Em tempos de pandemia e preços de insumos altos, o foco em setores de grande impacto na rentabilidade de uma fazenda leiteira tornam-se imprescindíveis. Como já visto em outro artigo, fazendas com melhores retornos econômicos apresentavam melhores indicadores reprodutivos. Desta vez, atualizamos os números e analisamos sob uma perspectiva um pouco diferente.
O que foi feito?
No período de Junho/2020 a Maio/2021 foram analisados dados reprodutivos e econômicos de 30 fazendas produtoras de leite na região da Zona da Mata em Minas Gerais. Todas as fazendas são atendidas pelo Programa de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira (PDPL – UFV). Separamos as 6 (20%) com melhores e piores Taxas de Prenhez (TP), e avaliamos as diferenças entre as médias de alguns indicadores desses 2 grupos.
Não confunda taxa de prenhez com taxa de concepção!
Taxa de Concepção (TC) é calculada dividindo o número de vacas/novilhas gestantes pelo número de vacas/novilhas inseminadas ou cobertas por boi e já diagnosticadas (as que ainda não foram diagnosticadas não podem entrar nessa conta).
Taxa de Prenhez (TP) é o número de vacas/novilhas gestantes dividido pelo número de vacas/novilhas aptas a serem inseminadas em um período de 21 dias. Esse indicador é o mais completo pois leva em consideração tanto a TC como também a Taxa de Inseminação (TI) – (Número de inseminações nos últimos 21 dias divido pelo número de animais aptos a serem inseminados nesse mesmo período). Por isso, a TP também pode ser calculada multiplicando a TC pela TI:
Nesse grupo, o resultado médio das melhores e piores TP (Gráfico 1) foram respectivamente 22,80% e 7,32%.
Nos gráficos 2 e 3 temos a TC e TI dos grupos superiores e inferiores em TP. O resultado foi o esperado já que a TP é diretamente influenciada pela TC e TI:
Outros indicadores reprodutivos também comprovaram a importância em focar em aumentar a TP.
Estrutura de rebanho
Outro ponto importante é a influência da TP na estrutura de rebanho. Sabemos que grande parte da receita em uma propriedade leiteira é a venda do próprio leite.
Por isso, é ideal que tenhamos o máximo de vacas em lactação em relação ao total de vacas (VL/TV) e ao total do rebanho (VL/TR) (média ano). Um dos fatores que interfere nessa relação é a reprodução, e a TP ilustra de forma bem real como está a eficiência deste setor.
E a relação com os resultados econômicos?
Por fim, vejamos os resultados de rentabilidade das fazendas com maiores e menores médias na TP. Resumimos em apenas 2 indicadores:
Margem Líquida por litro de leite: esse indicador é o resultado da Renda Bruta da Atividade menos o Custo Operacional Total (COT) que engloba todos os gastos diretos da atividade (MDO, concentrado, energia elétrica, combustível, minerais, volumosos, medicamentos, etc) e também o valor da MDO familiar e as depreciações de benfeitorias, máquinas, equipamentos, forrageiras não anuais e animais de serviço.
Esse indicador é bem interessante pois não contabiliza apenas entradas e saídas como em um fluxo de caixa, ele inclui também os gastos indiretos como é o caso da MDO familiar e as depreciações.
No gráfico 9 podemos ver que o grupo de produtores com maior TP teve R$ 0,50 a mais de margem líquida por litro de leite em comparação com o grupo de menor TP.
Um dos indicadores econômicos mais completos é a Taxa de Retorno sobre o Capital Investido, onde calculamos dividindo a Margem Líquida anual da atividade pelo estoque de capital (valor de todos os bens da propriedade: animais, máquinas, benfeitorias, etc). Ou seja, de tudo o que foi investido, quanto está retornando ao produtor por ano (em porcentagem).
Mais uma vez, temos a oportunidade de ver que as fazendas mais eficientes na reprodução tiveram um retorno sobre o capital investido maior (quase 15 pontos percentuais, mais que o dobro – Gráfico 10).
Mas e aí? Vale a pena investir em reprodução ou não?
Analisando os resultados e comparando esses 2 grupos extremos quanto aos resultados reprodutivos, podemos fazer uma simulação. Usando como exemplo uma fazenda pequena com produção diária de 500 litros, são 15.000 litros por mês. Como a diferença na Margem Líquida entre os 2 grupos foi de 50 centavos, no final do mês há uma diferença de R$7.500!!
Assim fica mais fácil responder se vale a pena investir na reprodução ou não.
Quanto custa intensificar o manejo reprodutivo? Intensificar o uso da IATF, uma visita a mais de um veterinário, um nutricionista para adequar a nutrição, um investimento em conforto animal, etc., certamente se encaixam nesse valor.
Não é de hoje que sabemos da importância da reprodução dentro de uma fazenda leiteira, porém quando incluímos análises econômicas tudo fica mais claro. É fundamental entendermos que não dá pra “esperar” as vacas começarem a ciclar para iniciarmos as inseminações após os partos. Investimentos em pré-parto, conforto, nutrição, intensificação da IATF, respondem de forma eficaz no aumento das taxas reprodutivas e por consequência na atratividade econômica da atividade.
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