Existem muitos requisitos para um pequeno empresário rural negociar com mercados estrangeiros. Por conta disso, a Federação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) decidiu contratar consultorias para atendimento individualizado aos interessados ??nesse processo em cada estado.
No Rio Grande do Sul, o responsável por esse trabalho é Arturo Mutoni, que colabora com a Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), para projetos nas áreas de fruticultura, mel, lácteos, erva-mate e noz-pecã.
Muttoni ressaltou que, o processo de exportação não é simples, e exige paciência para atender aos padrões internacionais. Segundo ele, além de questões burocráticas (como numerosos atestados sanitários para cada destino), também deve haver um profundo compromisso com a qualidade e a regularidade da produção, o que pode fechar o mercado ao invés de consolidá-lo. “A produção dos empreendimentos não pode estar totalmente comprometida com o mercado nacional, deve haver capacidade para atender os pedidos e a possibilidade de ampliação, inclusive”, adverte.
O consultor explica que desde o início do Programa Agro.BR, em março do ano passado, foram feitas capacitações com os 70 empreendedores rurais gaúchos (a maioria pequenos) inscritos no programa.
Entre eles, 20 já participam das rodadas de negócios. Essas capacitações, que ocorrem para os inscritos de todo o país, envolvem conhecer as particularidades de cada mercado, a cultura das nações alvos e os hábitos de consumo. “Em razão da pandemia, a maioria dos eventos foi on-line, o que nos permitiu chegar a um público maior que o imaginado inicialmente”, diz Muttoni, ao observar que, mesmo estando instalado na federação gaúcha, atende os três estados da Região Sul.
Além dos treinamentos para entendimento do comércio internacional e das barreiras legais a serem vencidas, os participantes do Agro.BR contam com apoio mercadológico. “As empresas que já estão em fase mais adiantada no processo fornecem um portfólio de seus produtos em português, que é traduzido pelo programa para o inglês, o espanhol e o mandarim”, destaca Muttoni.
Estes portfólios estarão expostos, a partir de abril, na vitrine do Agro.Br, site em fase de finalização e que tornará disponível para o mundo – como divulgação e não como marketplace – o que pequenos e médios agricultores brasileiros podem oferecer.
O consultor acrescenta ainda que é um mito achar que, para conseguir exportar, o pequeno e o médio agricultores terão de lotar sozinhos um contêiner no Porto de Rio Grande. “O envio de cargas pode ser em contêineres compartilhados, via rodoviária para a América Latina ou mesmo por avião, em cargas menores ou para demonstração”, destaca.
O professor de Economia da Universidade do Vale dos Sinos (Unisinos), Marcos Lélis, é categórico ao falar dos efeitos que a iniciativa da CNA pode ter sobre a economia nacional, melhorando a distribuição de riquezas e dando impulso para que os pequenos e médios empreendimento rurais cresçam. “Só fazendo é que esse segmento conseguirá entender o processo e evoluir”, afirma. Lélis acredita que os empreendimentos que atingirem o status de exportadores tendem a avançar e ganhar “musculatura” e eficiência, o que favorecerá também a qualificação de seus produtos para atender o mercado interno.
Cooperativas dão escala
De acordo com a superintendente de Relações Internacionais da CNA, Ligia Dutra, o Programa Agro.BR contempla nacionalmente um número significativo de cooperativas, que facilitam o processo exportador, já que ampliam a capacidade produtiva e diluem custos.
No Rio Grande Sul, entre as que participam do Agro.BR estão as cooperativas Apícola do Pampa Gaúcho (Cooapampa), de Apicultores de Ivoti (Cooapi) e Santa Clara, a mais antiga do Estado no segmento de leite e derivados, com mais de 100 anos.
O diretor administrativo e financeiro da Santa Clara e vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios e Derivados do Rio Grande do Sul (Sindilat), Alexandre Guerra, acredita que a oportunidade proporcionada pela CNA é inestimável, porque impulsiona as empresas que desejam atingir esse objetivo para realmente a “capacidade de fazer”.
Guerra diz que a cooperativa tem participado de todas as capacitações oferecidas pelo Agro.Br, no sentido de aperfeiçoar seus processos e de estar pronta para quando tiver a chance de vender ao exterior. Não há ainda uma data para a primeira exportação, mas o foco da cooperativa é colocar no mundo seus queijos especiais.
“Ainda somos importadores de lácteos, mas as oportunidades estão surgindo”, observa o dirigente. Durante sua gestão na presidência do Sindilat, Guerra levantou a bandeira da qualificação do produto brasileiro para atender a demanda crescente de alguns países por lácteos, como é o caso da China.
As informações são do Correio do Povo, adaptadas pela equipe MilkPoint.