Tabela 1. Consumo de matéria seca e produção de leite corrigida para gordura de vacas alimentadas com níveis de uréia em dietas baseadas em cana-de-açúcar1
Nenhum experimento envolvido nesta compilação demonstrou redução no consumo de matéria seca com o aumento dos níveis de uréia na ração (Tabela 1), embora alguns trabalhos tenham utilizado quantidades potencialmente capazes de inibir o consumo (Van Horn et al., 1967; Chalupa, 1968; Conrad e Hibbs, 1968; Huber, 1975). A influência da uréia no consumo de rações com cana-de-açúcar pode diferir em rações com silagem de milho. No caso da silagem de milho, aumentar a dose de uréia normalmente leva à redução linear do consumo e do desempenho de vacas leiteiras de média (Oliveira et al., 2001; Silva et al., 2001) ou alta produção (Broderick e Reynal, 2009).
As rações de todos os trabalhos compilados acima continham ingredientes concentrados, além de cana-de-açúcar e uréia, não sendo possível compará-las às rações utilizadas na simulação da Parte I deste artigo. No entanto, Vilela et al. (2003) realizaram um estudo com vacas leiteiras mestiças (425 kg PV) envolvendo um tratamento com apenas cana-de-açúcar, uréia e minerais (Tabela 2). O consumo de matéria seca foi muito inferior ao assumido na simulação (5 vs 11 kg/d). Embora no mesmo patamar, a produção de leite no experimento foi superior àquela na simulação (5,8 vs 4,6 kg/d). Obviamente, esta situação não se sustentaria por muito tempo, já que houve perda de peso considerável desencadeada por balanço energético negativo, causado pelo baixo consumo. Assim como na simulação, houve melhora no desempenho com a suplementação de farelos protéicos, que pode ser explicada parcialmente pelo aumento no consumo de matéria seca (Tabela 2).
Tabela 2. Desempenho de vacas em lactação alimentadas com dietas baseadas em cana-de-açúcar + uréia.
A utilização de um farelo protéico associado à uréia parece ser um caminho mais próspero do que o uso isolado de uréia para corrigir o déficit protéico da cana-de-açúcar. Atualmente, o baixo consumo de matéria seca aparenta ser nosso maior desafio quando formulamos rações com cana-de-açúcar como forragem exclusiva.