Acabamos de passar pelo conturbado ano de 2020, com inúmeras incertezas, pandemia, oscilações do mercado agropecuário, e com isso o questionamento de “como continuar ganhando dinheiro na atividade leiteira?”.
O mercado de insumos para produção de concentrado esteve superaquecido no ano de 2020, os dados a seguir são referentes à variação percentual dos preços praticados entre janeiro e dezembro de 2020 no Rio Grande do Sul levando em consideração o mesmo dia do mês e mesma fonte (variação das matérias primas: indústria de rações; variação preço leite: CEPEA).
Farelo de trigo |
160% |
Cevada |
150% |
Casca de soja |
146% |
Farelo de arroz |
120% |
Farelo de soja |
98% |
Milho |
90% |
LEITE |
60% |
O impacto do custo dos insumos não foi o único fator relevante para o produtor nesse ano de desafios e incertezas, ao passo que se elevou os custos de produção, o preço do leite pago ao produtor não teve o mesmo crescimento que as matérias primas utilizadas na alimentação, com esse cenário, como fazer para manter a lucratividade?
Análises de diversos trabalhos mostram que a correlação preço de leite X rentabilidade, é positiva, ou seja, quanto maior o preço do leite maior a rentabilidade, porém o preço do leite não está na mão do produtor, e essa variável explica aproximadamente 10% na variação da margem líquida da atividade.
O indicador mais assertivo a ser analisado nessas situações deve ser o RMCA (receita menos o custo de alimentação), pois esse indicador nos mostra o quanto está realmente sobrando para pagar as outras despesas da fazenda, descontada a alimentação dos animais.
A equipe técnica da Cotribá compilou dados de fazendas, de diferentes sistemas de produção, nas diversas regiões de abrangência da Cooperativa. Os dados foram coletados no período de janeiro a março e mostram que essa tendência acontece nas fazendas do Rio Grande do Sul.
O gráfico abaixo nos mostra que com o mesmo preço de leite recebido temos RMCA diferentes (quadro em vermelho), que variam de 22 a 40 reais, isso deixa claro que a variável preço de leite é importante, porém as demais variáveis que compõe o resultado financeiro da fazenda são igualmente ou mais importantes.
O gráfico a seguir mostra a relação da produção com a RMCA, a inclinação da linha de tendência mostra que é positiva e tem participação mais expressiva no resultado, ou seja, quanto maior a produção de leite maior a RMCA.
Ao avaliarmos o custo vaca dia, as fazendas de 35 litros têm um custo 38% maior em comparação as de 25 litros. Contudo, seguindo a linha de tendência das propriedades analisadas, as fazendas com produção média de 25 litros têm um RMCA de R$ 28,00, enquanto as fazendas com 35 litros de média possuem um RMCA de R$ 41,00: temos um acréscimo de 40% em produção enquanto o RMCA cresce 46%. Analisando todas as variáveis que compõem o RMCA, nos deixa claro que o volume de produção é a que mais impacta no resultado, no comparativo das fazendas temos 38% de acréscimo nos custos de alimentação, porém a produção é 40% maior e o RMCA 46% superior.
Quando falamos no assunto custo de produção talvez seja o assunto que gere mais discussão entre técnicos e produtores. Talvez a estratégia mais rápida e simples a ser tomada é reduzir o custo na alimentação principalmente no concentrado que é o ingrediente que mais impacta no custo. O gráfico a seguir nos traz algumas informações pertinentes na hora de tomar a decisão.
O quadro em vermelho nos mostra custos diários muito próximos dos R$ 32,00 vaca/dia, porém a receita com o mesmo custo varia de R$ 40,00 a R$ 48,00 (20% superior). Outra análise que podemos fazer é que se sair do ponto A (gráfico) da linha de tendência para o ponto B, significa que investi 2 reais e retornou 7, ou seja o custo vaca/dia aumentou de R$ 30,00 para R$ 32,00 porém o RMCA aumentou de R$ 23,00 para R$ 30,00.
Conforme análise das variáveis das fazendas assistidas temos segurança em afirmar que a busca pela baixa dos custos de produção é algo que deve ser discutido, mas que pode não ser a melhor estratégia, mas sim focar no volume de produção aliando eficiência.
Cabe a reflexão “o que eu estou fazendo dentro da porteira?”
Algumas estratégias que foram tomadas e reavaliadas nas fazendas assistidas com objetivo de melhorar o desempenho econômico:
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Divisão de lotes (conforme DEL e produção)
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Uso estratégico de concentrado;
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Uso de subprodutos conforme necessidade;
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Ajuste de consumo e sobras;
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Rações personalizadas;
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Manter o foco em sanidade e reprodução;
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Secagem dos animais com baixo RMCA
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Descarte estratégico (eliminar os problemas)
O grande desafio para tornar a atividade leiteira lucrativa é manter a eficiência e volume de produção, cortar os custos que não impactam em perda de produção, ter consciência das atitudes tomadas, e possíveis consequências das estratégias adotadas.
O papel da Cotribá nesse cenário é disponibilizar técnicos capacitados e um portfólio amplo que atenda toda demanda da cadeia do leite, nesse sentido a busca pelo melhor desempenho da atividade leiteira passa pela confiança, credibilidade e comprometimento dos técnicos com o produtor na tomada de decisão.
Autor:
Vinicius Auler - Médico Veterinário
Consultor Técnico Cotribá