A Embrapa Gado de Leite estima que, em 2018, o brasileiro consumiu, em média, 166 equivalentes litros de leite no ano, o que corresponde a 455 ml/dia. Nesta estimativa, todos os derivados lácteos foram transformados para leite para se chegar a este número. Mas, este nível de consumo é alto ou baixo?
Quando se fala de consumo de leite e derivados no Brasil, é comum encontrar a afirmação de que o nível de consumo do brasileiro é baixo ou que está aquém das recomendações de consumo. Mas quais são essas recomendações?
Na verdade, não existe recomendação de consumo de leite e derivados para o Brasil. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Food and Agricultural Organization (FAO) não recomendam quantidades específicas de alimentos por dia, com exceção de vegetais e frutas. Na sua principal publicação sobre leite e derivados, o livro “Milk and dairy products in human nutrition”, de 2013, a FAO afirma que, como os países diferem em termos de disponibilidade de alimentos, socioeconomia, hábitos alimentares e cultura, não é apropriado fornecer recomendações globais para alimentos individuais, exceto onde haja evidência científica suficiente para fazer tal recomendação (como é o caso das frutas e vegetais). Assim, a publicação apresenta uma compilação de recomendações de consumo de leite e derivados para alguns países (Tabela 1).
Tabela 1. Recomendações de consumo de lácteos para países selecionados.
O Brasil não aparece na tabela, mas pode-se observar grandes diferenças nas recomendações de consumo nos diversos países elencados. No seu Novo Guia Alimentar para a População Brasileira, lançado em 2014, o Ministério da Saúde não fornece recomendação de quantidades a serem consumidas de alimentos. A única recomendação apresentada é “Prefira sempre alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias a alimentos ultraprocessados”.
Dentre os alimentos in natura ou minimamente processados estão o leite pasteurizado, ultrapasteurizado ou em pó e iogurtes (sem adição de açúcar). A manteiga é considerada preparação culinária. Já os queijos são considerados alimentos processados e os sorvetes, iogurtes e bebidas lácteas adoçados e aromatizados são tidos como alimentos ultraprocessados.
Portanto, não se pode afirmar que o brasileiro não atende às recomendações de consumo de leite, já que o País não possui este tipo de recomendação. Ademais, considerando que 1 xícara ou 1 porção de leite é equivalente a 200 ml, o nível de consumo de leite de um adulto brasileiro (455 ml/dia) está até superior ao recomendado por alguns países apresentados na tabela, como por exemplo África do Sul, Argentina e Austrália.
Mas e se analisarmos apenas o consumo de leite fluido?
Considerando leite fluido como a soma de leite UHT e leite pasteurizado (sem incluir o leite em pó reconstituído), a Pesquisa Industrial Anual (PIA) do IBGE mostra que o brasileiro consumiu 73 ml de leite fluido/dia em 2017. No mesmo ano, o USDA informou que os americanos consumiram 64 ml/dia. Portanto, os brasileiros têm nível de consumo de leite fluido equivalente ao dos americanos e a ideia de que o nosso nível de consumo é baixo está ultrapassada.