Inovar pode ser entregar um produto completamente novo, de uma maneira ousada nunca antes vista, mas pode ser também dar um novo uso a algo ou descobrir maneiras de trazer um produto antigo com uma proposta nova. Inovação é sempre uma resposta a demandas de quem consome ou ainda é uma antecipação de necessidades ainda não mapeadas. É o caso do mercado de sorvetes.
Há um movimento global de inovação que pode ser causa e consequência das dinâmicas de mercado resultantes de uma sociedade cada vez mais rápida e menos impressionável. Jovens viajam cada vez mais cedo para fora do país e somado a isso tem acesso irrestrito a redes sociais. O repertório, ainda que imaturo, traz consigo experiências e referências de muitos lugares do mundo. Famílias menores, com maior poder aquisitivo demandam melhores opções de lazer e alimentação. A maneira de consumir comida de modo geral mudou. Na sorvetolândia também!
A sorveteria deixou de ser aquele negócio pequeno, na praça da cidade que reunia jovens animados de famílias conservadoras (lembrou da cena de de volta para o futuro?) para ser um charmoso e moderno lugar que recebe hipsters sozinhos, casais que marcaram um datezinho pelo Tinder ou grupos de pessoas de diversas origens. Os sorvetes nas gondolas do supermercado deixaram de ser um misto monótono de napolitano, flocos e chocolate para se tornar um paredão de opções infinitas.
É importante pensar que, como mencionado, as inovações vêm de demandas e, uma boa parte, já estão mapeadas. De acordo com o relatório Mintel 2023 os itens: sabores inovadores, alternativas saudáveis, sorvetes nutricionais, experiência de consumo personalizadas, sustentabilidade e consciência ambiental e embalagens flexíveis (diferentes tamanhos, materiais, etc.) são as grandes vontades declaradas do cliente. Tanto sorvetes artesanais quanto os advindos da grande indústria estão obrigatoriamente debaixo desse guarda-chuvas que o consumidor segura. É importante pensar que o consumidor está ligado não apenas no sabor do produto mas na consciência ambiental e alternativas saudáveis.
Em pesquisa, 24% dos americanos disseram estar interessados em sorvetes funcionais, ou seja que contenham algo como antioxidantes, vitaminas, ômega 3, coisas assim. Além disso, uma preocupação atual é o consumo de produtos locais na tentativa de incentivar a circulação de dinheiro localmente e economizar recursos naturais para transporte de produtos. Ou seja existe um grito ecoando: Me surpreendam! São esses itens que me chamam a atençãaaaaao!
Falando de surpreender o cliente, uma rede muito conhecida americana, a Salt and Straw, está ganhando cada vez mais público por dispor de sabores nada tradicionais como pera com blue cheese e mel com lavanda. Enquanto morava nos EUA, conheci a loja e minha experiência é que tudo lá é delicioso, por mais estranho que pareça. Dê uma olhada se algo lhe chama a atenção.
O Brasil está dentro desse movimento, ainda que com uma população mais pobre e uma indústria com dificuldades legais na hora de inovar, mas há bons exemplos artesanais e industriais. Em Goiânia uma sorveteria assinada por ninguém menos que Ian Baiochi (um dos melhores chefs do Brasil e do mundo) traz uma proposta parecida com a parente americana no que se trata de sabores ousados. Ali já apelam para o uso de frutas típicas do cerrado e não uso de corantes artificiais como diretrizes do produto.
Uma coisa é fato, negócios em geral que estão se saindo bem, não apenas no segmento sorvete, tem respeitado as mudanças no mercado consumidor e as atendido como neste exemplo de preferência a ingredientes locais. Neste único item é possível atender a sustentabilidade e ao mesmo tempo experiência de consumo, alternativas saudáveis e claro, sabores inovadores. Cores mais ousadas também fazem parte das possibilidades de inovação afinal tudo que se come vai para o Instagram e foto feia ninguém curte. A Mintel, em pesquisa, registrou aumento de 126% no consumo de alimentos na cor púrpura. De acordo com a ADM cerca de 70% dos consumidores prezam por sabores de edição limitada. Unindo esses dois números é fácil perceber que além da experiência, o consumidor está buscando algo Instagramável.
Outra tendência forte é a transparência na fabricação. Nas redes sociais da sorveteria de Ian se usa estrategicamente vídeos curtos da fabricação de picolés que além de darem essa ideia de fabricação com amor e, também dão água na boca. Filmagens relativamente simples, mas que impactam grandemente a imagem do negócio.
Pensando na grande indústria talvez essa pegada mais caseira não seja viável diretamente, apesar de ser completamente possível atender todas aqueles itens listados pelo consumidor em embalagens e experiências de compra na gondola do mercado. A vantagem é que a grande indústria pode apostar em estratégias mais ousadas e maiores. Grandes players estão usando influencers ousados para promoção de seus produtos, que saem do senso comum da futilidade, consumismo, mas que se destacam por grandes papéis em séries ou musicalmente.
Sabe aquele artista que tem a imagem do “esse é bom e não é aparecido”? Sim, é esse tipo que pode levar a imagem do sorvete como produto cool, moderno e não junk food. É o caso da atriz Lena Waithe que carrega a marca Hagen Dazs, sendo mulher, negra e super pra frentex.
Em conclusão o grande ponto é se desafiar para surpreender o consumidor com base nas pistas que ele mesmo dá. Isso permite as grandes sacadas que revolucionam mercados, mesmo que muito tradicionais.
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