Como está o planejamento forrageiro para o ano de 2014? Tivemos estiagem em algumas regiões; bom preço da soja, deixando o milho da silagem para depois; e até a expectativa de que um bom preço do leite vai compensar a compra de “alguma coisa” para as vacas comerem lá na frente. Fazendo um paralelo com os preparativos para a Copa, assim como os torcedores brasileiros, as pobres vacas terão de se “virar” com alguma coisa de qualidade ruim e com custo elevado!
Faltando menos de 50 dias para Copa do Mundo de 2014, corremos contra o relógio para deixar tudo em condições mínimas para a realização do evento, já que o ideal, ou mesmo o bom, não são mais possíveis. Como resultado esperado, teremos uma combinação perversa de qualidade ruim com custo elevado.
Fazendo um paralelo com os preparativos para a copa, imaginei que nossas vacas leiteiras podem estar pensando a mesma coisa em relação ao planejamento forrageiro (o que elas vão comer?) para o ano de 2014. Tivemos estiagem em algumas regiões; bom preço da soja, deixando o milho da silagem para depois; e até a expectativa de que um bom preço do leite vai compensar a compra de “alguma coisa” para as vacas comerem lá na frente. Assim como os torcedores brasileiros, as pobres vacas terão de se “virar” com alguma coisa de qualidade ruim e com custo elevado!
Como opção de produção de volumosos, escrevi aqui no Blog AgriMilk que a safrinha poderia ser uma opção interessante (Silagem de milho na safrinha - Risco ou oportunidade de se produzir volumoso de qualidade?), mas essa já passou. Nos sobra ainda, como uma das últimas chances, a conservação de algum volumoso para sustentar ou até mesmo minimizar a queda da nossa produção leiteira até o próximo verão. Nas regiões com temperaturas mais amenas, onde se pode contar com alguma chuva ou até mesmo irrigação, podemos produzir no inverno forragens de clima temperado (aveia e/ou azevém) com boa qualidade, mas que, em várias situações, não serão suficientes para alimentação do rebanho como volumoso exclusivo. Nas regiões onde a seca é mais severa no inverno, podemos ter como opção guardar alguma forragem que ainda cresce no final da estação chuvosa, como o excedente de produção das pastagens ou até mesmo áreas destinadas à colheita.
Contudo, para a ensilagem de plantas forrageiras que apresentam matéria seca (MS) inferior a 21%, carboidratos solúveis inferiores a 2,2% na matéria verde e baixa relação entre carboidratos e poder tampão, os riscos de má fermentação são grandes, demandando o uso de recursos que, de alguma forma, modifiquem esta situação. Nesse sentido, a remoção parcial de água da planta, através do emurchecimento ou pré-secagem, pode ser uma opção interessante, por proporcionar condições ideais para uma boa fermentação, e assim permitir que a forragem possa ser armazenada e utilizada na alimentação dos animais durante o período de escassez.
De maneira geral, as leguminosas são mais nutritivas do que as gramíneas de clima temperado que, por sua vez, apresentam melhor qualidade que as de clima tropical.
O corte das plantas forrageiras destinadas à ensilagem deve ser feito no estágio vegetativo, ocasião em que a planta se encontra no seu “ponto de equilíbrio” entre produção de matéria seca e qualidade nutricional. Recomendações práticas indicam, para plantas forrageiras em condições ideais de valor nutritivo, que o corte do azevém, do Capim Papuã (B. plantaginea) e do Tifton sejam feitos quando as plantas alcançam 30 cm de altura, sendo 45 cm para a aveia preta. É adequado que o corte da forragem seja feito uns 6 a 8 cm do solo, para que a rebrota e consequente produção de matéria seca no corte seguinte não seja prejudicada.
Quando a forragem é cortada e espalhada no campo para secar, a perda de umidade é intensa nas plantas ainda vivas, uma vez que o caule e as folhas foram separados das raízes e a umidade perdida não é reposta, começando então o murchamento. Após o fechamento dos estômatos, 70 a 80% da água deverão ser perdidos através da superfície da planta, fazendo com que a exposição ao sol, baixa umidade relativa e a circulação de ar dentro da leira sejam essenciais. A terceira etapa se inicia quando a umidade da planta atinge cerca de 45%, sendo esta etapa mais sensível às condições climáticas do que as anteriores, principalmente à umidade relativa do ar. É nessa etapa, ou próximo a ela, que a forragem é recolhida e ensilada. Daí a sensível redução nos riscos de perda de qualidade da forragem conservada ensilada em relação ao feno.
Para acelerar a taxa de desidratação da planta, as práticas de viragem e revolvimento com ancinhos enleiradores e espalhadores são de importância fundamental no processo de secagem, principalmente nas primeiras horas após o corte, de modo a reduzir a compactação e proporcionar maior circulação de ar dentro das leiras, acelerando a transferência de umidade das plantas para o ambiente. Para as leguminosas, o uso de ancinhos para promover a inversão das leiras somente se aplica nas primeiras horas após o corte.
O uso de segadeiras condicionadoras reduz pela metade o tempo de secagem das plantas forrageiras, devido ao aumento da perda de água pelo caule. Porém, para forragens que foram submetidas a algum tipo de condicionamento mecânico, as perdas decorrentes da ação da chuva sobre a forragem podem ser de maior intensidade devido ao fato de que compostos solúveis de alto valor nutritivo são arrastados, podendo haver grandes perdas desses nutrientes.
Tem sido crescente o emprego de herbicidas dessecantes na produção de silagem pré-secada ou mesmo feno. No final do ciclo das culturas de inverno, principalmente aveia e azevém, o agricultor desseca a área para, em seguida, iniciar o plantio das culturas de verão no sistema de plantio direto. A aplicação de herbicida é feita nas forragens e o corte é realizado com as plantas aparentemente mais secas, evitando assim riscos relativos às condições de ambiente. Além disso, são necessárias apenas duas operações antes da ensilagem: a aplicação do herbicida e o corte. Geralmente a ensilagem é feita imediatamente após o corte.
Trabalhos de pesquisa (Figura 1) indicam que a perda de umidade na forragem, no caso aveia preta, foi lenta quando comparado ao corte e espalhamento, mesmo em doses elevadas de herbicida (Glifosato). Isto é coerente com a ação do herbicida, que atua na planta como bloqueador de ação enzimática, não tendo ação sobre a manutenção dos estômatos abertos, o que poderia acelerar a perda de umidade. Na prática, a planta está morta, mas ainda com teores mais elevados de umidade.
Figura 01. Efeito de doses (0,75; 1,5: 2,25 e 3 litros/ha) de herbicida (glifosato) versus corte e espalhamento na velocidade de secagem (teor de MS) da silagem pré-secada de aveia preta.
Fonte: Pereira at al. (2001)
Deve-se ressaltar que ainda não há registro de herbicidas para esta finalidade, bem como estudos sobre resíduos nos produtos de animais que consomem este tipo de forragem. Para um país que pretende ser exportador de lácteos, particularmente, considero a prática um crime.
No processo de ensilagem, a retirada de ar da massa ensilada, por meio de compactação intensa, é fundamental para a redução da respiração e do aumento de temperatura na massa, que têm como consequência principal a perda de energia na forma de calor. Além do uso de tratores pesados, também favorece a boa compactação a distribuição da forragem em camadas finas. O fechamento do silo deve ser feito com lona plástica adequada, com maior espessura e com “protetor” da ação do sol, no caso de lonas brancas. Se optar pela colocação de pesos sobre a lona, isso deve ser feito de forma com que o ar seja expulso pela frente do silo, evitando que se formem bolsões. Durante todo o tempo de conservação até a abertura, não deve ocorrer entrada de ar no silo.
Outra técnica que vêm sendo bastante difundida no Brasil é a ensilagem de forragem pré-secada em fardos redondos (400 a 600 kg) revestidos com plástico especial. Este processo viabilizou a comercialização de volumosos pré-secados, tornando-a uma opção interessante tanto para o agricultor, que passou a ter mais uma opção de renda, vendendo a forragem e/ou produzindo em parceria com terceiros, como para o pecuarista, que em caso de falta de alimentos volumosos por motivos diversos, pode adquiri-los na quantidade necessária.
Como conclusão, para a produção de silagem pré-secada deve-se levar em consideração os seguintes fatores:
- O processo tem como vantagem, em relação à fenação, a redução do tempo de secagem e dos riscos de perdas no campo;
- Preserva melhor a qualidade da forragem colhida com níveis mais elevados de umidade;
- É necessário estabelecer espécies forrageiras produtivas adaptadas às condições climáticas locais e colher a forragem no estádio de desenvolvimento adequado, de modo a se obter maiores produtividades de matéria seca de maior valor nutritivo;
- Deve-se proporcionar condições ideais ao processo de fermentação durante o armazenamento, com atenção especial ao teor de matéria seca da forragem e a compactação durante a ensilagem;
- Adotar, se necessário, o uso de aditivos para melhorar a conservação, sempre levando em consideração o custo final dos nutrientes na forragem armazenada;
- Adotar técnicas de manejo e equipamentos adequados de modo que sejam minimizadas as perdas durante a retirada e o fornecimento da silagem aos animais.