A prática de suplementação é utilizada tanto na tentativa de suprir as deficiências nutricionais da pastagem, proporcionando o balanceamento da dieta dos animais, quando para redução dos riscos ocasionados pela sazonalidade da quantidade e qualidade do alimento proveniente das pastagens. Várias possibilidades no uso de suplementos podem ser aplicadas na criação de cordeiros, uma vez que os mesmos apresentam a possibilidade de abate com pouca idade, implicando em consumo reduzido dos mesmos.
A partir de 2007, o grupo do Laboratório de Pesquisa de Ovinos e Caprinos (LAPOC) da Universidade Federal do Paraná vem estudando a suplementação de cordeiros ainda em aleitameto em creep grazing ou "creep verde", onde são utilizadas forragens de alta qualidade servindo, geralmente, como fonte de proteína restrita aos animais jovens, ao pé da mãe. A suplementação dos cordeiros através do creep grazing não substitui o leite materno, mas complementa o mesmo.
Para a construção das áreas destinadas ao creep grazing deve ser utilizada cerca de tela própria para ovinos onde a entrada dos cordeiros ocorre por passagens dispostas ao longo da tela, como proposto por Brachero et al. (2006). Neste caso, nos campos adjacentes às pastagens onde as mães pastejam, sugere-se o uso de leguminosas de alto valor nutritivo, sendo permitida apenas a entrada dos cordeiros, por meio de portões (Figura 1).
Figura 1: Modelo de creep grazing para cordeiros em crescimento
A escolha da espécie de leguminosa que pode ser utilizada no creep grazing deverá ser feita levando em consideração: a qualidade nutricional, a palatabilidade e aceitação por parte dos animais e a adaptação e persistência na região que será utilizada.
A região subtropical do Brasil possui diversas espécies de leguminosas que poderão ser utilizadas nesse modelo como o trevo branco (Trifolium repens), trevo vermelho (Trifolium pratense L.), trevo vesiculoso (Trifolium vesiculosum) e cornichão (Lotus corniculatus) no inverno, ou ainda, o amendoim forrageiro (Arachis pintoi) no verão. A maior parte dessas espécies ainda não foi avaliada nesse modelo. Nas regiões tropicais além do amendoim forrageiro e também da alfafa, existe a possibilidade da utilização de outras leguminosas tropicais herbáceas como Stylosanthes ou siratro ou de hábito de crescimento mais rasteiro. Sobre estas, ainda menos informações estão disponíveis.
A utilização da suplementação em creep grazing para terminação de cordeiros pode promover melhor desempenho dos animais jovens, idade de abate precoce, carcaças com pesos adequados, boa conformação e cobertura de gordura e carne de qualidade. Com a aceleração da idade de abate é possível a liberação das ovelhas para uma estação de monta acelerada, fora da época convencional, para os produtores que trabalham com raças menos estacionais.
Em trabalho realizado com bovinos nos Estados Unidos, Harvey e Burns, (1988) identificaram aumento significativo no ganho de peso vivo por hectare com a utilização do creep grazing em áreas de milheto (Pennisetum americanum L. Leeke) e trevo vermelho (Trifolium pratense L.).
A utilização do creep grazing também é benéfica quando há competição entre as ovelhas e os cordeiros por forragem e/ou suplemento, particularmente quando esses recursos são escassos, ou quando existe alta contaminação de parasitas na pastagem (Doane, 1979).
Estudos realizados na Nova Zelândia relatam que o sistema creep grazing também pode promover o controle da verminose devido à presença do tanino e excelente quantidade de proteína nas leguminosas, e inclusive, melhorar a futura taxa ovulatória das cordeiras em crescimento.
Figura 2: Cordeiros se alimentando dentro do creep grazing.
Trabalhos realizados no LAPOC- UFPR no ano de 2007, comparando sistemas de suplementação para cordeiros ao pé da mãe em pastagens de azevém, obtiveram resultados próximos quanto ao ganho médio diário dos cordeiros, os quais receberam suplementação em creep grazing de trevo branco (0,294 kg/d) e em creep feeding com ração farelada a 2% do peso corporal (0,324 kg/d). Esse desempenho aproximou a idade de abate dos cordeiros, sendo 89 dias para o creep grazing e 81 dias para o creep feeding com ração farelada. As carcaças dos cordeiros, abatidos aos 33 kg nesse ensaio, mostraram-se com características de peso e rendimento exatamente as mesmas para os dois sistemas propostos, com excelente qualidade. Também, não houve ocorrência de óbitos por verminose.
Para quem tem dúvidas sobre se o cordeiro se desvincula ou não de sua mãe e entra ou não na área do grazing: os mesmos permaneceram 26% do dia pastejando o trevo branco dentro do creep grazing. Isso ocorreu mesmo sem conhecimento prévio dos cordeiros em relação ao pasto de trevo. Esta informação é importante para comprovar que o animal se separa da mãe em busca de alimentação de melhor qualidade (Figura 2).
Segundo Brachero et al. (2006) para iniciar a utilização do creep grazing, alguns cuidados devem ser tomados:
- A área do creep deve ser dimensionada de maneira que a oferta de forragem seja à vontade e sem competição entre os animais, para isso deve ser levada em conta, a disponibilidade inicial de forragem, a taxa de crescimento da pastagem, o consumo potencial dos cordeiros e o valor nutritivo da forragem;
- A localização da área do creep deverá ser disposta de maneira que os animais tenham boa visibilidade desta, para que quando os cordeiros estiverem pastejando dentro do creep mantenham contato visual com suas mães do lado de fora; deve ser de fácil acesso, para isso um local próximo aos "dormitórios" ou caminhos habituais dos animais é desejável;
- O tamanho das passagens dos cordeiros para o creep deverá ser tal que apenas os cordeiros consigam passar; aberturas de 50 cm de altura e 20 a 25 cm de largura permitem facilmente a entrada de cordeiros até 30 kg;
- Se for possível, os cordeiros devem se acostumar previamente à forragem que será utilizada no creep, é aconselhável que este processo ocorra junto às mães para facilitar o aprendizado que deverá ocorrer a partir dos 10 dias de idade;
- Deve-se sempre realizar a adubação das pastagens que serão utilizadas a fim de se promover a persistência das mesmas no sistema, durante vários ciclos produtivos.
Literatura citada
BRACHERO, G.; MONTOSSI, F.; GANZÁBAL, A. Alimentación estratégica de corderos: La experiencia del INIA en la aplicación de las técnicas de alimentación preferencial de corderos en el Uruguay. Serie Técnica 156. INIA, 2006. 29pp.
DOANE, T.H. Creep feeding lambs. University of Nebraska Lincoln. In: https://ianrpubs.unl.edu/sheep/g432.htm. (Consultado em 03/01/2006)
HARVEY, R.W.; BURNS, J.C. Creep grazing and early weaning effects on cow and calf productivity. Journal of Animal Science. 1988: 1109-1114.