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Os desafios do setor leiteiro nacional têm sido solucionados por diagnósticos?

POR DUARTE VILELA

ESPAÇO ABERTO

EM 19/06/2015

4 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 14/09/2022

Sobre os desafios de nossa pecuária os dividiria em dois momentos, um de curto prazo, os denominados desafios conjunturais que normalmente estamos acostumados a debater intensamente no dia a dia, principalmente nos momentos de crise ou logo após estes, como: importação desleal de leite, fraudes e baixa qualidade do leite, elevação de custo de produção, falta de assistência técnica, entre outros.

O interessante é que no decorrer dos anos esses debates são recorrentes e frequentemente estão nas pautas de inúmeros diagnósticos sobre leite conduzidos no país. Estamos familiarizados com especialistas, patrocinados por bancos, federações ou serviços de apoio, financiando diagnósticos como se estes fossem a solução dos problemas da pecuária. Se o número de diagnósticos realizados no Brasil nas últimas duas décadas fosse quantificado, chegaríamos a dezenas de publicações, estando a sua maioria empoeirando nas estantes de entidades públicas e privadas. Somente para a Região Nordeste do Brasil nos últimos 15 anos encontra-se meia dúzia de diagnósticos com prospecção de demandas que não resultaram na melhoria que se esperava na pecuária daquela Região. E o pior, se elaborasse uma matriz de oportunidades e desafios levantados nos diagnósticos até o momento, comparando os recentes com os realizados há tempos, percebe-se claramente que a grande maioria dos problemas continua os mesmos, ou seja, pouco se avançou. Por quê? Porque não há grande interesse político nem de lideranças do setor em solucioná-los. O que mais impacta é fazer diagnósticos, pois são rápidos, não tão caros, relativamente fáceis e se ganha prestígio ao lança-los em auditórios repletos e fotos nas primeiras páginas dos noticiários.

Já os desafios de longo prazo, os denominados estruturantes, que para levar a resultados concretos pode-se levar anos, o mesmo não ocorre. Veja o exemplo da qualidade e segurança do leite. Há quanto tempo ouvimos falar em fraudes e que a qualidade do leite precisa melhorar? Todos diagnósticos feitos priorizam esse problema. Na verdade houve melhoras sim nos últimos 15 anos a partir da criação do PNQL e com este a implantação das IN 51 e posteriormente a IN 62 do MAPA, mas ainda estamos muito longe da realidade necessária. Apenas para exemplificar, o leite UHT produzido por aqui e colocado em refrigeração após aberto dura dias, enquanto o leite pasteurizado produzido nos USA ou na Europa dura semanas. O que fazer?

Um caminho seguro seria desenvolver Planos para Modernização da Pecuária de Leite por região do país. Estes seriam um conjunto de ações inovadoras de longo prazo para modernizar a pecuária de leite, resultante de projetos cooperativos estabelecidos através de Parcerias Público-Privadas (PPP). Para se chegar a essas ações não seriam necessários novos diagnósticos, basta levantar os existentes e priorizá-los, pois os desafios são do conhecimento do setor.

Os Planos poderiam viabilizar aperfeiçoamentos nos sistemas intensivos de produção de leite, com vistas a uma pecuária moderna, sustentável e competitiva. Na medida em que sejam necessárias novas pesquisas finalísticas ou apenas organizar o conhecimento, tais aperfeiçoamentos permitiriam o esclarecimento de inúmeros equívocos dos produtores. Assim, os Planos estariam sendo concebidos como de referência tecnológica regional fazendo a diferença para o aumento da rentabilidade e sustentabilidade da atividade. A sua implantação iria requer, portanto, o estabelecimento de uma parceria de cooperação técnica e financeira entre o setor produtivo público e privado, aliado à criação de um fundo com a participação de entidades de fomento à pesquisa, transferência de tecnologia e assistência técnica.

Nesse contexto, poderia se ter soluções para os grandes desafios nacionais, por exemplo, um setor leiteiro competitivo e com excedentes de leite com qualidade e segurança para se exportar 5% da produção. Para isso é preciso concluir os deveres de casa, vencer barreiras sanitárias, erradicando zoonoses que insistem em persistir, como a brucelose e a tuberculose, melhorando a qualidade do leite, seja por pesquisa em cooperação, seja por ações de marketing para estimular os consumidores a exigirem mais qualidade, forçando assim as indústrias de laticínios a se adequarem para tal, remunerando o produtor pela qualidade do produto a nível nacional.

O setor leiteiro nacional já deu sinais no passado de que pode oferecer excedente exportável e temos razões suficientes para isso porque há disponibilidade de terras e tecnologias. A pergunta que fica é: por que não continua a oferecer? Para ser exportador líquido de lácteos, como foi colocado, o dever de casa está incompleto, não há competitividade, não se consegue fidelizar os nossos compradores de leite e o rol de compradores é limitado em todos os aspectos, inclusive o de poder econômico, como os países africanos e alguns latinoamericanos, que apesar de pouco exigentes em qualidade do produto, a maioria depende do preço do petróleo para comprar lácteos. Assim, ampliar e perenizar o rol de países importadores de lácteos é importante. Rússia e China batem a nossa porta e quem sabe em breve a União Europeia!

Com os deveres completados e com ações de incentivo à modernização do setor, sem a necessidade de novos diagnósticos, o país poderá ser competitivo e deixar o quadro cíclico de anos bons seguido de ruim. Para isso é preponderante a formulação de políticas públicas com Planos duradouros e parece que a Ministra Katia Abreu está sensível e esse apelo.

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DUARTE VILELA

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 23/06/2015

Caro sr. Romão, não há como não concordar que temos o costume de levantar problemas e na hora de solucioná-los sobram poucos para carregar o piano. Mas já demos alguns passos, novas alianças foram construidas e novas entidades formadas a partir de 2013. A Embrapa veio para contribuir com o desenvolvimento do setor gerando conhecimento. A sede da Embrapa Gado de Leite está sim em Juiz de Fora, mas conta com Núcleos de apoio em todas regiões do país, inclusive no Sul, em Pelotas. Considerando que muitas pesquisas independem da região onde é desenvolvida, podem ser difundidas para outros biomas, além da equipe de pesquisadores localizados na Região Sul em parceria com Juiz de Fora, acredito que  estamos atendendo as principais demandas do país, notadamente a região Sul que hoje se destaca na produção nacional de leite.
ROMÃO MIRANDA VIDAL

PALMAS - TOCANTINS

EM 23/06/2015

Muito discurso e pouca ação.

Não entendemos como ainda nenhuma ação proavita após um desses inúmeros diagnósticos serem publicados.

Qual a solução?

No meu entender o que falta é organizar melhor a Cadeia Produtiva do Leite, inclusive iniciando pela própria Embrapa. Por que ficar situada em Juiz de Fora e não em várias regiões do Brasil? A pecuária leiteira é organizada no Paraná, graças a Extensão Rural, a Pesquisa privada e governamental e continua avançando. Mas a pecuária de leite, se organizou, a tal ponto que se não se caracteriza como um Cluster está muito próximo.

O que falta no meu modesto entender é uma aproximação feérica e contundente (no bom sentido) junto às duas Confederações: CNA e CNI (setor leite)  e começar a andar. Pesquisas, levantamentos, estudos são válidos sim. Vamos aproveitar para sair desse marasmo e dar uma demonstração de que o corte umbilical com alguns pontos governamentais vai acontecer ou já está acontecendo.

Atenciosamente.

Médico Veterinário Romão Miranda Vidal
DUARTE VILELA

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 23/06/2015

Caro Sr. Mário. Há muita propriedade no que coloca na mensagem e realmente genética e alimentação/manejo devem caminhar juntas. A falta de assistência técnica para apoiar o produtor nessa ora é crucial, pois foi desmantelada há anos e somente agora se fala em recuperá-la através da ANATER. Para ser fiel ao texto que escrevi, todos esses pontos estão na maioria se não em todos diagnósticos feitos há pelo menos 15 anos e muito pouco se evoluiu apesar do conhecimento estar disponível mas não apropriado pelo produtor. Quanto a predominância do leite nacional temos realmente que separar as coisas, por que a maior produção de leite vem realmente do mestiço porque a raça Girolanda foi homologada recentemente, a partir dos anos 90, 1993/1995, se não me engano, e como está em formação adotam os graus de sangue 1/2; 3/4 e 5/8 que perfazem grande parte do rebanho denominado há pelo menos 50 anos como sendo o mestiço leiteiro brasileiro. Daí a confusão, se posso chamar assim.
MARIO MACHADO PASCHOAL

BRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 22/06/2015

Senhores, de fato os problemas são muitos. O mais forte problema hoje é o de mão de obra. Já presenciamos muitos empreendedores desistindo, trocando mesmo por outra atividade. Por outro vemos alguns deslanchando na produção com volume e tendo uma boa rentabilidade, desde que seja um bom gestor. Mecanizar é preciso e aí ninguém vai investir se não houver saldo para tanto. Já no seguimento da Agricultura Familiar, em se tratando de Brasil Tropical, é uma fartura. Falta tudo. E digo isto com muita tristeza porque tenho 30 anos de extensão rural com muita dedicação a causa, trabalhando incessantemente na resolução dos problemas. Só para exemplificar uma parte dos problemas cito o da genética. Se os colegas tiverem a curiosidade deem uma olhada no Manual de Pecuária Leiteria editado pela Embrapa (ou Embrater) em 1982: lá está dito que muitos criticam quem fala em genética e que tem de tratar é de alimentação. Pois é, ainda hoje é assim. Está publicado pela Embrapa a Instrução Técnica para Cruzamento em Gado Leiteiro. Aí vem a Associação de Girolando e diz que 80% do leite produzido é de Girolando. Não é. É produzido por MESTIÇAS. O problema é este: cada um emite uma opinião (e a Instrução Técnica é bem clara), e aí não temos nada, geneticamente, no mundo tropical: nem Girolando P.S., nem heterose, nem raça pura. Só rebanho sem critério técnico de acasalamento, e os resultados que todos conhecem. Junte-se a isto, e aí vou ter de citar um diagnóstico feito em Goiás, que 82% dos produtores citaram não ter recebido assistência técnica naquele ano. Tenho convicção que falta é humildade pois tecnologias não faltam. Porém o capital para investir quem banca é o produtor. Para isto tem de estar motivado. Não é fácil. Mas para mim o problema da genética é o maior. Não tem como comprar matrizes de R$ 4 a R$ 5 mil reais e pagar com leite. Tem de "fazer" a sua matriz e aí começa as dificuldades.
DUARTE VILELA

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 22/06/2015

O que o país necessita é políticas públicas e privadas que dê continuidade a programas que têm dado certo.

Cito o exemplo da Residência Zootécnica em parceria Embrapa e MDA que há 15 anos disponibiliza técnicos para o setor leiteiro após 10 meses de aulas práticas e teóricas. O aprender fazendo na pecuária de leite. Esse seria um exemplo bem sucedido que deveria ser copiado em todo o país, mas no lugar preferem criar outros programas para satisfazer vaidades pessoais. Existem muitos casos assim pelo Brasil afora, é só procurar.
AIRDEM GONÇALVES DE ASSIS

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - INSTITUIÇÃO PÚBLICA

EM 19/06/2015

Caro Duarte,

Parabéns pelo excelente artigo. Chega de diagnósticos e mãos a obra! Para os problemas recorrentes já existem  soluções, mas faltam vontade politica e ações continuadas. Mudanças de governos, muito normal nas democracias, não podem interromper o funcionamento das instituições nem paralisar ações corretas em andamento. Concordo também com a importância da sucessão no campo. A Nova Zelândia resolveu esta questão com o sistema "share milkers", parceria na produção de leite entre jovens e produtores aposentados. Os jovens, geralmente casais, entram com a mão de obra e o produtor com terra e animais. Temos vários jovens saindo dos IFET's em busca de emprego que poderiam se associar aos produtores aposentados e tocarem o trabalho com participação nos custos variáveis e nas receitas. Quanto ao controle das principais zoonoses (brucelose e tuberculose) tem que se criar um fundo com recursos públicos e privados para indenização dos animais abatidos, caso contrário não acabaremos com elas. Cordiais saudações.
JOSE LUIZ BELLINI LEITE

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 19/06/2015

Excelente matéria, parabéns Dr. Duarte.

Sem um programa de cunho nacional e de execução local/regional, vai avançar a passos muito lentos e desarticulados. O governo certamente tem papel relevante, mas as indústrias precisam liderar o avanço, pois é o elo orientador da cadeia.

A questão da sucessão passa pela questão econômica do sistema de produção. Se o sistema for rentável, não haverá problema na sucessão. O jovem, mesmo que não conheça o conceito de custo de oportunidade, compara suas alternativas e escolha a que melhor lhe acena.
REINALDO

SÃO CARLOS - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 19/06/2015

Excelente artigo, com muita propriedade o Dr. Duarte Vilela vai ao cerne do problema. O Brasil precisa ser competitivo e já está na hora de termos políticas públicas que incentivem a exportação de leite no Brasil. Produtividade e qualidade do leite são parâmetros essenciais para sermos competitivos.
DUARTE VILELA

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 19/06/2015

Certamente Henrique, a sucessão na fazenda começa a ser um assunto recorrente e de difícil solução a curto prazo. Não é a toa a crescente procura por mecanização/robotização nas fazendas leiteiras. É necessário o governo olhar para a capacitação de fazendeiros jovens em cursos formais numa tentativa de motivalo a ser um futuro gestor rural.
HENRIQUE PASSINI DE CASTRO

ARACÊ - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 19/06/2015

Parabéns. Gostei do artigo e do modo de pensar que o autor mostra em sua publicação. Mas, gostaria de incluir outra necessidade que entendo ser grande, que é a sucessão no negócio leite. Hoje, quando olhamos  a idade dos pecuaristas de leite, é de tomar susto. Nossos produtores estão velhos e,  portanto, mais resistentes ao uso  e implementação de novas e necessárias tecnologias. PRECISAMOS CRIAR OPORTUNIDADES AOS JOVENS PARA ASSUMIREM E MANTER  o futuro do negócio leite. Penso que uma das ações que poderíamos inovar seria o CRÉDITO FUNDIÁRIO, diferente do que temos hoje. Algo novo tipo o SFH(Sistema Financeiro de Habitação).  Comentando,  o elevado número de diagnósticos é propaganda, tal  como o Governo Federal, faz muito barulho na divulgação e, infelizmente, quase nada vira realidade.



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