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Panorama geral da atividade leiteira no Brasil nas últimas décadas

POR MÁRCIA REZENDE DE MEDEIROS

ESPAÇO ABERTO

EM 11/10/2001

7 MIN DE LEITURA

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Dentre os principais produtos agropecuários, o leite possui lugar de destaque. É alimento fundamental na alimentação humana, por ser fonte importante de nutrientes, como o cálcio e a proteína animal. Sob a ótica econômica, a atividade leiteira é uma importante geradora de empregos, diretos e indiretos em toda a cadeia.

Para se ter uma idéia desta importância, das 17,9 milhões de pessoas ocupadas em atividades rurais, 4,8 milhões dedicavam-se à pecuária em 1995, o que corresponde a 27% do pessoal ocupado total (CENSO AGROPECUÁRIO, 1995/96). Isto inclui proprietários, membros não remunerados da família, parceiros, empregados temporários e empregados permanentes. Esses dados não distinguem a pecuária leiteira da pecuária de corte, mas a atividade leiteira é, reconhecidamente, muito mais intensiva em mão de obra do que a pecuária de corte.

Entretanto, nas décadas 70 e 80, a pecuária leiteira, em termos de modernização, caminhou muito lentamente. Parte significativa deste contraste é explicada pelas políticas adotadas pelo governo para este setor. Durante 45 anos, entre 1946 e 1991, houve controle do governo sobre os preços praticados do leite tipo C, tanto para o produtor, quanto para o consumidor final, como uma das formas de controlar os índices inflacionários e assim, os reajustes salariais. Em períodos de entressafra, quando freqüentemente ocorria escassez do produto, o governo adotava políticas objetivando a normalização do abastecimento interno e o não comprometimento da política de combate às elevações de preços dos produtos que compõem a cesta básica. Essa interferência do governo provocava freqüente defasagem entre custos e receitas do produtor que, consequentemente, não tinha capacidade ou interesse em investir em processos tecnológicos mais produtivos, gerando drásticas reduções na oferta.

Acrescenta-se às importações de leite como instrumento para a crise de abastecimento interno, o fato de tornar-se comum, a partir de 1975, a internalização de derivados lácteos a preços altamente subsidiados nos países de origem, o que desestimulava tanto a produção na entressafra quanto a formação de estoques durante a safra.

Segundo REIS (1994), a política de preços do leite adotada no país, no final da década de 70 e durante toda a década de 80, fixou os preços internos inferiores aos praticados no mercado mundial. Tal situação levou a uma forte descapitalização do setor. Isto fez com que a cadeia não se mostrasse viável do ponto de vista econômico, a investimentos empresariais, o que prejudicou significativamente a atividade. Por outro lado, as condições que o mercado externo oferecia para a compra de leite eram muito atraentes, com prazo dilatado para pagamento e juros baixos.

Segundo FARINA (1996), com o Estado controlando os preços praticados, o setor se organizava a partir do custo de produção. Com a liberalização do preço do leite e a abertura da economia, elevaram-se as possibilidades de importação e consolidaram-se então, relações econômicas com os países do Mercosul, Argentina, Paraguai e Uruguai. Assim, o consumidor passou a ser o ponto de referência de organização de todo o setor. A partir do valor que ele está disposto a pagar é que se formam os preços dos produtos. Agora ele tem melhores oportunidades de escolha do produto que quer consumir, exigindo preços condizentes com a qualidade do produto ofertado.

Esse tabelamento - controle dos preços praticados pelo estado, mudou o objetivo da empresa, deslocando a importância da eficiência e qualidade para uma melhor negociação da produção. Essa política que vigorou no setor de laticínios entre 1946 e 1991(45 anos), foi responsável pelo atraso tecnológico da produção, pois de certa forma criou-se uma acomodação neste setor. A longo prazo, a falta de aprimoramento da pecuária leiteira redundou na produção de matéria-prima de baixa qualidade, implicando em custos mais elevados.

Entretanto, desde o início da década de 90, a produção leiteira nacional vem passando por profundas transformações, provenientes de alguns fatores, como a desregulamentação do mercado, com o fim do controle estatal sobre os preços; o processo de abertura comercial em relação ao mercado internacional, realizada no governo Collor; a consolidação do Mercosul; e a estabilização da economia a partir do Plano Real em 1994.

Segundo GOMES (2000a), a combinação da maior abertura para o mercado internacional, da queda do tabelamento do preço e da estabilidade da economia do país contribuiu para aumentar consideravelmente a concorrência em toda a cadeia do setor leiteiro, do produtor ao consumidor. A conseqüência natural do aumento da concorrência é a queda das margens de ganho dos agentes econômicos envolvidos nesse processo, especialmente dos produtores, em razão do menor poder de barganha.

A receita clássica contra a redução das margens de lucro é aumentar a produção, justamente o que as estatísticas da produção nacional vem mostrando nos últimos anos. De 1994 a 1997 a produção de leite do país aumentou 30% (GOMES, 1998). Uma justificativa para este aumento pode ser encontrada na sucessiva queda do custo de produção de leite, decorrente do aumento de produtividade e da redução do preço de importantes insumos e serviços utilizados na pecuária, decorrentes da abertura da economia.

Em recente pesquisa, GOMES (1999) afirmou que, nos últimos três anos, a produção de leite do Brasil aumentou 1,5 bilhão de litros a cada ano, o que corresponde a taxa anual de crescimento de 8%, sendo equivalente a cinco vezes o aumento anual da produção de leite da Argentina, no mesmo período, país com características semelhantes à nossa.

Enquanto na década de 70 o crescimento da produção baseava-se na incorporação de novas áreas (chamado de crescimento horizontal), na década de 80 em diante, a produtividade se torna o fator primordial (crescimento vertical). Nesse período, 80% do crescimento da produção ocorreu em razão do crescimento extensivo, ou seja, da incorporação de novas vacas ordenhadas, e apenas 20% em razão do aumento da produtividade (GOMES, 1996). Entretanto, a partir de meados dos anos 80 e início dos anos 90, a produtividade passou a ocupar posição de destaque nesta explicação. Apesar de ainda estar longe de ser comparada aos índices de países mais evoluídos, a produtividade da pecuária leiteira, nos últimos anos, do Brasil, vem melhorando significativamente.

A abertura comercial ocorrida nesta década no Brasil trouxe como conseqüência a necessidade de aumentos de produtividade e de melhoria da qualidade para tornar o produto brasileiro competitivo em relação ao de outros países, na medida em que o consumidor passou a ter acesso a produtos lácteos de todo o mundo. Essas mudanças estruturais estão provocando um inevitável processo de seleção dos produtores, restando os mais eficientes, onde os pontos principais são redução de preços, com aumento da eficiência no processo de produção ao longo de toda a cadeia assim como uma melhoria da qualidade dos produtos ofertados.

Entende-se, portanto, que os ajustamentos que devem acontecer na produção de leite do Brasil podem ser identificados na atual estrutura produtiva, na qual muitos produzem pouco e poucos produzem muito. Em um de seus trabalhos, GOMES (2000b) afirmou que os produtores de até 50 litros de leite/dia correspondem a 50% do numero total de produtores, mas respondem por apenas 10% da produção. No outro extremo, os produtores de mais de 200 litros de leite/dia correspondem a apenas 10% do numero total, porém respondem com 50% da produção. Assim como já aconteceu em muitos outros países onde estes ajustamentos também foram necessários, aqui eles também devem implicar na saída de muitos produtores do mercado.

É neste sentido que se necessita conhecer a dinâmica das transformações ocorridas dentro do processo produtivo nas ultimas décadas, visto que é preciso aumentar a produção de leite no país para atender ao crescente mercado, e dessa forma, se possa melhorar a eficiência na alocação dos recursos utilizados nesta atividade, tanto para pequenos quanto para grandes produtores. Como a pecuária leiteira é uma atividade complexa, com altos custos de produção e grande risco, torna-se maior a necessidade dela ser administrada com eficiência em todos os elos da cadeia e principalmente, por todos os produtores.

Bibliografia de referência

FARINA, Elizabeth M.M.Q. A indústria de laticínios e o desenvolvimento da Pecuária leiteira. Anais do 2º Congresso Brasileiro de Gado leiteiro, FEALQ, Piracicaba, 1996.

FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Censo Agropecuário - 1995/96. ( https://www.ibge.gov.br)

GOMES , S. T. Fontes de Crescimento da produção de leite do Brasil nos anos 80. In: A Economia do Leite. Coronel Pacheco, MG: EMBRAPA-CNPGL, 1996.p.17-23, 1996

GOMES , S. T. Ajustamentos na Produção de leite - Folha de São Paulo, 23 de Junho de 1998

GOMES , S. T. Diagnóstico e perspectivas da produção de leite no Brasil. In: Restrições técnicas, econômicas e institucionais ao desenvolvimento da cadeia produtiva do leite no Brasil. Juiz de Fora, EMBRAPA - CNPGL,1999. P. 19-35

GOMES , S. T. Mão-de-obra contratada versus familiar na produção de leite. In: Economia da Produção de Leite. Belo Horizonte, MG: Itambé, 2000(a). p.16-18

GOMES , S. T. Produzir leite é bom negócio? In: Economia da Produção de Leite. Belo Horizonte, Itambé, 2000(b). p.24-26

REIS, R.P. Estrutura produtiva da pecuária leiteira sob condições de intervenção: um estudo de caso em Minas Gerais. Viçosa, MG: UFV. 150 p. Dissertação (Doutorado em Economia Rural) - Universidade Federal de Viçosa, 1994.

MÁRCIA REZENDE DE MEDEIROS

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LARISSA DE SOUZA

CAMPO ALEGRE - SANTA CATARINA - ESTUDANTE

EM 23/06/2020

Num da pra ler ate o finar...;^; ;-------;
PEDRO OTAVIO PASCOALI

GUARANIAÇU - PARANÁ - ESTUDANTE

EM 17/05/2016

como e desenvolvida a atividade leiteira?

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