Foto 1: Ovinos tipo Santa Inês em pastagem de Tifton-85 (Cynodon spp)
Existe uma crescente preocupação com o conforto térmico e o comportamento animal. O Brasil é um país predominantemente de clima tropical, com altas temperaturas médias durante o ano, o que pode provocar estresse térmico aos animais e interferir no seu comportamento.
A região tropical, localizada entre as latitudes 23,45ºN e 23,45ºS, é considerada a região mais quente, com temperatura média, ao nível do mar, no mês mais frio do ano, acima de 18ºC. O Brasil apresenta temperatura média anual maior que 20ºC, podendo, ainda, a temperatura máxima ultrapassar o valor de 30oC (Titto,1998).
O estudo comportamental, que vem sendo pesquisado por vários técnicos, inclusive no exterior, possibilita produzir de acordo às exigências dos animais, tendo um tempo de produção menor, com menores custos e melhor qualidade.
Na prática da etologia, o bem-estar é avaliado por meio de indicadores fisiológicos e comportamentais. As medidas fisiológicas (temperatura retal, temperatura timpânica, temperatura escrotal, freqüências cardíaca e respiratória) associadas ao estresse têm sido usadas baseando-se na premissa de que, se o estresse aumenta, o bem-estar diminui.
Foto 2: Mensurando freqüência respiratória
Foto 3: Mensurando Temperatura da pele, temperatura da pelame ou do velo
Foto 4: Mensurando temperatura Timpânica
Já os indicadores comportamentais (ingestão, ruminação, ingestão de água, ócio e procura de sombra) são baseados especialmente na ocorrência de comportamentos anormais, e de comportamentos que se afastam do comportamento no ambiente natural.
No Brasil, a ovinocultura é uma atividade de importância econômica e social, porém pouco se sabe sobre o comportamento destes animais submetidos ao clima quente e úmido. Por isso trabalhos nesta área devem ser realizados e incentivados.
Os ovinos são caracterizados como animais domésticos de regiões frias à temperadas. O homem vem há muitos anos mudando este hábito passando também a explorá-los nas regiões de clima tropical a subtropical através de ajuste em alguns pontos como: seleção de animais, adaptação de raças e técnicas de manejo.
O ambiente térmico para os ovinos é um fator muito importante a ser considerado na determinação de um manejo ideal e carece de estudos detalhados, já que se trata de atividade de elevada importância econômica para o Brasil. Desta forma, a caracterização do clima e o estudo das reações do ovino da raça Santa Inês ao estresse térmico devem ser identificados para que se possa indicar a melhor prática de manejo, modelo adequado de instalações e plano nutricional, afim de que, os animais expressem favoravelmente suas aptidões zootécnicas (Oliveira, 2005).
Sabe-se que em temperaturas ambientais elevadas os ovinos da raça Santa Inês e seus cruzamentos manifestam insatisfação fisiológica (eleva temperatura corporal, freqüência respiratória e cardíaca) e modificam seu desempenho (menor ganho de peso corporal, conversão alimentar e rendimento de carcaça), na tentativa de manter a temperatura corporal constante.
Sob condições de estresse por calor, esses animais realizam a homeotermia (uma característica dos animais que lhes permitem manter sua temperatura corporal relativamente constante) dissipando calor na forma sensível, resfriamento evaporativo e reduzindo o seu metabolismo, conseqüentemente, aumentam o ritmo da freqüência respiratória e reduzem o consumo de alimentos. Isso leva a uma terminação do animal mais tardia e inviabilizando a produção de carne/ha/ano.
Todos os animais homeotérmicos têm como defesa contra altas temperaturas ambientais o aumento da freqüência respiratória, para aumentar a evaporação e, conseqüentemente, a perda de calor. A temperatura retal é, geralmente, um bom índice da temperatura corporal.
Foto 5: Mensurando temperatura retal
Segundo McDowell (1975), a maior parte das avaliações da adaptação de um animal a ambientes quentes pode ser dividida em duas classes: 1. adaptação fisiológica, que descreve a tolerância de um animal ao ambiente quente, principalmente por meio das alterações do seu equilíbrio térmico; 2. adaptabilidade de desempenho, que descreve as modificações desse desempenho quando o animal é submetido a altas temperaturas.
A avaliação do desempenho (peso corporal, ganho de peso, conversão alimentar e rendimento de carcaça) e das reações comportamentais de ovinos mantidos em clima quente, resulta na identificação das performances que demonstrem mínima alteração no equilíbrio térmico corporal e, portanto, sem sofrer alterações de desempenho e adaptação (Silva, 2000).
A interação animal x ambiente deve ser considerada quando se busca maior eficiência na exploração pecuária; as diferentes respostas do animal às peculiaridades de cada região são determinantes no sucesso da atividade produtiva. A sensibilidade dos animais ao estresse por calor está bem estabelecida e o desempenho produtivo é afetado adversamente, em maior ou menor magnitude, na dependência da duração e intensidade do estresse.
Portanto, tornam-se importantíssimo o estudo comportamental e fisiológico de ovinos em regiões com altas temperaturas, visando, desta forma, um ambiente mais adequado e uma produção de maior qualidade.
Bibliografia Consultada
McDOWELL, R.E. Bases biológicas de la producción animal em zonas tropicales. In: Factores que influem em la producción ganadera de los climas cálidos. Zaragosa: Acribia, 1975.
MÜLLER, P.B. Bioclimatologia aplicada aos animais domésticos. 3ª ed. Porto Alegre - RS: Editora Sulina, 1989.
OLIVEIRA, F.M.M.; DANTAS, R.T.; FURTADO, D.A.; NASCIMENTO, J.W.B. & MEDEIROS, A.N. Parâmetros de conforto térmico e fisiológico de ovinos Santa Inês, sob diferentes sistemas de acondicionamento. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.9, n.4, p.631-635, 2005.
SILVA, R.G. Introdução à Bioclimatologia animal. São Paulo - SP: Editora Livraria Nobel, 2000.
TITTO, E.A.L. Clima: influência na produção de leite. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AMBIÊNCIA NA PRODUÇÃO DE LEITE, Piracicaba 1998. Anais... Piracicaba: FEALQ, 1998. p.10-23.