“O setor leiteiro é o que passa pela maior transformação no agronegócio brasileiro e essa é a proposta de discussão do Interleite Sul 2018”. Foi assim que Marcelo Pereira de Carvalho, CEO da AgriPoint, iniciou a abertura do evento nesta quarta-feira (09), em Chapecó/SC, no Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nes. O evento ocorre até hoje (10) e se destaca pelos temas dos painéis e palestrantes de renome.
Autoridades estaduais e municipais participaram da abertura do Interleite Sul 2018. Fonte: Marcos A. Bedin
A mesa de abertura contou com Airton Spies, Secretário de Estado de Agricultura e Pesca de Santa Catarina; Luciano José Buligon, Prefeito de Chapecó; Valdir Crestani, Secretário de Desenvolvimento Rural na Prefeitura de Chapecó; Ronei Volpi, Presidente da Aliança Sul Láctea; Ricardo Lunardi, Presidente do Sindicato Rural de Chapecó; Enori Barbieri, Vice-presidente da FAESC; Amilkar Gassen, Gerente da LacLélo e José Baldoino, Gerente da Política Leiteira da Piracanjuba.
Segundo Spies, o Interleite Sul é um ‘nivelamento para cima’ de tudo o que precisa ser discutido sobre o leite no Sul do país. “Sempre enxerguei no Brasil um enorme potencial e fizemos grandes avanços nos últimos anos, porém, não podemos esquecer do dever de casa. Mesmo caminhando a passos largos, é necessário transformarmos o leite em uma das estrelas do agro. Para continuar crescendo neste ritmo, precisamos preparar a nossa matéria-prima para a exportação e esse é um dos principais objetivos da Aliança Sul Láctea. Tenho certeza que todos sairão do Interleite Sul inspirados, pois nossa atividade ainda incorporará novas tecnologias e no final, criaremos mais empregos, geraremos mais renda e assim, mais qualidade de vida. O leite está cheio de bons problemas. E por que isso? Porque temos soluções”.
Para José Baldoino, a região sulista é fundamental para o leite no país. “Tanto é que a Piracanjuba elegeu o Sul como a principal região para os seus investimentos nos últimos sete anos. Isso contribuiu para o nosso crescimento, tanto que na APAS Show 2018, que também está ocorrendo nesta semana, a Piracanjuba lançará 18 novos produtos. Nós esperamos contribuir com o setor ao longo dos anos”, completou.
O primeiro painel do evento, moderado por Valter Galan, sócio do MilkPoint Inteligência, abordou o tema “Mercado e Organização da Cadeia do Leite”. Glauco Rodrigues Carvalho, pesquisador da Embrapa Gado de Leite, apontou que de 1974 até 2016, a produção leiteira brasileira cresceu 374% e que alguns fatores contribuíram com isso, como a expansão da população no Brasil – que sustenta o consumo – e o constante lançamento de novos produtos no mercado. “Além disso e não mesmo importante, temos uma área agriculturável gigantesca e precisamos aprender a usá-la de maneira mais racional. Também, temos condições de trabalhar com pastejo, diferente de vários países do mundo, e nossas produção de grãos é bastante competitiva. Vale ressaltar que busca pela gestão e todo o seu aprimoramento devem ser constantes e eternos, não esquecendo da escala de produção. Esses dois fatores impactam consideravelmente na eficiência do negócio”.
Na sequência, Craig Bell, Diretor da Leitíssimo (Fazenda Leite Verde, na Bahia) e da Delicari, abordou as “As oportunidades que o Brasil tem para ser competitivo e não aproveita como deveria”. “Os produtores de leite no Brasil precisam parar de colocar a culpa dos problemas nas importações de leite, pois esse não é o caminho. Em alguns casos, ela acontece porque não temos a qualidade necessária para a elaboração de alguns produtos. O problema de verdade que nos atrapalha é a falta de produtividade, que não nos permite competir no ponto baixo do ciclo”.
Craig reforça que é essencial uma agenda positiva e com relação à qualidade, já passou da hora de evoluirmos. “Nossos níveis de CCS (Contagem de Células Somáticas) ainda não são compatíveis com os do mercado internacional. Também, fica complicado fabricar um bom produto nessas condições. Precisamos dar um basta em quem trata a produção de leite como amadorismo. A mensagem final que deixo é: o jogo precisa de regras claras que sejam respeitadas, por todos, e as instituições deveriam focar as suas pesquisas em produtividade”.
Marcelo Martins, Diretor Executivo da Viva Lácteos, salientou em sua palestra que atualmente é muito importante gerarmos demanda no mercado consumidor, melhorar o saldo da balança comercial e ampliar o consumo no mercado interno. “Tivemos algumas dificuldades para avançar com as exportações em 2017 e tínhamos uma dependência da Venezuela, que reduziu as compras e era a principal compradora. Porém, estamos buscando outros caminhos, o que é essencial se realmente queremos ser grandes exportadores de lácteos”.
Ele comentou que hoje há uma grande demanda por manteiga, mas, que infelizmente o produto nacional não vem atendendo nem mesmo a população interna. “O queijo – um produto de valor agregado – tem sido o nosso principal item de evolução nas exportações. Ainda não resolve o nosso trabalho, visto que precisamos expandir significativamente, mas seguiremos em frente e apresentando os derivados lácteos brasileiros em eventos e feira no mundo todo. Há países que nem sabem que somos o 4º maior produtor do mundo e concluímos que é imprescindível a melhoria da imagem do nosso setor. Destaco que a eliminação da brucelose e tuberculose deve ser perseguida se estamos querendo ser conhecidos no mundo”.
Marcelo finalizou a sua apresentação pontuando que a chave é melhoria da nossa competitividade e, para continuar crescendo em produção de leite, precisamos exportar mais ou aumentar significativamente o consumo. “O ideal seria que essas duas coisas andassem juntas. Não é ideal continuarmos expandindo a produção se não temos como escoar isso, até porque, para os produtores, o preço recebido também é bastante afetado quando há excesso de oferta”.
Evento conta com mais de 700 pessoas. Fonte: Marcos A. Bedin
O quarto palestrante do painel, Ronei Volpi, Presidente da Aliança Sul Láctea (ALSB), explanou que o objetivo da entidade é ser um fórum público-privado permanente para buscar o desenvolvimento harmônico do setor lácteo dos três estados do Sul por meio da implementação de políticas e iniciativas conjuntas. “Criamos ALSB porque os três estados de assemelham na produção, têm entraves e oportunidades comuns, relevância sócio econômica; agricultura familiar/empresarial, 170 mil produtores envolvidos na atividade e a maior produtividade nacional, de 2.950 kg/vaca/ano”.
Volpi apresentou ao público presente a evolução da produção na região e a meta única da Aliança, que é: tornar a região Sul do Brasil exportadora de produtos lácteos.
“Para alcançar isso, é fundamental um maior envolvimento da indústria e mitigação da capacidade ociosa, harmonização de protocolos sanitários, convergência nas políticas de tributação, eficiência logística de escoamento, incremento na qualidade do leite (IN 62) e organização da produção. Sempre queremos o melhor preço, mas para isso, a única saída é sermos competitivos”.
Finalizando a primeira bateria de palestras, Marcelo Pereira de Carvalho, CEO da AgriPoint, questionou e instigou os participantes com a seguinte questão: É possível termos uma relação melhor coordenada entre produtores e indústria? De acordo com Marcelo, historicamente a relação entre a indústria e produtor é conflituosa devido à desconfiança mútua, falta de transparência/fidelização e o foco no curto prazo. “Há exceções e a relação está mudando, porém, os problemas são os mesmos. Os contratos por exemplo ainda são raros. Historicamente, também temos baixo incentivo da indústria para desenvolver os produtores (“leite é tudo igual”), o que resulta em uma baixa razão para a fidelização. Em resumo, os próprios fundamentos de mercado empurraram o setor para um relacionamento mais oportunista do que cooperativo e, nesse cenário, em que há baixa colaboração entre as partes, a variável que realmente importa é o preço recebido, a cada mês. Há uma dificuldade natural de se quantificar os benefícios de serviços, segurança, entre outros e o preço recebido”.
Segundo ele, cabe ao elo forte mudar a relação e, normalmente, os fatores externos catalisam as mudanças. “Podemos citar aqui a regulamentação (que não é o nosso caso), um concorrente que passa a fazer diferente (e dá certo) e as pressões do consumidor, pois a maneira pela qual o leite é produzido (e por quem) será cada vez mais relevante. Assim, as demandas do consumidor representam uma externalidade. Precisamos de uma maior transparência e reduzir a assimetria das informações de mercado, minimizando as situações que geram conflito. Também, posso citar clubes de compra de insumos, serviços de apoio ao produtor e os contratos de fornecimento com critérios claros”.
Finalizando, Carvalho ponderou que a indústria ganha mais quando o produtor também ganha (e vice-versa), fato que minimiza o conflito criado e reduz a distância entre os elos. “É uma jornada longa, mas precisamos começar”.
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Por Raquel Maria Cury Rodrigues, da Equipe MilkPoint.