Ricarda e Zequinha
Mensagem importante:
- Contaminação bacteriana do útero ocorre em mais de 90% das vacas de leite na primeira semana pós-parto.
- Antibioticoterapia intra-uterina não tem se mostrado efetiva na recuperação do desempenho reprodutivo de vacas com infecção uterina pós-parto, podendo resultar em descarte de leite e risco de contaminação do tanque de leite com resíduos de antibiótico.
- Infecções uterinas têm grande impacto na redução do consumo de matéria seca no pós-parto e na subseqüente produção de leite. Prevenção é essencial!
Produtores de leite e técnicos têm muitas decisões e dilemas quando consideram o tratamento das infecções uterinas pós-parto. A grande decisão é tratar ou não tratar? O dilema inclui: retorno econômico do tratamento; recuperação da capacidade reprodutiva, ricos de eliminação resíduos de antibiótico no leite, e, principalmente, a prevenção da ocorrência do problema.
Vacas que apresentam alterações sistêmicas decorrentes da infecção uterina devem ser tratadas tão logo seja feito o diagnóstico, nesse caso, a decisão é uma só: tratar, mas todos os dilemas continuam existindo.
Definição do Problema
No pós-parto, o útero contém fluído e debris (restos placentários) que favorecem o crescimento dos microorganismos. A contaminação bacteriana ocorre em mais de 90% das vacas de leite na primeira semana pós-parto. A instalação da doença vai depender do número e da virulência dos microorganismos contaminantes e da capacidade de defesa do útero.
Diferentes tipos de microorganismos podem ser isolados no conteúdo uterino no pós-parto. A maiorias deles são contaminantes do ambiente que são eliminados normalmente durante as primeiras seis semanas pós-parto. No pós-parto normal, a vaca resolve a contaminação uterina pela rápida involução do útero e da cérvix (redução do diâmetro), contração e expulsão do conteúdo e mobilização dos mecanismos de defesa natural (produção de muco, anticorpos e células de defesa). Vacas com problemas no parto ou pós-parto apresentam redução da habilidade de controlar a infecção uterina.
Partos gemelares, distocias ou desordens metabólicas podem reduzir a capacidade de contração uterina, dificultando a expulsão do conteúdo uterino no período normal, favorecendo o crescimento dos microorganismos.
Problemas de parto, retenção de placenta e/ou metrite reduzem a capacidade das células de defesa de removerem os microorganismos.
A duração da infertilidade associada à infecção do útero depende da severidade e da duração do processo inflamatório. A resolução da inflamação ocorre com o tempo. A fertilidade é restaurada na vaca com pós-parto normal de 40 a 50 dias após o parto.
Tratar ou não tratar?
A retenção de placenta é definida como a condição em que a vaca não expulsa as membranas fetais até 24 horas após parto. Isoladamente, apenas o fato da vaca não expulsar a placenta não é motivo para que a vaca receba tratamento, mas se o caso evoluir para metrite, e a vaca começar a apresentar sinais sistêmicos de infecção como febre ou redução de apetite e da produção de leite, o tratamento deve ser iniciado com antibiótico parenteral (intra-muscular, na maioria das vezes) e terapia de suporte (fluidoterapia endovenosa ou oral, antiflamatório não-esteróide).
Dados de pesquisa mostram que o uso de antibióticos intra-uterinos nos casos de metrite pós-parto não tem nenhuma eficácia comprovada, mas essa prática ainda é muito comum. A infusão uterina com antibióticos nesses casos pode causar lesões irreversíveis, pois a parede uterina já esta muito fragilizada pela infecção.
Uma alternativa para tratar as vacas que apresentam infecção uterina pós-parto, mas não apresentam comprometimento sistêmico, é a aplicação de prostaglandina. Na literatura, não existe um consenso sobre os benefícios desse tratamento, mas os resultados de pesquisa mostram que quanto menor a taxa de concepção na primeira inseminação pós-parto, maiores são os benefícios do tratamento com prostaglandina.
Prevenção é essencial!
Existe uma relação entre a ocorrência de retenção de placenta/metrite e a redução da ingestão de matéria seca e da produção de leite. Vacas que apresentam retenção de placenta e metrite no pós-parto, mesmo sendo tratadas, não recuperam a produção de leite nos primeiro 20 dias da lactação.
A retenção de placenta/metrite tem sido relacionada com a ocorrência da outras desordens metabólicas. Vacas com de retenção de placenta/metrite apresentam 16 vezes mais chances de desenvolver cetose e 2,4 vezes mais chance de apresentar deslocamento de abomaso, e o intervalo parto concepção é aumentado. Pensando no retorno econômico da atividade leiteria, os produtores não podem permitir que as vacas iniciem a lactação com infecção uterina.
A retenção de placenta/metrite é uma doença multi-fatorial. Fatores que podem contribuir para a ocorrência dessas doenças são: abortos, parto gemelar, distocias, assistência inadequada ao parto, estresse, desbalanço nutricional, excesso de condição corporal e doenças infecciosas.
A redução ou a eliminação desses fatores vai permitir que a vaca inicie a lactação em condições de gerar lucros.