Os parasitas são eliminados nas fezes dos animais na forma de ovo e para que se desenvolvam até a forma de larva infectante (L3), o que acontece em média de 5-7 dias, necessitam de condições ambientais com temperatura ótima em torno de 22-28oC e umidade relativa superior a 80%, ou seja, um ambiente quente e úmido, que pode ser encontrado na maior parte do país, particularmente na época chuvosa.
As larvas L3 possuem a capacidade de migração tanto horizontal quanto vertical, podendo atingir o topo do dossel forrageiro que, por sua vez, está mais sujeito à desfolha pelos animais. Essas migrações são mediadas pela luz, temperatura e umidade, tornando possível que as larvas atinjam o estrato superior da forragem quando a umidade é alta e a pastagem molhada, e retornem para os estratos mais inferiores durante o dia, evitando a dessecação pela radiação solar.
Foto: Larvas infectantes L3, contidas em uma gota-de-orvalho no capim, prontas para serem ingeridas por animais em pastejo.
Para causar infecção as L3 precisam ser ingeridas, e a altura da pastagem, assim como, o horário do pastejo, possuem grande influência sobre a taxa de ingestão diária de larvas (translação) pelos animais. O microclima, úmido e de temperatura moderada, formado no estrato basal do dossel forrageiro contribui decisivamente para o pleno desenvolvimento e sobrevivência das larvas. A textura do solo e o hábito de crescimento da planta forrageira influenciam o microclima criado no ecossistema da pastagem, determinando o grau de umidade do solo e, o nível de incidência solar e ventilação na base do dossel.
As altas taxas de lotação animal alcançadas por sistemas intensivos de produção sob lotação intermitente (lotação rotacionada ou pastejo rotacionado) elevam o nível de contaminação das pastagens, exigindo a adoção de estratégias com o objetivo de diminuir a taxa de translação e/ou aumentar as condições desfavoráveis à sobrevivência das larvas na pastagem, sem comprometer a rebrota vigorosa e a persistência da planta forrageira.
Plantas de crescimento prostrado, como os Cynodon e a B.decumbens e B.humidicola, cobrem muito bem o solo, formando um relvado fechado e denso, e mesmo quando rebaixadas, impedem a adequada penetração da radiação solar e de ventos, contribuindo para a manutenção de um microclima favorável às larvas de helmintos por manter uma umidade relativa ainda alta, mesmo após períodos curtos de estiagem.
Já plantas de crescimento ereto, como os cultivares de Panicum maximum e Brachiaria brizantha, devido às suas características morfológicas, possuem uma arquitetura mais aberta e cobrem uma menor área de solo deixando espaços vazios entre as touceiras, permitindo a penetração de raios solares e ventos que afetam a umidade e a estabilidade térmica do microclima, além de reduzirem a umidade das fezes, criando condições desfavoráveis ao desenvolvimento e sobrevivência de larvas. Além disso, alguns cultivares quando manejados sob lotação intermitente permitem uma altura de resíduo pós-pastejo mais baixa, a depender da fertilidade do solo, possibilitando uma maior penetração de luz e ventos na base da touceira, o que é prejudicial às larvas, ao mesmo tempo em que favorece o perfilhamento e o processo fotossintético da planta.
Tabela 1. Indicação de altura do resíduo pós-pastejo para algumas forrageiras tropicais, sob lotação intermitente, considerando três níveis de fertilidade ou adubação de pastagens.
O estrato inferior do dossel forrageiro alberga a maior concentração de larvas ao longo do perfil da pastagem, independente da espécie forrageira. No entanto, espécies prostradas facilitam o contato entre L3 e hospedeiro, por serem manejadas em alturas mais próximas ao solo. Práticas de manejo que promovam um pastejo mais intenso da forragem, de forma a atingir o estrato basal, predispõem a uma maior ingestão de L3 e, mesmo expondo as larvas a condições climáticas adversas, o potencial de infecção ainda é bastante elevado. Sendo assim, a principal estratégia é respeitar as alturas de resíduo pós-pastejo em lotação intermitente (Tabela 1), associada ao início do pastejo cerca de 4 horas após o nascer do sol e a períodos de ocupação inferiores a 5 dias, colaborando para uma menor taxa de translação e redução do grau de infecção dos animais, diminuindo assim, a porcentagem de casos clínicos e a necessidade de uso de anti-helmínticos.
Referências bibliográficas
Foto de Dr. Colin Johnstone, School of Veterinary Medicine, University of Pennsylvania.
Tabela adaptada de Kichel (dados não publicados). In: Machado, L.A.Z.; Kichel, A.N. Ajuste de lotação no manejo de pastagens. Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste, 2004. (Documentos, 62).