Um dos estudos da Bioclimatologia é a adaptação do animal doméstico ao clima e ao ambiente que o rodeia. O clima age sobre os animais, através de seus agentes (distribuição do calor, da luz, da água, umidade, pressão, altitude, longitude, latitude, os ventos e a topografia do terreno). Esses animais reagem a essas ações e conforme sua intensidade a produção econômica pode ser modificada.
O clima é que determina quase todas as ações de manejo e quais edificações cabíveis aos animais, buscando sempre o bem-estar destes. Porém, esta semana vimos em determinadas regiões do planeta, quase todas consideradas de clima frio, temperaturas chegarem de 42ºC a 45ºC. Houve com isso conseqüências dolorosas, como prejuízos na agricultura e pecuária, mortes de animais e seres humanos e muitas enchentes. Isso, nada mais é do que uma resposta da natureza aos maus tratos de tantos anos. Cabe então, estarmos preparados para as mudanças climáticas, caso contrário produtores e o estado terão muito prejuízo na sua cadeia produtiva.
Há necessidade do controle climático da região para as tomadas de decisões e correção de eventuais distúrbios climáticos. Mas será que só isso resolve? É preciso sensibilidade para entender que o animal produz e reproduz mais em ambientes com maior conforto. Muitos podem achar capricho ou luxo, mas podem ter certeza, com o aquecimento global, será uma necessidade geral.
Adequar a edificação ao clima de um determinado local significa construir espaços que possibilitem ao animal condições de conforto (NÃÃS, 1989).
Fonte: www.capritec.com.br/csa
Figura 1: Cabras em ambiente confortável
As instalações zootécnicas serão mais eficientes se dimensionadas adequadamente, de forma a fornecer condições ambientais próximas às ideais, isso dependendo do tipo de animal, finalidade e sistema de manejo (BAÊTA & SOUZA, 1997).
Deve-se observar:
• Idade, sexo e estado fisiológico;
• tamanho dos lotes;
• Ruídos e sinais estranhos ao meio ambiente;
• Condição de saúde e
• Desocupação periódica.
Os animais não têm como falar se estão sofrendo por estresse ou se estão em ambiente desconfortável, porém com as avaliações de comportamento e das instalações é possível identificar se o animal está passando por estresse.
Fonte: Arquivo do autor
Figura 2: Percebe-se que nem todos os animais estão se alimentado, geralmente são os mais fracos ou os mais jovens.
A combinação de ambientes estressantes, rebanho numeroso e instalações inadequadas têm intensificado os problemas de manejo e saúde dos animais (MÜLLER, 1989). Segundo BAÊTA & SOUZA (1997), ambiente externo animal compreende todos os fatores físicos, químicos, biológicos, sociais e climáticos que interagem com o animal, produzem reações no seu comportamento e definem, assim, o tipo de relação animal-ambiente.
Fatores físicos: Espaço, luz, som e equipamentos;
Fatores químicos: Gases presentes na atmosfera, que nas instalações inadequadas possuem maior concentração;
Fatores biológicos: Natureza do material alimentar (volumoso ou concentrado) - valor nutricional, qualidade, balanceamento, % de fibra, etc.
Fatores sociais: Número de animais por área, comportamento e a ordem de dominância.
Fatores climáticos: Temperatura, umidade relativa, movimento do ar e a radiação.
Para amenizar estes fatores, há necessidade de melhor entender as relações entre os elementos climáticos e a fisiologia animal, que é objeto da Bioclimatologia Animal, ciência que vem ganhando espaço e importância no meio científico (TITTO, 1998).
Os elementos climáticos, comentados em um artigo anterior, serão fundamentais para a caracterização do micro clima das instalações e as eventuais modificações ambientais.
O micro ambiente térmico do animal, segundo BAÊTA & SOUZA (1997), consiste em cinco componentes principais: temperatura do ar, umidade do ar, temperatura radiante, temperaturas superficiais e velocidade do ar. O conhecimento desse micro ambiente térmico animal possibilita realizar as modificações ambientais, adequando assim a instalação à categoria e número de animais. E, para avaliar se as mudanças sortiram efeito, deve-se avaliar o comportamento e desempenho dos animais.
Os animais vivem em equilíbrio dinâmico com o meio e a ele reagem de forma individual. Sua produção está condicionada às influências do ambiente, o qual não se mantém constante ao longo do tempo. A vulnerabilidade dos animais às condições meteorológicas, uma vez deslocados para um ambiente diferente do original ou frente a mudanças dentro do mesmo ambiente, faz com que recorram a mecanismos de adaptação fisiológica a fim de manter a homeostase (BACCARI JUNIOR, 2001).
A primeira condição de conforto térmico dentro de uma instalação é que o balanço térmico seja nulo. Assim, o calor produzido pelo organismo animal mais o calor ganho pelo ambiente será igual ao calor perdido por radiação, convecção, condução e evaporação. Caso contrário, o animal tem que se defender, utilizando mecanismos fisiológicos para manter a termorregulação. A produção de calor, bem como sua dissipação para o meio é um processo interativo, que depende diretamente da fisiologia animal e das condições do ar (SILVA, 2000).
A freqüente situação de temperatura elevada dentro das instalações deve-se principalmente ao seu dimensionamento inadequado, do que propriamente à adversidade climática. Sendo assim, o micro clima interno de uma instalação pode ser alterado com a adoção de sistemas de condicionamento de ambiente, que, projetados adequadamente, poderão proporcionar um resfriamento eficiente.
Fonte: Arquivo do autor
Figura 3. Instalações para ovinos em Planalto - BA
O controle eficiente do ambiente pode empregar sistemas naturais e artificiais. Inúmeros métodos têm sido desenvolvidos para modificar o ambiente no qual o animal está inserido, visando amenizar o efeito do estresse térmico. Estes pontos foram comentados no artigo anterior, com figuras e gráficos.
Os animais com tolerância ao ambiente tropical devem possuir:
1- Tolerância ao calor;
2- Certos caracteres em função adaptativa dos trópicos;
3- Capacidade para achar alimentos e utilizá-los;
4- Capacidade para se reproduzir e
5- Resistência às doenças e ao ectoparasitismo tropicais
As diferentes respostas do animal, às peculiaridades de cada região são determinantes no sucesso da atividade através da adequação do sistema produtivo às características do ambiente e ao potencial produtivo dos ruminantes (TEIXEIRA, 2000).
Portanto, os estudos e pesquisas na área de bioclimatologia animal propiciaram desenvolvimento significativo no conhecimento e explicação dos efeitos climáticos sobre os animais, com isso influenciando diretamente a produção animal e refletindo na qualidade e quantidade do produto final. Quanto mais se compreende as interações entre o ambiente e os animais, que em sua maioria são refletidas no seu comportamento e bem-estar, melhor serão a execução e definição de estratégias para minimizar os efeitos do clima sobre os animais.
Bibliografia consultada
BACCARI JUNIOR, F. Manejo ambiental da vaca leiteira em clima quente. Londrina: UEL, 2001.
BAÊTA, F.C.; SOUZA, C.F. Ambiência em edificações rurais - conforto animal. Viçosa: UFV, 1997, 246p.
MÜLLER, P.B. Bioclimatologia aplicada aos animais domésticos. 3ª ed. Porto Alegre - RS: Editora Sulina, 1989.
NÃÃS, I.A. Princípios de conforto térmico na produção animal. São Paulo: Ícone Editora, 1989.
RASLAN, L.S.A. e TEODORO, S.M. Aspectos comportamentais e fisiológicos de ovinos tipo santa Inês em ambiente tropical. www.farmpoint.com.br/bem-estarecomportamentoanimal . 07/05/2007.
RASLAN, L.S.A. Zona de conforto térmico e adaptação de ovinos. www.farmpoint.com.br/bem-estarecomportamentoanimal . 01/06/2007.
RASLAN, L.S.A. e TEODORO, S.M. Modificações ambientais para clima tropical. www.farmpoint.com.br/bem-estarecomportamentoanimal . 06/07/2007.
SILVA, R.G. Introdução à Bioclimatologia animal. São Paulo - SP: Editora Livraria Nobel, 2000.
TEIXEIRA, M. Efeito do estresse climático sobre parâmetros fisiológicos e produtivos em ovinos. 2000. 62 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Ceará: Fortaleza.
TITTO, E.A.L. Clima: Influência na produção de leite. In: Simpósio Brasileiro de Ambiência na produção de Leite, 1, Piracicaba, 1998. Anais ... Piracicaba-SP: FEALQ, 1998, p.10-23.