos relacionados à pecuária leiteira.
Dairy Partners Americas (DPA)
A DPA também fomenta a adesão dos seus produtores aos programas de assistência técnica, visando aumentar a produtividade, reduzir custos, aumentar o retorno financeiro e a sustentabilidade da atividade. Para isso, implementou o NATA (Núcleo de Assistência Técnica Autorizada) - coordenado pela própria DPA - e o Educampo1, coordenado pelo Sebrae-MG. Nos dois, técnicos analisam e indicam caminhos para que cada produtor consiga melhorar o desempenho e o retorno financeiro de sua fazenda leiteira.
A empresa investe também em outros dois programas de base: o Boas Práticas na Fazenda DPA (BPF) e o Pró-Sólidos. O BPF auxilia o produtor a adotar procedimentos e controles em sua propriedade leiteira, melhorando a gestão da sua fazenda, diminuindo perdas relacionadas à qualidade e os riscos à segurança do leite produzido. Já o Pró-sólidos é um programa que visa aumentar o teor de sólidos do leite através de fomento de sêmen de touros melhoradores de sólidos, além de trabalhar com manejo nutricional e bem-estar animal.
A empresa recompensa o incentivo ao investimento de melhoria da qualidade bonificando pelos itens relacionados.
Ainda, estimula a venda de produtos e serviços via clube de compras agindo como interveniente na negociação. A empresa possui também uma parceria com alguns fabricantes de tanques de resfriamento e ordenhas mecânicas, facilitando o financiamento desses equipamentos.
Na área da comunicação a empresa possui a Revista Leite DPA, site, calendário e outros boletins.
Itambé
“Sabemos que nos dias atuais a palavra de ordem é a profissionalização da atividade leiteira, que vai desde a utilização de tecnologias até a gestão de custos na propriedade. Pensando nisso, a Itambé fez uma pesquisa com seus cooperados e entendemos que era necessário trabalhar com programas de assistência voltados para gestão e projetar estratégias de atendimento aos ‘grandes produtores’ que estão por vir”, disse Tatiane Pizzol, Coordenadora de Projetos Agropecuários da Itambé.
Legenda: Tatiane Pizzol, Coordenadora de Projetos Agropecuários da Itambé.
Baseada nessas necessidades, muitos projetos vêm sendo desenvolvidos na área de gestão, como o programa Gestão Eficiente das Propriedades Leiteiras (GEPLEITE), que é uma parceria com a Embrapa Gado de Leite que tem por objetivo trazer informações sobre a saúde financeira da propriedade e outros projetos que possuem propósitos similares, como o Educampo1; a Gestão com Qualidade em Campo (GQC), o Projeto Gestão da Pecuária Leiteira (PGPL) e o Mercado Leite.
Já na área de transferência de tecnologia são oferecidos programas como e de Combate ao Carrapato, que estabelece ações efetivas a partir de um teste de resistência aos carrapaticidas; o Irrigaleite, que é um projeto de irrigação de pastagem que visa disseminar a tecnologia; o Balde Cheio2; o Projeto de Melhoria da Qualidade do Leite (PMQL); o Programa Alimento Seguro Segmento Leite (PAS LEITE); o Repasses de Tourinhos e Novilhas com prenhez confirmada de FIV, financiados pela empresa; Programa de Gerenciamento dos Rebanhos Leiteiros de Minas Gerais (PMG Leite) e as visitas da Qualidade.
Projetos de cunho educativo também foram desenvolvidos, como o Unileite, uma parceria entre a Escola de Veterinária da UFMG e outras as empresas do setor, onde os participantes são permanentemente treinados, em procedimentos relacionados à produção de leite de qualidade.
“Neste momento estamos estruturando novos projetos para o ano de 2013 que terão como foco a busca por uma melhor condição para compra de insumos por parte dos produtores, buscando atuar diretamente na redução do custo de produção, que tem sido o vilão da atividade nos últimos anos”, explica Pizzol.
A empresa também utiliza o pagamento por qualidade e distribui aos seus produtores revistas especializadas do setor.
Jussara
A Jussara possui programas voltados à melhoria contínua da propriedade rural, envolvendo as diversas etapas de produção visando a melhoria da gestão do negócio e a qualidade do leite comercializado. A empresa disponibiliza financiamentos de equipamentos, insumos e matrizes., além de possuir fábrica de rações com fórmula travada, o que significa garantia do padrão de arraçoamento dos animais e conseqüente elevação na conversão do insumo em produção de leite. Financia também o silo graneleiro, proporcionando a redução do custo do insumo e reduzindo a exposição do produto.
Além desse programas, há convênios e parcerias com programas de assistência técnica nacionais e regionais, como o programa Balde Cheio2.
“Independentemente dos programas já citados, acreditamos que a melhor
prática para estabelecer relacionamentos duradouros é, prioritariamente,
calcar a negociação no cumprimento dos compromissos assumidos pela empresa
junto aos fornecedores”, relata Eduardo Nascimento, Gerente de Política Leiteira do Laticínios Jussara.
Legenda: Eduardo Nascimento, Gerente de Política Leiteira do Laticínios Jussara.
Lácteos Brasil S.A (LBR)
O Programa de Desenvolvimento dos Produtores LBR consiste em apoiar e estimular a comunidade produtora de leite a buscar melhorias de qualidade e produtividade.
O Projeto 300 tem por objetivo elevar a produção média dos fornecedores da companhia a patamares superiores a 300 litros de leite por dia. O acompanhamento é feito através de visitas de técnicos e o trabalho consiste na transferência de tecnologias sobre pecuária intensiva de leite e utiliza a metodologia do Projeto Balde Cheio2. Ainda, há convênios técnicos para suporte ao produtor, mantendo parcerias com órgãos especializados como Embrapa, Emater e universidades.
A companhia valoriza a qualidade no pagamento do leite visando aumentar a produção de leite com qualidade e composição de gordura e proteína.
Os produtores de leite ainda tem acesso ao suporte especializado e condições especiais de insumos, equipamentos e serviços, sendo disponibilizados créditos para que possam efetuar aquisição de insumos.
“As contribuições desses programas não se restringem ao fato do relacionamento da LBR com a sociedade produtiva, mas também têm o objetivo levar de forma responsável e eficaz conhecimento e tecnologia aos produtores”, diz Antônio Carlos, Gerente Nacional de Política Leiteira.
Legenda: Antônio Carlos, Gerente Nacional de Política Leiteira da LBR
A comunicação é feita através da revista Produtor LBR, dos Dias de Campo, treinamentos e materiais desenvolvidos direcionados ao produtor.
Piracanjuba (Laticínios Bela Vista)
“A pecuária leiteira brasileira cresce consideravelmente, e os problemas relacionados à atividade como falta de mão-de-obra especializada, baixa produtividade do rebanho e alto custo de produção, se intensificam. Com o Piracanjuba Pró-Campo, colaboramos para a mudança desse cenário”, afirma Luiz Magno, Diretor de Expansão do Laticínio Bela Vista.
Legenda: Luiz Magno, Diretor de Expansão do Laticínio Bela Vista.
Dentre os serviços e produtos do Piracanjuba Pró-Campo estão a assistência técnica e uma central de processamento de dados que auxilia no gerenciamento de dados zootécnicos e financeiros de cada propriedade. Também há um Centro de Apoio Técnico ao Produtor de Leite que é uma espécie de fazenda-escola, composta por diversos centros, laboratórios e unidades demonstrativas:
- Centro de treinamento de mão de obra: local de administração de cursos abertos ao público interessado. Os cursos são gratuitos e disponibilizados seguindo às necessidades das diversas áreas da pecuária de leite.
- Unidade Demonstrativa de Produção de Leite: são fazendas demonstrativas onde é possível observar tecnologias que visam à produção de leite a custos competitivos, com a qualidade compatível com a exigência do mercado, com respeito ao meio ambiente, além de todos os controles zootécnicos e financeiros. Os produtores têm acesso a diversas opções de tecnologias de produção, como pastagens rotacionadas e irrigadas; variedades de cana para a produção de leite; uso de cruzamentos; diferentes tipos de sistemas de contenção, ordenhas e sistemas de criação de bezerros; tipos de irrigação, entre outras atividades.
- Unidade de Recria e Venda de Touros reprodutores de raças leiteiras: local onde são feitas as vendas de touros da raça Holandesa, aberta para todos os produtores de leite, podendo ser financiados pela empresa.
Algumas outras atividades complementares são oferecidas aos produtores buscando orientar o produtor de leite em relação as suas responsabilidades com o meio ambiente e a sociedade em que vive, tais como o projeto de recuperação de nascentes. A Unidade de Responsabilidade Socioambiental visa conscientizar os produtores de leite das formas de preservação de nascentes e recuperação daquelas que estão degradadas, através do reflorestamento de matas ciliares de nascentes; estimular que o produtor de leite plante árvores que produzam madeiras nobres, em locais de sua fazenda que não são utilizados e implementar o sistema silvipastoril incrementando a produtividade por unidade de área, evitando a degradação das pastagens. Já a unidade Laboratório de Biocarrapaticidograma tem o objetivo de avaliar o grau de resistência dos carrapatos aos principais carrapaticidas.
O produtor de leite pode contar ainda com um viveiro de mudas de cana-de-açúcar e é orientado a plantar, numa pequena área da fazenda, a variedade escolhida.
O Laticínio Bela Vista ainda possui parceria com o Banco de Desenvolvimento do Estado de Goiás – Goiás Fomento a qual visa disponibilizar crédito ao produtor de leite de forma fácil e simples. O Piracanjuba Pró-Campo possui uma Central Facilitadora de Crédito que recebe, confere e corrige possíveis erros de toda a documentação e a repassa ao banco.
“Muitas vezes o produtor tem determinado recurso, tem mão de obra, mas falta informação e qualificação para atingir bons resultados. Existem casos em que não é preciso sequer desembolsar nada para melhorar a atividade; é uma questão apenas de ajustar o manejo e gerenciar”, explica Magno.
Vigor
“Os projetos que a Vigor tem no campo vislumbram, entre outras coisas, a transferência de tecnologias para que haja no médio prazo o ganho de eficiência produtiva por parte dos fornecedores atendidos. A empresa está estruturando uma central de relacionamento que será capaz de entender a demanda dos seus fornecedores e buscar oportunidades de negócios que resultem na redução do custo na produção do leite”, explica Fábio Philomeno, Coordenador de Fomento da Vigor.
Legenda: Fábio Philomeno, Coordenador de Fomento da Vigor
Recentemente foi implantado o Plano de Valorização da Qualidade (PVQ). Com ele, é possível estimular a qualidade da matéria prima e indiretamente o aspecto de comprometimento e organização com a produção do leite por parte dos produtores.
A Vigor também atua no campo com a metodologia do Educampo1 em Minas Gerais. Já em São Paulo, é feito o controle zootécnico das fazendas através do Sebraetec3. Segundo Philomeno, para o correto andamento dos projetos é feito um monitoramento constante de satisfação do produtor.
A empresa ainda disponibiliza técnicos chamados de agentes de relacionamento, que são capacitados pela Clínica do Leite (ESALQ/USP) para fazerem visitas frequentes de qualidade às fazendas, focando e aprimorando a contínua busca pela excelência na qualidade na matéria-prima.
Ser eficiente e competitivo da porteira para dentro é questão prioritária. Como na maioria das vezes as margens de lucro dos produtores são pequenas, é necessário aumentar a eficiência e a escala de produção para mudar esta situação. Para alcançar este ideal é necessário aprimorar a gestão e tomar decisões baseadas em controles zootécnicos, financeiros e econômicos. Baseados nessas necessidades, os laticínios têm desenvolvido programas que apoiam seus fornecedores, contribuindo para a competitividade do leite brasileiro e também servindo como importantes ferramentas de fidelização.
“O setor precisará passar por grandes mudanças visando garantir uma produção que abasteça o mercado interno e coloque novamente o Brasil no rumo da exportação. Esse processo ainda está se iniciando e as ações dos laticínios caminham nesse sentido”, diz Marcelo Pereira de Carvalho, coordenador do portal MilkPoint.
Educampo1: é um programa de assistência técnica e gerencial, realizado em parceria com o Sebrae/MG, que permite ao produtor melhorar a gestão de sua propriedade, através da priorização de análise de custos de produção tornando-as mais eficientes e competitivas. Os técnicos fazem uma análise detalhada, levando em conta a estrutura, o perfil do fazendeiro, os animais e, com base nesses dados, é elaborado um planejamento de médio prazo para tornar o negócio produtivo. Ou seja, os produtores começam a olhar para a sua fazenda como uma empresa, com metas a atingir, investimentos e projeção de lucros.
Projeto Balde Cheio2: O Programa Balde Cheio é uma metodologia inédita de transferência de tecnologia que contribui para o desenvolvimento da pecuária leiteira em propriedades familiares. Seu objetivo é capacitar profissionais de extensão rural e produtores, promover a troca de informações sobre as tecnologias aplicadas regionalmente e monitorar os impactos ambientais, econômicos e sociais, nos sistemas de produção que adotam as tecnologias propostas.
Sebraetec3: É um programa do Sebrae que permite às micro e pequenas empresa e empreendedores terem acesso aos conhecimentos tecnológicos existentes na infraestrutura de ciência,tecnologia e inovação