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Reflexão sobre o adiamento da implementação Instrução Normativa 51

POR ROSANA DE OLIVEIRA PITHAN E SILVA

ESPAÇO ABERTO

EM 21/07/2011

6 MIN DE LEITURA

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A falta de uma prévia e profunda avaliação da situação da produção do país para a elaboração da Instrução Normativa 51 (IN 51) é a responsável pela situação de hoje.

Seu objetivo de atender novos mercados, através da implantação de um controle da qualidade do leite dando a este um padrão de qualidade internacional e a perspectiva de pagamento por qualidade que beneficiasse o produtor com melhores preços pelo produto, foram os grandes motivos para a proposição desta normativa.

Na época de sua implantação, o setor produtivo do Rio Grande do Sul, atento às essas questões, e mesmo sendo um dos principais produtores de leite do país e serem parte de uma região com evidência na produção leiteira, tinham uma preocupação com o perfil de seus produtores. Alertara sobre as dificuldades que teriam a maioria destes para a implantação da IN 51, da forma como foi concebida.
Não era sem motivo, pois a maioria dos produtores da pecuária de leite provêem da agricultura familiar. Como resultado, temos agora um número abaixo do desejado de produtores produzindo um leite de ótima qualidade, dentro dos padrões estabelecidos pela norma do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e a discussão da necessidade de se adiar os prazos.

Passado seis anos, desde o início da implantação, inicialmente nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, as estimativas são de que 70% dos produtores de leite estejam em desacordo com as regras1.

Considerando que a produção de leite brasileira se dá em um país que conta com realidades produtivas completamente diferentes, a implantação de mudanças visando a melhora da qualidade do produto devia ter sido antecipada por uma forte ação da assistência técnica, um item fundamental neste caso. No entanto, isso não ocorreu.

O papel da assistência técnica como difusor de conhecimento aplicável, é um item essencial na mudança de comportamento e visão do homem do campo em relação à sua produção.

A constatação das diferentes realidades dos produtores em todo país é o primeiro ponto a ser considerado. Essas são diferenças que vão desde o sistema de produção até as condições sanitárias do rebanho, passando pelo tipo do produtor rural.

Na verdade, os diferentes prazos para implementar as medidas nas regiões do país, já mostrava uma consciência em relação a esse fato. No entanto, mesmo nos estados com mais condições de implantar as novas mudanças, as realidades também não eram e não são uniformes.

É certo que a melhoria da qualidade do leite deve ser um pressuposto básico na produção não apenas pela necessidade de trazer maior competitividade ao país e atender o crescimento do mercado externo, nem mesmo pelo apelo do consumidor interno mais consciente e exigente em relação à saúde, ao respeito ao meio ambiente e ao bem estar animal (VEIGA, 2011)2, fatores estes que podem agregar valor ao produto. Mas antes pela necessidade de garantir um alimento seguro ao consumidor.

A questão é mais profunda. A idéia de se publicar a IN 51 não pode deixar de ser considerada louvável, mas as condições do produtor de leite no país, mal informado e sem uma assistência técnica eficiente, não viabilizaram um bom andamento no seu processo de implantação, comprovado pelas análises da amostras de leite nos laboratórios de referências cadastrados pelo MAPA.

Já no início, o MAPA assumia não ter um plano de ação para informar aos produtores sobre as novas normas. Os estados também não conseguiram atuar na educação de seus produtores e a maioria das empresas e cooperativas não deram apoio técnico aos seus produtores.

Tempos depois, muitos produtores dos estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste não tinham conhecimento da sua existência. Antes mesmo, o MAPA, prevendo dificuldades nessas regiões, nos primeiros seis meses de implantação, preferiu não punir, informando que usaria esse período para fazer ajustes na cadeia láctea, orientando e monitorando produtores e indústrias, se limitando a dar advertências.

A idéia era punir a partir de 2006, mas segundo técnicos do próprio Ministério não havia, na época, nenhum plano de atuação para ser implementado junto aos pequenos produtores, os mais carentes de informações (SILVA, 2005)3.

Se lembrarmos que a produção de leite se dá principalmente através da agricultura familiar, onde a pequena produção é a realidade, não podíamos esperar outro resultado. A conseqüência esperada era a expulsão desse produtor da atividade leiteira ou sua entrada na informalidade, acarretando problemas sociais.

Além disso, temos que considerar a logística da produção de leite, tendo em conta a situação das estradas e a baixa eletrificação rural, que esbarra na necessidade de resfriamento do leite na propriedade.

A falta de adesão da maioria das indústrias ao pagamento pela qualidade mostra que a efetivação da IN 51 foi ineficaz. Se quem já se adequou necessariamente não conseguiu receber por qualidade, porque investir na produção para garantir a melhora da de seu produto?

Produzir leite de qualidade superior não é difícil. Há tecnologias simples, que estão disponíveis a um baixo custo, inclusive com ordenha manual.

Vários modelos tiveram sucesso comprovado e são modelos s que podem ser levados ao produtor rural, mostrando que uma interferência educacional pode dar uma nova dimensão à produção de leite para pequenos criadores (SILVA, 2005)3.

O que ocorre é que as pesquisas feitas, nem sempre chegam ao produtor. Muitas vezes falta diálogo entre a área de pesquisa e a assistência técnica e também há uma estrutura deficiente da assistência técnica e extensão rural brasileira.

Ou seja, se houvesse uma difusão eficiente das tecnologias através da assistência técnica, com certeza a realidade poderia ser mais positiva, mesmo considerando as dificuldades do pequeno produtor em investir e as questões de logística.

Se aliado a esse fator, todas as indústrias tivessem feito programas de bonificação financeira com base na qualidade do leite, com certeza, hoje teríamos uma produção de um leite com qualidade superior.

Isso significa que a incapacidade do produtor de leite de produzir um leite de melhor qualidade está diretamente vinculada à falta de uma assistência técnica eficiente e a ausência de pagamento por qualidade por parte das indústrias. Outros fatores, como estradas em más condições, falta de recursos financeiros para investir, acesso a energia elétrica para resfriamento do leite, são questões estruturais importantes que não têm sido normalmente consideradas.

Um debate sério deve incluir essas questões na pauta para que se possa dar continuidade a todo o processo, envolvendo toda a cadeia produtiva. Enquanto isso não ocorrer, de nada vai adiantar adiar prazos, pois a realidade do produtor não está de acordo com o que pede o mercado.

Espera-se que a opção do MAPA pela prorrogação dos novos limites da IN 51, leve em consideração todos esses pontos e monte, juntos como todos interessados, um plano de ação que atinja e dê condições a todos os produtores de leite de implementá-las e não se limite a definir critérios de participação e responsabilidades dos elos da cadeia produtiva, e a propor os parâmetros de qualidade com base nos resultados das avaliações técnicas realizadas até o momento5, como informou.

Isso sim levará o país a um novo status de qualidade, tornando-se mais competitivo e atendendo as exigências do consumidor, que é o que se deseja.

Referências

1Entrada em vigor da IN-51 gera preocupação. Disponível em: https://www.milkpoint.com.br/mercado/giro-lacteo/entrada-em-vigor-da-in51-gera-preocupacao-72067n.aspx. Mercado. Giro Lácteo. 27 mai. 2011. Acesso em: 30 mai. 2011
2 SANTOS, M. V. A melhoria da qualidade do leite e a IN 51. In: Milkpoint. Disponível em: C:\Documents and Settings\Rosana.IEA\Meus documentos\Pastas de trabalho\Leite\IN51\A melhoria da qualidade do leite e a IN 51 - Artigos Técnicos - Qualidade do Leite - MilkPoint.mht. Acesso em: 22 mai. 2011.
3 SILVA, R. O. P. Educação: o melhor caminho para o pequeno produtor de leite. Disponível em: https://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=3823, 2005. Acesso em: 27 mai. 2011.
4 Op. Cit. Nota 3.
5 Mapa prorroga por 6 meses exigências da IN-51, que entrariam hoje em vigor. In: MIlkpoint. Disponível em: https://www.milkpoint.com.br/mercado/giro-lacteo/mapa-prorroga-por-6-meses-exigencias-da-in51-que-entrariam-hoje-em-vigor-72826n.aspx. Acesso em: 01 jul. 2011.

ROSANA DE OLIVEIRA PITHAN E SILVA

Pesquisadora científica, Diretora da Unidade Laboratorial de Referência de Análise Econômica do Instituto de Economia Agrícola

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EUCLIDES DE SOUZA

ELDORADO DOS CARAJÁS - PARÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 18/08/2011

Produzir leite com qualidade na verdade não é tão simples assim como vem de primeiro plano no imaginário. Pois, a meu ver não trata-se apenas de mudanças de hábitos do produtor. Afinal, em visita a algumas propriedades "leiteiras" é possível encontrar um filho indagando ao pai ao findar uma ordenha: "Pai, já arranquei o leite do gado!". A expressão "arrancar" torna-se muito nítida a imagem que temos desse curral. E na verdade é necessário um mínimo de investimento que para um produtor desse tenha condições de produzir leite com qualidade. Pelo menos aqui na minha região sudeste do Pará pelo menos 9 a cada 10 propriedades não tem água no curral de ordenha. Isso é um implicador. Outro ponto são as instalações que não tem sequer cobertura e quando a tem é no "chiqueiro" onde estão os bezerros. Então, a IN 51 para ser colocada em prática de verdade "pelo menos aqui na região norte do país", torna-se cada vez mais um grande desafio para a cadeia produtiva do leite no Brasil onde terá de ser feito um esforço extraordinário de autoridades, empresas, cooperativas, associações, sindicatos e entidades ligadas ao setor para que o produtor não tenha apenas acesso e conhecimento sobre a  IN 51, más que possa aplicá-la.



Euclides de Souza - Chácara Guapeva   
EMERSON GONÇALVES

SANTA RITA DO PASSA QUATRO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 25/07/2011

Produzir leite de acordo com a IN 51 não é um bicho de sete cabeças, é coisa bem simples, na verdade.

Pela minha experiência, dois pontos são centrais.

O primeiro é a refrigeração. Com ela, tudo é fácil, sem ela, a coisa complica e muito.

O segundo é o pagamento por qualidade.



O pagamento deveria ser o primeiro, mas ele só virá se o produtor tiver um tanque de expansão que conserve seu leite.



Uma medida não pode ser dissociada da outra.

Sim, há problemas estruturais, como acesso e falta de eletrificação. Nesses casos, infelizmente, a solução sai das mãos do produtor e do laticínio.



Se o pagamento for feito de acordo com a qualidade do leite, e com a consequente penalização para quem não entregar dentro das condições mínimas, o próprio produtor irá atrás da assistência e fará pressão por ela, inclusive junto à empresa que compra seu leite.



Aqui no sítio a CBT tem variado entre 3.000 e 8.000 UFC na maioria das amostras. Dias atrás veio uma com 19.000 e tomei um susto. Há alguns meses, uma teteira rasgada associada a feriados e coletas em rápida sequência, levaram-nos a uma média de 110.000 UFC! Um desastre, mas extremamente educativo.



Nossas condições de ordenha são semi-primitivas. Meu barracão com fosso e coisa e tal não foi concluído, pois meu dinheiro acabou. Um vendaval, há ano e meio, destruiu a maior parte de seu teto. Ordenhamos num velho e pequeno barracão, mais um coberto que barracão, duas vacas de cada vez, apenas uma na ordenha, com uma velha ordenhadeira de balde ao pé. O tanque, em compensação, é moderno e bom e com boa capacidade. O iodo na pré-ordenha é obrigatório, assim como a toalha de papel. Na pós-ordenha, um iodo grosso, que confere maior proteção.

Meu retireiro, infelizmente, não tem uniforme, trabalha com as suas roupas... de trabalho. Um dia hei de comprar-lhe um uniforme branco e bem bonitinho.

Apesar das insistências dos vendedores, uso um único detergente para tudo, alcalino-clorado, de boa qualidade. Para que vou gastar com sanitizante e detergente ácido com os índices de CBT que temos aqui?

Bobagem.

A CCS vai bem obrigado, em torno de 200.000, apesar de ter parado de tratar as mastites subclínicas abaixo de 1 milhão. Não compensa, apesar do laticínio pagar 2 centavos por leite abaixo de 200.000. Assim mesmo, quando não recebo os 2 centavos, recebo 1,5 (de 200 a 300.000).

Minhas vacas comem cana com ureia e sulfato de amônio - o pasto acabou - e ração na ordenha. O curral não é calçado, infelizmente.

Enfim, produzir com qualidade não é difícil.

Duro,  mesmo, é ter dinheiro para comprar o tanque.

Mais duro ainda é ter dinheiro para comprar mais vacas ou poder segurar bezerras e novilhas.

CACIANO PANIS DE BRITO

IJUÍ - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/07/2011

Faço minhas as palavras do Marcelo!!!!!!!!

CACIANO PANIS DE BRITO

IJUÍ - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/07/2011

Concordo com você Pedro, de nada vai adiantar prorrogar prazos, se o pais quer qualidade deve investir para que isso ocorra e principalmente fiscalizar as industrias para que deem assistência técnica a seus produtores, informando eles das mudanças que ocorrem em relação do leite. No meu ponto de vista acho que o MAPA, como órgão responsável, deve tomar medidas urgentes sobre esta questão, para que isso não se torne mais uma instrução que se tornou "NADA"!
MARCELO CARLOS FAVARON

FRANCA - SÃO PAULO - REVENDA DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS

EM 21/07/2011

Acredito que fazer com que a noticia sobre a entrada em vigor da IN 51 chegue ao conhecimento do produtor  não é tão dificil assim, afinal todos tem conhecimento da lei seca ou da lei anti fumo que foram amplamente divulgadas pela midia, inclusive as fiscalizações e autuações realizadas na ocasião em que estas leis vigoraram. Pois bem, digo ser relativamente simples, porque se cada elo da cadeia lactea cumprisse sua parte, hoje ja estariamos com a lei vigorando e com certeza a qualidade do leite brasileiro seria outra, bastando para isso que o agente fiscalizador (MAPA) fiscalizasse, autuasse e divulgasse em midia nacional os receptadores de leite de qualidade duvidosa (Industria). Estes por sua vez investiriam assistencia tecnica aos seus fornecedores da materia prima (leite) evitando sansões e penalizações. Por sua vez, os produtores que não se dispusessem a adequação, e acredite, eles existem em grande numero, deveriam ser excluidos do quadro de fornecedores da industria, porem voltamos ao inicio da cadeia, se nao houver fiscalização, este fornecedor transfere sua produção para industrias sem comprometimento com a IN 51 e a coisa continua como está. Portanto, nao adianta prorrogar, pois ja se passou quase um mes da prorrogação, e até agora nada foi feito para que os quase 70% citados na materia que estariam fora, se adequem aos padroes da IN 51. Não é tao dificil assim conseguir melhorar a qualidade do que se produz nos estabulos brasileiros, nem demanda altos custos, é realmente uma questao mudança de habitos e só conseguiremos isto se houver comprometimento de todos, porém é fato que neste país nada acontece sem que alguma ação drastica seja tomada, portanto é de inteira responsabilidade do MAPA e orgãos agregados a implementação de maneira seria da IN 51. Só para finalizar seguem alguns questionamentos para reflexão: 1- O que foi feito depois da prorrogação até agora para divulgar a IN 51; 2- Depois da prorrogação, qual a industria que se mobilizou para melhorar a qualidade do leite adquirido de seus fornecedores; 3 - O que se pretende fazer ao final do prazo da prorrogação, pois fato é que o tempo está passando e nada esta sendo feito, portanto ao final do prazo tudo estará exatamente como hoje e os 70 % serão eliminados, ou não, e continuaremos nessa novelinha mexicana.
PEDRO HENRIQUE L. DE AMORIM

PIRES DO RIO - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/07/2011

Eu acredito que o adiamento só vai adiar o inevitável, vai acabar o prazo novamente e o governo terá de prorrogar a IN 51 ou a maioria dos produtores ficarão ilegais. O governo e muitas industrias querem um leite de qualidade mas ningúem está divulgando nada, dando assistência técnica, orientando os produtores sobre o que fazer exatamente. A maioria nunca ouviu falar na IN 51 e os que ouviram estão perdidos assim como eu, somente uma pequena parte está por dentro da IN 51, desse jeito de nada vai adiantar a prorrogação da medida para depois ou se faz um trabalho sério de profissionalização com o produtor ou vai faltar leite para os laticínios e consumidores.

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