ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

Textura do grão define qualidade de híbridos do milho para ensilagem

POR MARCOS NEVES PEREIRA

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 23/09/2003

5 MIN DE LEITURA

2
0

Atualizado em 29/09/2023

Nas regiões produtoras de milho do mundo, o milho cultivado é quase em sua totalidade dentado e o milho cultivado no Brasil é predominantemente duro. Grãos de milho do tipo dentado possuem amido mole e poroso e têm baixa densidade. Com a perda de umidade do grão, durante o processo de maturação fisiológica da planta, o endosperma farináceo e macio reduz o seu volume mais do que as camadas duras no lado do endosperma. Assim se origina a indentação, pelo enrugamento do endosperma no topo da semente (Figura 1). Grãos do tipo duro (ou flint) têm endosperma duro ou cristalino ocupando quase todo o seu volume e baixa proporção de endosperma farináceo. A vitreosidade é definida como a proporção de endosperma duro (vítreo) com relação ao endosperma total, grãos duros têm alta vitreosidade e densidade.

Figura 1: Milho dentado com indentação típica no topo do grão e endosperma farináceo (a) e milho duro (flint) com topo do grão arredondado e alta proporção de endosperma vítreo (b).
 


A dureza do endosperma é determinada pela composição protéica do grão. Os grânulos de amido dentro das células estão envoltos por uma matriz protéica. A densidade da matriz varia com a localização da célula no grão. A matriz é esparsa e fragmentada no endosperma farináceo e densa e bem desenvolvida na região vítrea. Na porção farinácea os grânulos de amido estão mais acessíveis ao ataque enzimático. A interação com a proteína pode reduzir a susceptibilidade do amido à hidrólise enzimática, reduzindo a digestibilidade deste carboidrato.

A presença de amido é a razão primária para a ensilagem de planta inteira de milho. O amido, um carboidrato não-fibroso de degradação rápida no rúmen, confere valor energético à silagem de milho, reduzindo a necessidade de alimentos concentrados por litro de leite produzido. Uma silagem de milho de baixa energia não justificaria todo o transtorno agronômico de produção do milho silagem. A planta de milho é uma planta tropical, tendo digestibilidade da fibra semelhante à de outras forrageiras tropicais. Pode-se dizer que milho com baixo amido e/ou com amido indigestível seria nutricionalmente próximo a um capim elefante, um milho sem espigas. A definição do estádio de maturação na colheita e do híbrido para ensilagem deve almejar a redução no teor de FDN, de degradação lenta no rúmen, e a maximização do teor de amido, este último, preferencialmente com a máxima digestibilidade.

A Figura 2 mostra a composição nutricional de uma boa silagem de milho. O que é mais importante, a digestibilidade da Fibra em Detergente Neutro (FDN) ou a digestibilidade dos Carboidratos não-fibrosos (CNF)? Ambos são pontos potenciais para atuar sobre a qualidade da silagem. No entanto, é importante frisar que a digestibilidade dos CNF está em torno de 90% e a digestibilidade da FDN está em torno de 40%. Nunca uma silagem de alta fibra será melhor que uma silagem de alto CNF. Também tem que ser entendido que uma silagem com alto teor e/ou alta qualidade protéica e com alto teor de óleo, mas com amido indisponível, não faz sentido. Milho não é fonte de óleo ou proteína, milho é fonte de energia na forma de carboidratos. Proteína e gordura só seriam cabíveis como meta na escolha de plantas para ensilagem após a digestibilidade dos carboidratos, prevalentes na planta, estarem maximizados. Além do mais, gordura e proteína são facilmente suplementáveis em dietas de vacas leiteiras.

Figura 2: Carboidratos fibrosos (FDN) e não-fibrosos (CNF) representam cerca de 85% de uma silagem de milho. Quanto maior o conteúdo de CNF (o mesmo que baixo conteúdo de FDN) maior o conteúdo energético da forrageira. Silagem de milho não é fonte de proteína (PB) e gordura (Extrato Etéreo = EE).

 


Existem evidências de que quanto maior a vitreosidade do grão de milho, menor a degradabilidade ruminal do amido. Cinco híbridos brasileiros, representando extremos de dureza do grão, foram cultivados no Brasil, colhidos no estágio maduro e transportados aos Estados Unidos. Quatorze híbridos americanos foram cultivados no Wisconsin e colhidos em três estádios de maturação: metade de linha do leite (ML), linha preta (LP), e 21 dias depois da linha preta (maduro; MD). A vitreosidade dos grãos foi determinada por dissecção manual do endosperma. Três híbridos americanos e três brasileiros, todos no estágio MD de maturidade, foram selecionados para representar os extremos de vitreosidade e degradados in situ em três vacas Holandesas em lactação com fístula ruminal.

A vitreosidade dos cinco híbridos brasileiros no estágio maduro variou de 64,2 a 80,0 % do endosperma, com média de 73,1, maior que a média encontrada nos 14 híbridos americanos, 48,2, oscilando de 34,9 a 62,3. Nosso híbrido menos vítreo teve maior vitreosidade que o mais vítreo dos Estados Unidos. O amido instantaneamente degradável no rúmen foi cinco vezes maior nos híbridos americanos que nos híbridos brasileiros (Tabela 1). A velocidade de degradação do amido e da matéria seca dos híbridos brasileiros foi aproximadamente um terço do valor dos híbridos americanos. A extensão de degradação ruminal dos híbridos brasileiros (disponibilidade) foi de 20 a 30 pontos percentuais inferior que à dos híbridos americanos.

Tabela 1. Cinética da degradação ruminal de grãos de milho de híbridos dos Estados Unidos (EUA) e do Brasil (BRA). Três híbridos foram selecionados de cada país para representar extremos de vitreosidade.

 


A = Fração instantaneamente degradável. B = Fração lentamente degradável. C = Fração indigestível. Kd = velocidade de degradação da fração B.
Disponibilidade = A+B[Kd/(Kd+Kp)]. Kp de 0,08/h

A correlação entre vitreosidade e degradabilidade ruminal foi negativa e alta (Figura 3), e teve comportamento bem semelhante ao observado por pesquisadores franceses trabalhando com outra população de plantas (Philippeau & Michalet-Doureau, 1997). A vitreosidade parece ser um bom parâmetro para selecionar híbridos de milho com alta digestibilidade ruminal do amido. A grande deficiência das silagens de milho brasileiras parece ser a baixa digestibilidade do amido no rúmen, resultado da dureza excessiva dos grãos. Um caminho para melhorar a qualidade das silagens de milho no Brasil seria o plantio dos poucos híbridos dentados disponíveis comercialmente. Só a força do mercado fará com que a indústria de sementes de milho passe a considerar o produtor de leite em seus programas de melhoramento, e deixe de direcionar as "sobras" dos programas de melhoramento para grãos para serem comercializadas como milho para ensilagem.

Figura 3. Vitreosidade do grão e disponibilidade ruminal do amido avaliado in situ em híbridos norte americanos () e três brasileiros (). Disponibilidade=108.2 - 0,7605*Vitreosidade. r 2=0,87. Disponibilidade (% do amido) = A + B [Kd/(Kd + Kp)]. Kp de 0,08/h.

 


Referência:

Correa, C.E.S.; Shaver, R.D.; Pereira, M.N., Lauer, J.G., Kohn, K. Relationship between corn vitreousness and ruminal in situ starch degradability. Journal of Dairy Science, v.85, n.11, p.3008-3012, 2002.

MARCOS NEVES PEREIRA

Professor Titular da UFLA (Lavras, MG)

2

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

EDUARDO CÔRTES

CARATINGA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 28/07/2013

Prezados,

agradeço a resposta acima, e após algum tempo tenho uma sugestão e uma pergunta;  A sugestão seria vocês pesquisarem e publicarem as variedades vendidas no Brasil com relação a vitreosidade e dispnibilidade, bem como a cinética da degradação ruminal de grãos de milho.  Concordo  com sua afirmação   Concordo com sua afirmação de que somente a força do mercado vai fazer com que as sementeiras parem de trazer as sobras para cá.  Mas a academia brasileira também tem uma força grande com as pesquisas, e terá um importante papel nessa luta.  Como produtor vou plantar basicamente o 4051 nesta safra, que já tem transgenia, e o 1051 como refúgio.  Mas seria bom que as universidades fizessem uma comparação entre todos os dentados brasileiros para termos mais dados para decidirmos.  Não é possível que o parque das universidades federais brasileiras não con seguiriam essa independênciae realizarem tal experimento.  POderia até comparar com os outros milhos das mesmas empresas que comercializam seus híbridos nas matrizes e aqui.  Tenho certeza que o Journal of Dairy Science teria muito interesse em publicar tais dados, além dos nossos produtores.  As empresas de semente iriam passar a caprichar muito mais em suas escolhas, e a academia brasileira estaria dando uma enorme contribuição ao país.  Fica a sugestão.  Até por que a publicação no Journal é de 2002, e já está na hora de fazer uma atualização ampliando e divulgando as marcas estudadas.



Mais uma vez parabéns pela iniciativa da pesquisa!!!

Um abraço,

Eduardo Côrtes
EDUARDO CÔRTES

CARATINGA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/10/2003

O artigo está muito bom. É importante para a orientação dos produtores.

Gostaria de perguntar quais são os milhos de baixa textura, existentes no mercado para silagem?

<b>Resposta</b>:

Dentre os híbridos disponíveis comercialmente, os mais dentados são: AG 1051 e AG 4051. Existem materiais semidentados que podem ser utilizados em situações específicas, principalmente aquelas com garantia de colheita mais precoce do grão (antes da metade da linha do leite).

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do MilkPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

MilkPoint Logo MilkPoint Ventures