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Flexibilidade de sistemas de produção de leite

POR SEBASTIÃO TEIXEIRA GOMES

ESPAÇO ABERTO

EM 23/01/2003

5 MIN DE LEITURA

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O preço recebido pelo produtor de leite, nos últimos anos, além de ter sido reduzido significativamente, variou muito durante o ano, sendo menor no período das águas e maior no da seca. A redução do preço do leite tem como causas principais as elevadas importações de lácteos, o crescimento do consumo do leite longa vida, o significativo crescimento da produção per capita, a redução do poder de compra do consumidor, especialmente após 1998, e o aumento da produtividade.

A flutuação do preço do leite, durante o ano, tem as seguintes causas principais: 1) Menor custo de produção no período das águas, em razão da prevalência de sistemas de produção no pasto, com pouco uso de ração no verão; 2) Maior produção de leite no período das águas. Embora a diferença entre as produções de verão e de inverno tenha reduzido, ela ainda existe. Os avanços conseguidos na redução da sazonalidade da produção são expressivos. Em 2001, a diferença entre as produções de verão e inverno foi inferior a 5%. Portanto, não é mais a sazonalidade da produção a mais importante causa da flutuação de preço, como era no passado; 3) Por falta de informações corretas na cadeia produtiva do leite sobre o mercado (existem muitas especulações), prevalece uma memória safrista, que facilita a prática de menor preço no verão; 4) Finalmente, a última causa, porém não menos importante, diz respeito às imperfeições do mercado, dada a existência de poucos compradores e muitos, e desorganizados, fornecedores. Essa estrutura de mercado possibilita ampliar os efeitos das três causas anteriores. Como exemplo, vale registrar que, nos últimos anos, a variação percentual do preço do leite foi muito maior que a variação da produção.

Por outro lado, o preço da ração comercial não variou, sistematicamente, durante o ano, ainda que o preço da matéria-prima tenha apresentado variações nos períodos de safra e entressafra. Tal comportamento é típico de estruturas industriais oligopolizadas (poucas indústrias), que não repassam, imediatamente, para o preço final da ração, as variações de preço da matéria-prima.

A relação entre preço recebido pelo produtor de leite e preço da ração (concentrado) para vacas em lactação variou, significativamente, durante o ano, sendo menor no período das águas e maior no da seca (Gráfico 1). Tal comportamento reflete o que aconteceu com o preço do leite, que também foi menor no verão e maior no inverno. Nos últimos sete anos, o poder de compra de 100 litros de leite, tipo C, foi, em média, 2,4 sacos de ração, nas águas, e 3,2 sacos, na seca, ou seja, a ração foi relativamente mais cara nas águas que na seca. Diante da realidade dos preços relativos, os sistemas de produção que utilizam as mesmas quantidades de ração durante o ano todo têm dificuldades de serem administrados no período das águas.



O comportamento da relação preço do leite/preço da ração ajuda a explicar a preferência por sistemas de produção flexíveis, de menor custo no verão e maior no inverno. Tais sistemas privilegiam, no verão, pastagens de boa qualidade em substituição à parte do concentrado. Para que isto aconteça, a adubação do pasto e a rotação de pastagens são práticas indispensáveis. Dados médios, obtidos de produtores-referência, indicam 3 litros de leite/kg de ração no inverno e 5 litros de leite/kg de ração no verão.

A flexibilização do sistema de produção altera o paradima tecnológico que recomendava ao produtor investir na alimentação do rebanho, no período de inverno, dando pouca ou nenhuma importância à alimentação do verão. Nesse novo modelo, há necessidade de administrar a alimentação do gado tanto na seca quanto nas águas, considerando-se os aspectos produtivos e financeiros. O balanço financeiro da empresa produtora de leite deve ter o ano como período de análise.

O ajustamento do sistema de produção ao comportamento do mercado (leia-se preço do leite) não pode ser considerado como um retrocesso do sistema de produção, já que o conceito deste é amplo, incluindo aspectos de tecnologia de produção e de administração. Nesse contexto, os indicadores de resultado do sistema de produção, além da produtividade dos fatores (litros/vaca, litros/hectare, litros/dia-homem e outros desta natureza), devem também considerar indicadores financeiros, tais como custo/litro, taxa de retorno do capital e capacidade de resposta aos estímulos do mercado.

Existem diversos exemplos de produtores (não são apenas ilhas) que conseguem flexibilizar o custo sem retrocesso do sistema de produção. Tais produtores possuem vacas com grau de sangue que variam de 3/4 HZ a PC holandês, com média de 7/8 HZ, e que produzem de 3500 a 4500 litros/lactação. Portanto, não é correto afirmar que a flexibilização de custo só acontece em rebanhos 1/2 HZ, com produção média de 5 litros/vaca/dia durante 240 dias, num total de 1200 litros/lactação. Se assim fosse realmente, flexibilidade de custo significaria retrocesso do sistema de produção. Acontece que não é, e as evidências estão aí para demonstrar o contrário.

Outra questão importante a ser examinada diz respeito à margem bruta unitária e total. Sistemas de baixa produção/vaca utilizam pouco insumo, têm baixo custo operacional/litro e, por conseqüência, alta margem bruta/litro (margem bruta/litro igual ao preço do leite menos custo operacional/litro). Entretanto, tais sistemas têm, em geral, pequeno volume de produção, razão por que a margem bruta total é também pequena.

Por outro lado, sistemas de alta produção/vaca utilizam mais insumo, têm custo operacional/litro mais elevado e, por conseqüência, menor margem bruta/litro. Entretanto, a margem bruta total é maior, em razão da maior escala de produção.

A conseqüência natural desses argumentos é que a racionalidade econômica do produtor não permitirá que ele reduza, significativamente, a produção/vaca, porque isto implicaria reduzir a escala de produção e, por conseqüência, a margem bruta total. O que importa para o produtor é o total, e não o unitário.

A hipótese de o produtor manter a mesma escala de produção (ou até aumentá-la), reduzindo a produção/vaca, implica expandir o modelo extensivo. Em termos gerais, tal alternativa é pouco provável porque a área média do produtor de leite é pequena, segundo dados da Tabela 3. De acordo com o último censo agropecuário, 65% do leite produzido no país é proveniente de estabelecimentos que possuem até 100 hectares de pasto, e, praticamente, 80% da produção vêm de estabelecimentos com menos de 200 hectares de pasto. Em outras palavras, limitações de área impedem o crescimento da produção num modelo extensivo. Isto significa que há necessidade de flexibilizar o sistema de produção, mantendo, ou até mesmo ampliando, os atuais níveis de produtividade. Flexibilidade do custo não é um retrocesso tecnológico, mas questão de sobrevivência.

Tabela 3 - Produção de leite de vaca, segundo grupos de área de pastagem

SEBASTIÃO TEIXEIRA GOMES

Professor Titular da Universidade Federal de Viçosa

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GILBERTO DE SOUZA BIOJONE FILHO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

EM 27/01/2003

O artigo coloca uma série de conceitos amplamente conhecidos; contudo, não ressalta a conclusão a que ele nos induz: não dá para flexibilizar por causa da limitação de área. Portanto, ao contrário do que o autor afirma, seu trabalho parece indicar que, quem consegue flexibilizar são realmente, "apenas ilhas". Para o produtor, a análise de algumas dessas "ilhas" seria oportuna, pois poderia usar o exemplo para verificar em que condições, dada sua limitação de espaço, poderia tentar a flexibilização. Gostaria também de entender melhor o conceito de retrocesso do sistema de produção.

<b>Resposta:</b>

Inicialmente gostaria de agradecer sua atenção pela leitura do meu artigo. Seus comentários foram interessantes. Para aprofundar a questão, alguns esclarecimentos:


1)A área é limitante para ampliar o modelo extensivo e não para flexibilizar o custo de produção.

2)A flexibilidade de custo implica em melhorar a alimentação volumosa (em especial o pasto), de modo a substituir parte do concentrado, principalmente no período das águas, quando o preço do concentrado é, relativamente, mais elevado.

3)Em meu artigo, utilizo o conceito de retrocesso referente à adoção de tecnologia e de produtividade.

4)O artigo foi inspirado em fazendas que visitei e comprovei a viabilidade financeira dos sistemas de produção adotados, os quais flexibilizam os custos de acordo com a relação de preços (preço do leite/preço da ração).

Mais uma vez agradeço seus comentários e coloco-me a sua disposição.

Atenciosamente,

Prof. Sebastião Teixeira Gomes
DER/UFV


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