Infecções no úbere influenciam significativamente a composição do leite, sendo que o principal efeito é o abaixamento da concentração de gordura, lactose e caseína. Estados mais avançados de infecção resultam em leite com composição química diferente da normal. Em função disso, os antibióticos têm sido bastante utilizados nas fazendas e até em muitos casos, de maneira indiscriminada, seja para fins terapêuticos, principalmente visando à cura de mastite, ou ainda incorporados à alimentação animal como suplemento dietético. Tais procedimentos conduzem à presença de resíduos de antibióticos no leite, o que representa risco para a saúde do consumidor, sendo, portanto, um sério problema na área econômica e de saúde pública.
Os antibióticos são fármacos utilizado mundialmente no tratamento de doenças infecciosas causadas por bactérias e que ao passar dos anos reduziu as taxas de mortalidade associada a essas infecções. Entretanto o uso indiscriminado de antibióticos em bovinos, como por exemplo, o uso excessivo em animais lactantes sem respeitar as doses para cada indivíduo ou sem respeitar o período de carência no combate à mastite bovina, pode acelerar o processo natural de resistência dos microrganismos contra esses fármacos.
As exposições dos microrganismos às drogas antimicrobianas de forma indiscriminada promovem uma mutação genética microbiana aumentando a tolerância às doses do antimicrobiano utilizado. A mutação pode ocorrer durante a replicação da célula ou por indução provocada por agentes mutagênicos (radiação) ou pela incorporação de material genético exógeno no microrganismo (conjugação bacteriana por exemplo).
Antibióticos do grupo dos β-lactâmicos são os mais utilizados para tratamento de doenças em rebanhos leiteiros, sendo assim os mais frequentemente detectados no leite. Aproximadamente 5 a 10% da população é hipersensível à penicilina, e apresentam reações alérgicas ao ingerirem essa substância.
Dessa maneira os microrganismos com o gene mutante, durante o processo de replicação, darão origem à novos microrganismos tolerantes aos antimicrobianos utilizados impedindo o tratamento e cura de doenças causadas por esse agente infeccioso. Como consequência, tem-se o aumento do tempo de internação e das complicações clinicas dos pacientes hospitalizados com a elevação dos custos relacionados com a sua recuperação.
Com isso, destaca-se o cuidado com o uso de antibióticos no tratamento dos animais, uma vez que além das perdas econômicas no processo produtivo, tem-se também problemas relacionados com a saúde pública, na qual, deve haver uma sincronia entre todos os elos da cadeia produtiva leiteira para que o uso destes fármacos seja realizado de forma correta, respeitando a dosagem e o período de carência. Além disso é indispensável o monitoramento da incidência de antibióticos na bacia leiteira, seja por métodos oficiais ou métodos validados pelo MAPA, para atender às legislações vigentes e garantir a qualidade do produto final
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Autores
Leandro Joaquim - Especialista de Produtos, Hexis Científica
Bruno Ricardo De Castro Leite Junior - Professor Adjunto da Universidade Federal de Viçosa
Referências
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NERO, L. A., et al. Resíduos de antibióticos em leite cru de quatro regiões leiteiras no Brasil. Ciênc. Tecnol. Aliment., Campinas, 27(2): 391-393, abr.-jun. 2007.
FRACAROLLI, I. F. L., et al. Bacterial colonization and antimicrobial resistance in healthcare workers: an integrative review. Acta Paul Enferm. 30(6); 651-7, 2017.
COSTA, A. L. P. & JUNIOR, A. C. S. S. Resistência bacteriana aos antibióticos e Saúde Pública: uma breve revisão de literatura, Macapá, v. 7, n. 2, p. 45-57, maio/ago. 2017.
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