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Proteína da dieta, balanço energético negativo e fertilidade em vacas leiteiras - Parte 2

POR RICARDA MARIA DOS SANTOS

E JOSÉ LUIZ MORAES VASCONCELOS

JOSÉ LUIZ M.VASCONCELOS E RICARDA MARIA DOS SANTOS

EM 26/08/2008

7 MIN DE LEITURA

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Este texto é parte da palestra apresentada por Dr. Ron Butler, no XII Curso de Novos Enfoques na Reprodução e Produção de Bovinos, realizado em Uberlândia em março de 2008.

Proteína da dieta e alterações associadas no fluido folicular ovariano

Em estudo recente, foram coletadas amostras de fluido folicular ovariano ao estro e no dia 7 do ciclo estral em vacas no início da lactação (Hammon et al., 2005). Com base nas concentrações de PUN (≥ 20 e < 20 mg/dl), as vacas foram divididas em dois grupos. Tanto a uréia como a amônia estavam elevadas no fluido folicular das vacas com alto teor de PUN.

Estes resultados confirmam um estudo anterior com novilhas que foram arraçoadas de forma a gerar altos níveis de amônia no rúmen e resultou em altos níveis de amônia no fluido folicular (Sinclair et al., 2000). Ovócitos coletados de novilhas arraçoadas com dietas que geram altos níveis de amônia tiveram taxas de clivagem mais baixas do que as novilhas arraçoadas com dietas gerando baixos níveis de amônia.

Elos entre o metabolismo de proteína e o ambiente uterino

O desenvolvimento com sucesso de um embrião durante o início da prenhez depende do ambiente uterino, que é dinâmico e apresenta diferenças secretórias acentuadas ao longo do ciclo estral devido à regulação pelos esteróides ovarianos. Durante o início da prenhez, a sinalização local do blastocisto modifica ainda mais o meio e induz a secreção de proteínas específicas pelo epitélio uterino.

Os efeitos da proteína bruta da dieta sobre os constituintes das secreções uterinas foram examinados em vacas leiteiras de alta produção, em diferentes estágios do ciclo estral (Jordan et al., 1983). O BUN e a uréia no fluido uterino foram mais elevados para as vacas arraçoadas com 23% de proteína bruta do que as vacas que receberam uma dieta com 12% de proteína bruta. O alto consumo de proteína alterou as concentrações de minerais nas secreções uterinas, mas apenas durante a fase lútea e não no estro.

Também foram observados efeitos diferenciais da dieta rica em proteína sobre o pH uterino ao longo do ciclo estral (Elrod e Butler, 1993; Elrod et al., 1993). O pH uterino normalmente aumenta de cerca 6,8 ao estro para 7,1 no dia 7 do ciclo estral (fase lútea), mas este aumento não ocorreu tanto em novilhas como em vacas em lactação alimentadas com excesso de PDR ou PNDR (PUN alto).

Em um estudo recente, houve uma relação inversa entre o pH uterino e as concentrações de PUN durante 36 horas de observação. A medida seqüencial de PUN e pH uterino demonstrou que o pH uterino é dinâmico e muda em resposta ao PUN, com um período de várias horas. A infusão intravenosa contínua de uréia em vacas em lactação reduziu significativamente o pH uterino depois de 12 horas (Rhoads et al., 2004). Estes resultados sugerem fortemente que as concentrações de PUN ao longo do intervalo entre 12 e 24 mg/dl podem exercer efeitos diretos sobre as secreções uterinas.

Além da uréia, a amônia também se mostrou elevada no fluido uterino em vacas leiteiras com PUN alto (Hammon et al., 2005). Os altos níveis de amônia provavelmente resultaram do metabolismo local e da utilização do aminoácido glutamina como fonte de energia, mais do que pela difusão vinda da corrente sangüínea. Dentro do útero há aumento da amônia durante a fase lútea e poderia aumentar ainda mais os efeitos negativos da uréia sobre o pH e outras secreções.

Os resultados de todos estes estudos sugerem que o aumento da uréia pela utilização de uma dieta rica em proteína pode reduzir a fertilidade por interferir com os efeitos indutivos normais da progesterona sobre o microambiente uterino, proporcionando desta forma condições sub-ótimas para manter o desenvolvimento do embrião (Butler, 2001).

Desenvolvimento embrionário

Os efeitos do alto consumo de proteína sobre o desenvolvimento embrionário precoce têm sido estudados em vacas leiteiras. Vacas em lactação (40-60 dias após o parto) foram alimentadas com dietas que resultam em PUN moderado ou alto (<19 mg/dl>), e os embriões foram coletados 7 dias após a superovulação e IA (Rhoads et al., 2006). Os embriões foram transferidos para novilhas leiteiras receptoras, que também foram alimentadas com dietas que levam a PUN baixo ou alto, mas com balanço energético positivo.

As taxas de prenhez foram mais baixas nas receptoras depois da transferência dos embriões recuperados de vacas com PUN alto em relação às vacas com PUN moderado (11 e 35%, respectivamente). Estes resultados indicam que os efeitos prejudiciais do PUN elevado ocorre antes do dia 7 após a IA e podem ser direcionados ao desenvolvimento do oócito nos folículos ovarianos ou a aspectos do desenvolvimento embrionário no oviduto e útero.

Recentes estudos in vitro mostraram que a uréia atua sobre a maturação do oócito e não após a fertilização para impedir o desenvolvimento embrionário até o estágio de blastocisto (De Wit et al., 2001; Ocon e Hansen, 2003). Os níveis de uréia usados in vitro foram os mesmos que reduzem a fertilidade em vacas (Butler et al., 1996; Rhoads et al., 2006). A uréia também antecipa a eclosão do blastocisto (Roland e Butler, não publicado), o que poderia resultar em uma assincronia entre o embrião e o ambiente uterino. Além disso, a amônia ou a uréia elevada na luz do útero de vacas arraçoadas com dieta rica em proteína (Hammon et al, 2000; 2005) pode comprometer diretamente o desenvolvimento embrionário, por alterar as secreções uterinas (Rhoads et., 2004).

Os resultados de transferência de embriões também mostraram que a taxa de prenhez não foi afetada pelo PUN elevado nas receptoras quando os embriões eram transferidos para novilhas em balanço energético positivo (isto é, efeito do PUN nas doadoras, mas não nas receptoras). A qualidade embrionária foi reduzida nas vacas em lactação arraçoadas com excesso de proteína degradável no rúmen , mas não foi encontrado nenhum efeito prejudicial do nível elevado de proteína bruta da dieta e da uréia do sangue na qualidade embrionária ou sobrevivência em vacas leiteiras que não estão em lactação ou em novilhas de corte (Garcia-Bojalil et al., 1994; Gath et al., 1999; Kenny et al., 2002).

Considerando a acentuada diferença no balanço energético dos bovinos em lactação e não em lactação destes estudos, os efeitos da dieta rica em proteína nas vacas em lactação podem exacerbar processos metabólicos ou mediados por hormônios, que resultariam em um comprometimento do desenvolvimento embrionário. De fato, o aumento das perdas embrionárias foi relatado em novilhas arraçoadas com dieta com restrição de energia, contendo altos níveis de proteína degradável e resultando em PUN elevado (Elrod e Butler, 1993).

Nas vacas em lactação, durante o início do período após o parto (40 a 60 dias necessários para o desenvolvimento folicular) o BEN pode exercer efeitos residuais que comprometem a saúde dos ovócitos durante o período de monta (Britt, 1991; Lucy et al., 1992; Sartori et al., 2002). Além disso, algum aspecto do metabolismo da proteína (uréia ou amônia) poderia comprometer ainda mais o desenvolvimento embrionário bem sucedido.

As pesquisas adicionais sobre as interações entre BEN e o metabolismo da proteína da dieta, que podem ter impacto sobre os processos do desenvolvimento embrionário, devem ajudar a entender a baixa fertilidade de vacas leiteiras de alta produção. É interessante que níveis plasmáticos de progesterona mais elevados melhoram alguns dos efeitos adversos de PUN sobre a fertilidade após a IA em vacas leiteiras (Butler, 2001). Esta observação está de acordo com a idéia de que efeitos carry-over prejudiciais de BEN para níveis plasmáticos menores de progesterona podem aumentar a sensibilidade do útero frente à uréia.

Estratégias de arraçoamento relacionadas com a proteína da dieta e fertilidade

Quando as dietas pré-parto contêm níveis mais elevados de proteína do que o recomendado pelo NRC há, em geral, uma melhora no condição metabólica das vacas. Este tipo de resposta deveria ser benéfico para a atividade ovariana no início do período pós-parto e a fertilidade subseqüente. O uso de dietas contendo 14-16% de proteína bruta parece ser mais efetivo na manutenção ou no aumento da ingestão de matéria seca (IMS) no período pré-parto (VandeHaar et al., 1999; Phillips et al., 2003).

Considerando os efeitos carry-over sobre a IMS no pós-parto e o reduzido acúmulo de triglicérides pelo fígado, o uso de dietas com densidade energética mais alta (1,6-1,65 Mcal NEL/kg) no pré-parto parece mais importante do que altas porcentagens de proteína bruta (VandeHaar et al., 1999; Doepel et al., 2002). Pode ser que este seja o caso, uma vez que o conhecimento sobre as necessidades de aminoácidos, particularmente as cadeias ramificadas, sob uma variedade de consumo de nutrientes ainda é inadequado.

A nutrição de vacas de alta produção para sustentar o pico da lactação exige dietas ricas em proteína. Como continua difícil prever os balanços de aminoácidos específicos com base na composição da dieta, as dietas serão necessariamente formuladas com um certo excesso de proteína total. A cuidadosa formulação de dietas de acordo com as diretrizes do NRC para PDR e PNDR, assim como a densidade energética, entretanto, deve minimizar as concentrações de uréia e amônia no ovário e no útero para reduzir os efeitos negativos sobre a fertilidade.

Resumo

Como um todo, as interações da nutrição sobre o desempenho reprodutivo de bovinos leiteiros envolvem os componentes mais importantes da dieta, energia e proteína, e sua adequacidade em relação às necessidades para a produção de leite. O declínio observado na fertilidade pode ser atribuído aos efeitos combinados de um ambiente uterino que é dependente de progesterona, mas que se torna sub-ótimo para o desenvolvimento embrionário por efeitos anteriores do balanço energético negativo e pode ser comprometido ainda mais pelos efeitos da uréia ou amônia, resultante do consumo da dieta rica em proteína.

RICARDA MARIA DOS SANTOS

Professora da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia.
Médica veterinária formada pela FMVZ-UNESP de Botucatu em 1995, com doutorado em Medicina Veterinária pela FCAV-UNESP de Jaboticabal em 2005.

JOSÉ LUIZ MORAES VASCONCELOS

Médico Veterinário e professor da FMVZ/UNESP, campus de Botucatu

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RICARDA MARIA DOS SANTOS

UBERLÂNDIA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 03/11/2008

Prezado Nemuel de Aguiar Brito,
Muito obrigada!
Os pesquisadores que mais tem trabalho neste campo são:
R. Butler
P. C. Garnsworthy
R. Webb
Procure pelos artigos deles, se você não conseguir achar, me mande um e mail (ricasantos@yahoo.com).


NEMUEL DE AGUIAR BRITO

MORRINHOS - GOIÁS

EM 30/10/2008

Olá gostaria de parabenizá-los pelo brilhante artigo, sou concluinte do curso de medicina veterinária da UFG, estou trabalhando com produção de embriões in vitro e escrevendo meu trabalho de conclusão de curso com o seguinte tema: "supernutrição e qualidade de oócitos e embriões", quero abordar principalmente os efeitos de uma super alimentação com proteína, carboidratos e gorduras como causadores de uma baixa qualidade dos oócitos e embriões, já que tenho abservado isso em vacas de alta produção e mesmo em animais de elite super alimentados.

Este artigo está me ajudando bastante, é difícil encontrar material sobre este tema, se tiverem algum material que pudesse me ajudar ficarei extremamente grato. Desde já muito obrigado e parabéns pelos trabalhos, por este e por outros que também tenho lido.
RICARDA MARIA DOS SANTOS

UBERLÂNDIA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 10/09/2008

Prezado Jorge Schafhäuser Jr.,
Muito obrigada pela participação.
Vou enviar as referências para o seu e-mail.
Até mais,
Ricarda.
JORGE SCHAFHÄUSER JR.

PELOTAS - RIO GRANDE DO SUL - PESQUISA/ENSINO

EM 10/09/2008

Aos autores,
Parabenizo-os pela interessante matéria. Gostaria de receber, se possível, a citação completa das referências citadas no texto, para ler um pouco mais sobre o assunto. Desde já agradeço.
Jorge.
RICARDA MARIA DOS SANTOS

UBERLÂNDIA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 01/09/2008

Prezado Enilson Geraldo,
Obrigada pela participação!
É isso mesmo o aumento do nitrogênio uréico plasmático reduz o pH uterino.
Vou te enviar por e-mail um gráfico que mostra essa relação.
Até mais,
Ricarda.
ENILSON GERALDO RIBIERO

MOCOCA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 29/08/2008

Aos Autores,

Parabéns pelo importante artigo. Eu sou zootecnista(DSc em Nutrição) e pesquisador científico da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios e venho seguindo esta linha de raciocinio a tempos, sempre trabalhando com dietas ricas em energia e um menor teor proteico, principalmente de PDR.

Eu seguia a mesma linha de raciocinio, só que ao ler este artigo e ocorreu uma dúvida, eu achava que a uréia iria elevar o pH uterino e não abaixar, eu não entendi bem esta parte, será que poderiam me elucidar melhor?

Certo da atenção, agradeço.
Enilson
RICARDA MARIA DOS SANTOS

UBERLÂNDIA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 28/08/2008

Prezado Marcos Tadeu,
Muito obrigada pela participação!

Procurei informação com o Alexandre Pedroso, que escreve no radar nutrição, para responder sua pergunta.
Segundo ele é realmente difícil conseguir esses valores (PDR e PNDR). O melhor que temos são as tabelas do NRC (2001), que está disponível para download no link abaixo.

https://www.nap.edu/catalog.php?record_id=9825

Esse link leva para a página de compra da publicação, mas há um botão azul "SIGN IN" que leva para uma página onde você preenche um pequeno cadastro e pode fazer o download gratuito do NRC.
Espero que esta informação te ajude.

Ricarda.
MARCOS TADEU COSMO

SALES - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 26/08/2008

Ricarda e José Luiz,

Obrigado pela instigante e informativa materia. Ela comprova a complexidade dos animais leiteiros. Minha propriedade é assistida pelos veterinarios da Cati da minha cidade. Usamos a planilha de arraçoamento baseada no NRC. Porém, venho me debatendo utlimamente em buscar o balancemento mais refinado quanto aos teores de PDR e PNDR, visando mais eficiencia das proteinas fornecidas e diminuir o possível nitrogenio ureico do leite e da urina. Agora, descubro pela sua materia que existe ainda mais um fator negativo.

Ocorre porem que não tenho tido sucesso em obter as informações sobre o conteudo de PDR e PNDR para qualquer dos ingredientes basicos da dieta. Onde posso conseguir tais informações para ajudar meus parceiros da Cati a me ajudar na formulação mais balanceada em proteinas?

Grato e estou no aguardo também de suas proximas materias.

Marcos Tadeu Cosmo

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