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A importância da qualidade da forragem

POR ALEXANDRE M. PEDROSO

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 24/10/2005

7 MIN DE LEITURA

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Dá pra produzir até 20 kg leite/vaca/dia só no pasto. Calma, calma eu não tenho a receita para essa façanha, mas resultados de trabalhos recentes publicados por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria, no RS, mostram que isso pode acontecer, pelo menos em condições experimentais. Mas o ponto a ser discutido é o impacto da qualidade da forrageira no desempenho dos animais e na necessidade de suplementação.

Não há dúvidas de que o pastejo é o método mais barato de se fornecer alimento volumoso às vacas, com menor custo de produção, menor exigência em manejo dos animais, mão-de-obra e equipamentos mais baratos, e menor ocorrência de desordens metabólicas. A produtividade final em sistemas de pastejo (kg leite/ha) é o resultado da combinação das eficiências que se consegue em cada etapa do processo produtivo. O manejo do pasto é, em resumo, o que vai controlar a eficiência geral do sistema.

Assim, fica claro que quanto melhor a qualidade da forrageira, mais leite o produtor vai conseguir tirar de cada hectare da sua propriedade. Mas o conceito de qualidade não significa apenas valor nutritivo (VN), ou concentração de nutrientes (carboidratos, proteínas) na forragem. O conceito de qualidade engloba também o consumo da forragem, e para que haja consumo elevado, além de bom VN, é preciso haver boa oferta de forragem, como mostram os trabalhos da UFSM.

Em dois verões consecutivos o grupo de pesquisadores avaliou o desempenho de um lote de vacas pastejando áreas com Tifton 85 e Capim Elefante Anão (CEA), em sistema de pastejo contínuo com lotação variável (oferta de matéria seca de lâmina verde de aproximadamente 3% do peso vivo dos animais), suplementadas apenas com mistura mineral.

No trabalho de Maixner et al. (2004) ambas as forrageiras apresentaram ótimo VN, o que possibilitou consumo e produção de leite elevados, conforme mostra a tabela 1.

Tabela 1: Valor nutritivo da forragem e desempenho animal em ensaio com vacas leiteiras mantidas em pastejo exclusivo.


Apesar da alta concentração de FDN, ambas as forrageiras apresentaram baixo teor de lignina, o que contribui para que a digestibilidade da fração fibrosa seja elevada, o que, por sua vez, possibilita o consumo elevado da forragem. Além disso, ambas as forrageiras apresentaram altos teores de PB, com baixa concentração de nitrogênio indisponível.

Mesmo com esse VN da forragem, o desempenho das vacas foi muito superior ao que se pode esperar de animais em pastejo exclusivo. A oferta de forragem era bastante generosa, mas os autores não mostram a taxa de lotação da área experimental. Provavelmente trabalharam com baixa lotação.

Com os dados obtidos no ensaio, os autores fizeram uma simulação no NRC (2001) e observaram que para o Tifton 85, o sistema estimou bem o desempenho das vacas, mas que para o CEA, o NRC (2001) subestimou o desempenho em cerca de 18%, o que não é de ocorrência rara. Eu resolvi conferir, e também montei uma simulação no NRC (2001) com os dados apresentados. Realmente, no nível de consumo observado com o CEA, o sistema estima que haverá proteína metabolizável para produzir apenas 14,1 kg de leite. Possivelmente o NRC (2001) subestimou a disponibilidade da proteína da forragem.

Quanto à energia líquida, o sistema projeta uma produção de 16,9 kg de leite, bem próximo do observado. No entanto o balanço de energia líquida projetado pelo sistema fica negativo, com déficit de 2,3 Mcal/dia, o que é indesejável para vacas com 120 dias em lactação. Isso significa que essas vacas possivelmente estejam utilizando reservas para sustentar a produção, numa fase da lactação em que já deveriam estar iniciando a reposição das reservas perdidas no início da lactação.

No caso do Tifton, o NRC (2001) estima que há energia líquida suficiente para produzir até 21,5 kg de leite, o que resulta em balanço energético positivo. Já para a proteína metabolizável, o sistema projeta quantidade suficiente para apenas 17,5 kg de leite. Novamente, possivelmente tenha havido subestimativa da disponibilidade da proteína da forragem.

Os autores chamam a atenção para o fato de o alto desempenho das vacas poder ter sido facilitado pelo clima ameno na época do ensaio, com temperaturas mais baixas que as normais para a época, e ocorrência de precipitações freqüentes.

No trabalho de Oliveira et al. (2005), que é uma continuação do trabalho de anterior, o VN das forragens, principalmente do CEA, não foi tão elevado, o que se refletiu em menor desempenho das vacas, conforme mostra a tabela 2.

Tabela 2: Valor nutritivo da forragem e desempenho animal em ensaio com vacas leiteiras mantidas em pastejo exclusivo.


Este ensaio foi dividido em 2 períodos, o que possibilitou uma observação interessante sobre o consumo e utilização de reservas corporais. O menor VN das forrageiras, principalmente o CEA, certamente contribuiu decisivamente para o desempenho menor observado nesse caso.

O mais interessante é notar a diferença de consumo e desempenho entre os períodos 1 e 2. Em ambos os períodos o VN das forragens é praticamente o mesmo, mas o consumo aumentou em 70% para o Tifton e em 43% para o CEA, e o desempenho caiu 12,2 e 22,3% respectivamente. Os autores creditam esse aumento de consumo à necessidade de reposição de reservas corporais utilizadas para sustentar a produção no primeiro período (as vacas pastejando Tifton perderam em média 28 kg PV de um período para o outro, e as vacas pastejando CEA perderam 38 kg).

Fazendo a mesma simulação no NRC (2001) realizada no experimento anterior, os autores observaram que para o primeiro período o sistema subestimou o desempenho, principalmente por uma limitação na disponibilidade teórica de proteína metabolizável. Já no segundo período o NRC (2001) superestimou o desempenho das vacas, possivelmente por não prever a necessidade de reposição de reservas corporais com tanta intensidade. A simulação feita por mim com os dados desse segundo experimento mostra claramente que as vacas, em ambos os tratamentos, estão em balanço energético negativo (-2,7 Mcal/dia para o Tifton e -2,3 Mcal/dia para CEA), o que é comprovado pela perda de peso.

Os autores concluem dizendo que pastagens de gramíneas tropicais, como o Tifton 85 e o Capim Elefante Anão, permitem produções individuais de leite acima de 14 litros/dia com vacas de alto potencial genético, desde que a quantidade e a qualidade da pastagem ingerida não seja limitada pela oferta de forragem, pelo manejo ou pelas condições de clima.

Pelo que foi exposto nos 2 trabalhos, fico com as seguintes observações:

- É possível criar vacas leiteiras exclusivamente a pasto, com níveis satisfatórios de produção, desde que se trabalhe com forrageiras de alto valor nutritivo, o que depende de um manejo muito bom e investimento em adubação nitrogenada, que, via de regra, é compensador.

- Forrageiras de alto valor nutritivo, ofertadas em quantidades generosas, são fundamentais para se obter elevado desempenho animal e elevada produtividade por área em sistemas de produção de leite a pasto.

- Os trabalhos citados foram de curta duração e realizados em áreas com baixa taxa de lotação. Mesmo com a alta produção individual das vacas, a produtividade da área deve ter sido modesta.

- Essa produção elevada foi suportada em grande parte pelas reservas corporais das vacas, o que foi evidenciado no segundo ensaio. Essa situação não se sustenta por períodos longos, como uma lactação inteira.

- Acredito que se essas mesmas vacas tivessem recebido suplementação com concentrados poderiam ter desempenho semelhante ou superior, sem necessidade de mobilizar tantas reservas corporais, e ainda sobraria muita forragem para se trabalhar com um número maior de animais na área, o que certamente resultaria em elevada produção de leite por hectare. Se esse concentrado custar até 85% do preço do leite o lucro é garantido.

- Com base nos dados dos experimentos citados, O NRC (2001) possivelmente subestima a disponibilidade da proteína de forrageiras tropicais de alto VN.

- Quanto melhor a forragem, menor a necessidade de suplementação concentrada, ou menor o custo do concentrado. Se a forragem tiver, por exemplo, 16% de PB, dá pra trabalhar com concentrados que tenham em torno de 18-20% de PB, que são muito mais baratos que os tradicionais com 24-25% de PB.

Literatura consultada

MAIXNER, A. R.; KOZLOSKI, G. V.; QUADROS, F. L. F.; TREVISAN, L. M.; MONTARDO, D. P.; NORONHA, A.; AURÉLIO, N. D. "Avaliação de Tifton 85 (Cynodon sp. cv. Tifton 85) e de Capim Elefante anão (Pennisetum purpureum cv. Mott ) em sistemas de produção de leite a pasto: consumo de forragem e produção individual de leite." In: 41ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Campo Grande/MS, 2004. CD-ROM.

OLIVEIRA, L.; KOZLOSKI, G. V.; MAIXNER, A. R.; PERES NETTO, D.; QUADROS, F. L. F.; MONTARDO, D. P.; NORONHA, A.; AURÉLIO, N. D.; ROSSI, G. E. "Avaliação de Tifton 85 (Cynodon sp. cv. Tifton 85) e de Capim Elefante anão (Pennisetum purpureum cv. Mott ) em sistemas de produção de leite a pasto: consumo de forragem e produção individual de leite." In: 42ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Goiânia/GO, 2005. CD/ROM

NATIONAL RESEARCH COUNCIL.. Nutrient Requirements of Dairy Cattle. Washington, D.C.: National Academy Press, 2001, 381p.

ALEXANDRE M. PEDROSO

Engenheiro Agrônomo, Doutor em Ciência Animal e Pastagens, especialista em nutrição de precisão e manejo de bovinos leiteiros

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JOSE SILVIO MONTEIRO

ARAUÁ - SERGIPE - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 19/04/2006

Gostaria de ler comentários sobre esse artigo do Doutor Alexandre Pedroso, em relação a possibilidade de consórcio da forrageira tyfton 85 com as leguminosas amendoim forrageiro ou a leucena. Estes consórcios acrescentariam proteína e fixariam nitrogênio no solo, conseqüentemente aumentando a produção do leite. É viável esse consórcio?



Grato,



Silvio Monteiro



<b>Resposta do autor:</b>



Prezado José Silvio,



Eu não tenho experiência com consórcio de forrageiras, isso não é comum na minha região, mas o principal problema é que a presença das leguminosas obriga a uma redução nas taxas de lotação. Certamente haverá mais proteína na forragem e fixação de nitrogênio no solo, mas talvez isso não compense a redução na taxa de lotação. A produção de leite por área poderá ficar ainda menor. De qualquer forma, não dá para fazer uma recomendação generalista, é preciso analisar cada caso, avaliando o potencial das vacas, a condição do pasto, fertilidade do solo, etc.



Abs,



Alexandre M. Pedroso
MILTON LUIZ MOREIRA LIMA

GOIÂNIA - GOIÁS - PESQUISA/ENSINO

EM 01/11/2005

Caro Alexandre,



Na segunda etapa do segundo experimento, você acredita que as vacas realmente consumiram 24 kg de MS e produziram apenas 15 l/dia?



<b> Resposta do autor:</b>



Meu caro Milton,



Eu também me fiz essa pergunta ao ler o trabalho, mas a princípio temos que acreditar nos dados. Sabemos que a estimativa de consumo de pasto não é simples, o que pode levar a erros experimentais significativos.



Nesse caso, os autores utilizaram marcador externo óxido de cromo. Mas como o enfoque do artigo é ressaltar a questão do impacto da qualidade da forragem no consumo e produção das vacas, não dei muita importância a esse detalhe, que, no meu entender, não compromete a mensagem a ser passada aos leitores.



Um grande abraço.



Alexandre

HELDER DE ARRUDA CÓRDOVA

CASTRO - PARANÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 25/10/2005

Como houve redução de peso (escore da condição corporal), seria interessante publicar os dados referentes a eficiência reprodutiva das vacas.



Obrigado,



Helder Córdova



<b>Resposta do autor:</b>



Prezado Helder,



Eu concordo integralmente com você, mas infelizmente os autores dos trabalhos citados não fazem referências aos dados reprodutivos. É uma pena, pois seria um ótimo ponto de discussão.



Atenciosamente,



Alexandre

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