No Estado de São Paulo, os Institutos de Zootecnia e Biológico e outras Unidades de Pesquisa pertencentes à APTA (Agência Paulista de Tecnologia de Agronegócios) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, juntamente com a Embrapa Pecuária Sudeste, se uniram para realizar um trabalho cujo objetivo principal é conhecer o estado atual da resistência dos vermes a produtos que usamos para combatê-los, os vermífugos. Cinco grupos químicos de vermífugos estão sendo avaliados: albendazol, levamisol, ivermectina, moxidectina e closantel.
A avaliação deverá ser efetuada em pelo menos 38 propriedades em diferentes regiões do estado. O projeto envolve pesquisadores situados em diferentes regiões, com o objetivo de formar uma rede de pesquisadores na área de sanidade de ovinos.
Participam do trabalho os seguintes pesquisadores:
A pesquisadora Simone Méo Niciura, da Embrapa, será responsável pelo estudo da genética dos vermes. O objetivo é estabelecer um diagnóstico precoce da resistência, através da avaliação da distribuição populacional dos genes relacionados com a resistência dos vermes aos produtos químicos, especialmente em relação ao grupo dos albendazoles, cujo gene da resistência já é bem conhecido.
Testes a campo já vêm sendo efetuados, e os resultados até o momento não são nada animadores (como já era esperado), já que o uso indiscriminado de vermífugos é o principal fator que leva ao aparecimento da resistência.
O Prof. Marcelo Beltrão Molento, da Universidade Federal do Paraná, também participa deste trabalho, atuando principalmente como consultor. Ele tem alertado os produtores de ovinos de todo o país em suas palestras, cursos e artigos técnicos sobre o problema da resistência. É um defensor do tratamento seletivo do rebanho, como o método Famacha de avaliação da mucosa ocular, como forma de avaliar se o animal deve ou não ser vermifugado. Em minhas palestras e cursos também tenho divulgado o método, e enfatizado a importância da alimentação e da resistência genética do animal à verminose, como forma de controle.
Neste trabalho que estamos realizando, tenho chegado, cada vez mais, à conclusão que, em relação ao controle da verminose, menos vale mais. Ou seja, quanto menos vermífugo se utiliza em uma criação, melhor é para todo o sistema. Principalmente porque se preserva por mais tempo a eficácia de um vermífugo.
A primeira coisa que um técnico deve fazer quando dá assistência a uma propriedade é verificar a eficácia dos vermífugos que estão sendo utilizados. É muito comum o proprietário usar um produto (geralmente em todo o rebanho), que não está mais sendo eficaz. Ou seja, aplicar ou não dá na mesma, ou, até mesmo, acaba tendo efeito contrário ao desejado, aumentando muito a produção de ovos, como se fosse uma "vitamina" para o verme, e não uma substância para mata-lo. Durante a realização deste trabalho estou confirmando alguns resultados que já havia observado em uma propriedade. Com o uso freqüente do vermífugo, e em toda a população, ocorre o seguinte:
- Diminuição rápida, às vezes em menos de um ano, da eficácia do vermífugo, que pode ser acompanhada de aumento no OPG (contagem de ovos por grama de fezes), o que resulta em aumento na infestação das pastagens;
- Aumento da proporção de Haemonchus contortus (o verme que mata por anemia) nas coproculturas (cultura das fezes, utilizada para recuperar as larvas e identificar os gêneros presentes). Geralmente, Haemonchus contortus é quem mais sobrevive às vermifugações. Outros vermes menos patogênicos, tais como Cooperia, Strongyloides, ou Oesophagostomum, geralmente desaparecem quando se utiliza muito vermífugo.
A combinação desses dois fatores (aumento na infestação por Haemonchus contortus), geralmente causa muitos prejuízos ao produtor.
Para a realização deste trabalho, é necessário que os animais estejam com OPG positivo, ou seja, que tenham pelo menos mais de 4 ovos na câmara de MacMaster (câmara especial, onde se contam os ovos de helmintos e oocistos de Eimeria). Em algumas propriedades ainda não foi possível realizar o trabalho porque a maioria tinha OPG = zero, ou muito próximo disso. Veja alguns exemplos encontrados em propriedades onde o trabalho já foi realizado (Tabela 1) e onde ainda não foi (Tabela 2).
Tabela 1 - Resultados obtidos em propriedades onde o experimento já foi realizado.
* A porcentagem de redução do OPG foi calculada pelo programa RESO, que calcula a redução com base em um grupo controle não vermifugado.
Tabela 2 - Propriedades que utilizam pouco vermífugo, onde o trabalho ainda não foi realizado.
A eficácia do vermífugo pode ser facilmente verificada por meio da fórmula:
% Ef = (média OPG antes - média OPG depois) / média OPG antes x 100,
onde: OPG antes é a média que as ovelhas tinham no dia da aplicação do vermífugo, e OPG depois é a média dos mesmos animais, preferencialmente, cerca de 10 dias depois. Para ser considerado eficaz, o vermífugo deve ter pelo menos 90% de eficácia. Abaixo desse valor, significa que já pode estar havendo resistência.
Outras formas de controle alternativo da verminose, além do controle seletivo, como forma de diminuir o uso dos vermífugos no rebanho vêm sendo estudadas, tais como a fitoterapia e uso de fungos nematófagos, e logo estarão disponíveis ao produtor rural.
O medicamento homeopático Sulphur 30CH tem sido utilizado com sucesso no controle da verminose em criatórios da raça Santa Inês na Bahia.
A alimentação adequada às categorias mais exigentes, como fêmeas no final da gestação e durante a lactação, e cordeiros, principalmente em relação ao teor de proteína bruta da dieta, também colabora no controle da verminose porque aumenta a resposta do sistema imune dos animais, e, conseqüentemente, diminui a infestação.
Deve-se sempre lembrar que a resistência dos animais à verminose é uma característica genética e hereditária, ou seja, passa através das gerações. Isso significa que ao utilizarmos um reprodutor(a) resistente, este passará essa característica às futuras gerações, e o mesmo acontece com a suscetibilidade. Então se, por azar, utilizamos um reprodutor suscetível, este passará essa característica (suscetibilidade à verminose) à maioria dos seus descendentes, podendo inviabilizar uma produção sustentável, a pasto. Com o problema atual da resistência dos helmintos aos anti-helmínticos, cada vez mais uma realidade presente nas criações ovinas, essa opção (animal resistente à verminose) torna-se cada vez mais importante em um programa de seleção de qualquer raça criada em nosso país, que apresenta condições tão favoráveis ao desenvolvimento e sobrevivência de Haemonchus contortus, o mais prevalente e patogênico nematóide gastrintestinal.